A Minha Sanzala

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13 de outubro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XXXI

Os meus problemas existenciais são insuportáveis só por si e tu ainda os tornaste mais letais ao penetrares-me na alma, em te abcedares dentro de mim, corroendo-me e toldando-me as formas simples de pensar em que eu era rei e senhor.
Neste momento, exacto segundo em que escrevo no papel pardo ou num canto do meu cérebro o que me vai na alma, apetecia deixar-me repousar para sempre com os olhos postos para lá desse azul do Zulmarinho, na tórrida paisagem tropical, de beleza fatal, de imensurável solidão, porém sustentável pela capacidade de sonhar contigo, sentir o teu perfume e poder tocar-te.Nesta minha prisão pessoal recuso-me a olhar como eu te olhei, confiar como confiei, desapontar-me como me desapontei, desapontar-te como te desapontei e a chorar de novo. Recuso-me a mais uma vez ter que optar. Deito-me no leito do abismo profundo, adormeço nos braços eternos do silêncio mórbido e digo adeus aos fantasmas, aos homens maus, monstros e demais figuras assustadores que têm povoado o meu pensamento na vã tentativa de me fazerem um ser infeliz. A minha alma alcançará agora a lua, que apesar de sozinha, é a rainha absoluta da noite, iluminando o caminho dos solitários, inspirando românticos e sonhadores, sendo testemunha de amores, confidente das horas boas e más, inabalável, austera, inalcançável.A lua leva-me na neblina da noite, faz-me andar, remete-me para longe sem hesitar e para sempre, como nos sonhos em que te sonhei amar. Leva-me, não por ser diferente ou especial, mas talvez seja pela minha tristeza apaixonante fora do normal. Quero que ela me leve para longe daqui, sem chapéu sobre a cabeça, sem roupa e descalço, apenas livre para te rodear, voando ao sabor do vento até conseguir chegar sem me cansar, sem pausas, até ao mais distante sonho, à mais improvável aspiração, deixando muito para trás toda e qualquer decepção. Apenas recomeço. Apenas um novo principio desta aventura de paixão ardente.A lua, com a sua luz, apaga a minha mente e mente-me, faz-me acreditar num mundo novo, limpo e agradável, sem pessoas verdes, fechadas, mortas em vida e venenosas, transportando-me até ti, reacendendo a esperança, fazendo-me sonhar os sonhos apagados, fazendo-me escrever no teu corpo as frases que não te disse, desenhar a minha alma como as fases em que enche a sua face.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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