A Minha Sanzala

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9 de março de 2006

Uma estória verdadeira (68)


O carro arranca com destino no Namibe escrito no livro de bordo que não existe mas faz de conta. Lá segue ele até no palácio, se dirige na Senhora do Monte que é sempre a direito e ligeiramente a subir. Quando eu era mais novo pensava que era longe e agora tudo me parece ser assim tão perto. Mas o Tico lá vai lentamente. Parece ele também não tem vontade de sair de onde está. Se pára para uma última foto numa placa onde se lê que o álcool é inimigo dos automóveis. Tantas vezes adiada a foto que é desta mesmo que se lhe vai tirar o retrato. Também parece que todo o conjunto, de Tico e da gente misturado, está com vontade mesmo de abalar daqui que nem pedra do seu sítio. Se passa frente ao Casino e mais fotos. Repetidas? Se calhar mas a disposição agora era outra. Agora era mesmo como que a querer agarrar a qualquer coisa e dizer daqui não saio daqui ninguém me tira. Se a SISTEC tivesse inventado um Vontadómetro de certo ele daria um resultado igual a zero. Mais coisa menos coisa. Se sobe e se volta a parar no miradouro. Um último olhar por agora na cidade onde tive o privilégio de ter nascido. Se arranca. Antes da Humpata mais uma paragem para olhar o futuro mais uma vez. Tem de ser aqui e está decidido e não se fala mais no assunto que agora estamos de férias e no Namibe é mesmo para curtir o sol e as pedras que lhes conheço de cor. Tico sem vontade de andar lá segue até na descida da Leba, onde se paga a portagem e depois se vira outra vez para a esquerda para dar uma olhada desde a frente e ver esta maravilha da engenharia que foi toda reconstruída não faz um ano. Pópilas que é mesmo um espanto. O Engenheiro e o Arquitecto estiveram mesmo bem aqui. Foi um trabalho conjunto que alegra qualquer alma, mesmo uma penada ou empenada. Mais umas quantas não sei fotos a memorizar este momento de beleza e crepitação na alma, bebendo a última birra NGola ainda bem geladinha. Depois lá lembro, tristemente, que a gente tem de arrancar que hoje é dia 1 e amanhã é dia 2 e eu tenho de estar lá. Tenho encontro marcado há 29 anos e não posso perder. Marcado com tanta antecedência que ficava mal comigo mesmo se eu faltasse. 29 anos! Mesmo sendo a descer o Tico lá ia no seu passo de caracol em dia de sol. Eu sei que culpa não era dele. Vais ver ele tem alma e o pedal do acelerador está como que perro e não dá para carregar mais. Filmo toda a serra, todos os centímetros ficam registados na fita. Espero que a câmara não empeere ela agora. É uma maravilha. Um fio de água que corre, uma sombra desenhando no penhasco uma imagem surrealista. Qualquer coisa de fantástico me liga a esta paragem. A velocidade do Tico é quase como que parado. Ele também está a contemplar. Acabada a descida o Tico retoma a velocidade normal, até que pára assim outra vez. Desta vez é para admirar e comprar os Cogumelos e gindungo da Leba. Imperdíveis. Se retoma a marcha. Se reduz quando se vislumbra aquele que nos iria perseguir por um bom par de quilómetros: o Morro Maluco. Se vai registando nas máquinas os vários ângulos. Um jeep com pneu feito num buraco pede ajuda. A gente pára a dá uma mão que é como quem diz, empresta a máquina sopradora para encher o suplente que também não deve fazer muitos mais quilómetros não. Mas não há outra forma de resolver ali o problema e eles quando chegarem lá na cidade do planalto que se desenrasquem.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

3 comentários:

  1. LEBA NOSSA

    Na altiva e altaneira Leba,
    no seu total esplendor,
    em que da Natureza o fulgor
    permitiu um certo talento,
    lado a lado, serra subindo,
    marcasse a terra, eternizado.

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  2. Conterra
    Finalmente já chove no Lubango depois de 2 meses sem ela!!! Estavamos a entrar em crise séria!!
    Choveu toda noite!! Janela de quarto aberta deixa entrar o som de chuvinha de batida certa, fazendo pensar se não tem maestro na orquesta que até faz de lata deixada no quintal um novo instrumento na harmonia ...
    A manhã despertou cinzenta, relaxada na despreocupação da falta de água, e o cheirinho de terra e folhas molhadas convida a um dia de tranquilidade e paz...
    Temos mesmo que agradecer mais este dia!
    (assim estamos a convidar-te para re-voltares ...tazaver né?)
    Abraço
    Armanda

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  3. "Temos mesmo que agradecer mais este dia!
    (assim estamos a convidar-te para re-voltares ...tazaver né?)"

    se tu sabes que eu não queria nem sair, imaginas a vontade que tenho em re-voltar

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