A Minha Sanzala

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5 de outubro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XXVI

Mas a verdade é que eu não estou a conseguir, há uma dificuldade infinita para manter a minha mente no lugar onde me encontro, ela se vai e eu acho que já não estou nem aqui, nem em lugar nenhum.
Sei que se alguém encontrar a garrafa cor de âmbar com a mensagem escrita em papel amarelado, num destino qualquer que não aquele que eu desejei que fosse, vai inicialmente pensar encontrar uma mensagem de humor, piadas infames, filosofia de álcool mil vezes bebido, brincadeira de crianças num mundo remoto. Depois lerá com atenção. Relerá quantas as vezes necessárias para decifrar o amor que ela contém, o arrependimento nela estampado e tantas vezes repetido.
Aliás, não sei se entenderão a verdade e o porquê da mensagem caligrafada num papel amarelado. O mundo cobra muita seriedade e não há maneira de suportar a pressão caótica da sociedade sem momentos de abstracção. Escrever-te é abstrair. Além do que, o amor é o sentimento mais lendário e abstracto que existe e foi apreciado por vários génios da humanidade, nas suas mais diversas formas de ser descrito. Comigo, no entanto, não é assim. Este amor, além de lendário tem sido uma coroa de espinhos tatuada dentro de mim. Ando cansado, angustiado, confuso, tenso. Motivos não me faltam, tanto que não cabe aqui, neste papel pardo, enumerá-los. Estou cansado da minha barba rigorosamente bem feita, do meu rosto limpo, dos meus dentes brilhantes, das minhas unhas cortadas, das minhas roupas passadas, dos meus curtos cabelos penteados, de mim. Tenho-me achado insuportavelmente pasteurizado, ridiculamente burguês, incrivelmente repugnante e, sobretudo, extremamente solitário! Eu queria viver plenamente a vida e gozar cada momento! Queira o Zulmarinho que isso seja possível.
Encontro-me como que rodeado do vazio da tua ausência. Falta-me sentir-te toda à minha volta como que sendo parte integrante de mim.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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