A Minha Sanzala

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10 de março de 2006

Uma estória verdadeira (69)



Lá fomos nós numa viagem que se tornou rápida. Abrandamentos só para fotografar os vários ângulos possíveis do Morro Maluco que me deixa doido de tanta perseguição e sem sair do mesmo lugar. Caraculo. Era ponto de paragem mas devido ao passar corrente dos minutos se optou mesmo por ver de longe e assim fiquei sem saber se as minhas ovelhas ainda lá estão com o seu pelo encarapinhado. Minhas porque me divertia a vê-las a correr noutras eras em que ainda não protestava com o matar dos bichos para proteger os costados de umas quantas poucas elites. Mas a verdade é que cresci e se calhar agora não ia ficar lá muito contente em ver as carapinhas negras a correr de um lado para outro e saber que alguns primos dessas aí já estavam noutros costados. Assim foi melhor e só de longe vi as casas típicas que nunca ninguém me explicou porque aram assim e não de outra forma. Se calhar porque nunca perguntei a ninguém. Mas a verdade é que na altura estava pouco ligado a essas coisas de cota. Eu era mais garinas e mini-saias e coisas assim como o santo sacrifício da saída da missa. Tas a ver? Yah!
Dali ao Giraul foi um pulo. Ou será que adormeci? Não que estes olhos estão sempre bem que abertos que não pode escapar nada que mereça ser visto. Agora resolveram chamar isto de mini-Leba? Mapundeiros são doidos. É o Giraul e mais nada. Que susto. Saídos de uma curva desce a 0 quilómetros por hora um camião e lá teve o Tico que fazer uma travagem assim num repente que até quase fui limpar o pára-brisas por dentro com os meus cabelos cinzentos. Traço contínuo assim num repente passou a descontínuo e lá se ultrapassou o camião sem haver azares pelo meio. Giro foi que logo o traço passou a continuo outra vez. Milagre gritei eu. Gargalharam os outros e lá fomos directos à ponte nova com os seus candeeiros de luz solar. Gira ponte que nem vos conto. Se vê ao lado a passadeira de antigamente, no leito do rio seco. Ainda não é Março para ele mostrar a sua vida. Segue viagem que a hora se põe tarde e não tem combinação de recepção na chegada e ainda vamos dormir a ver miragens na praia da dita cuja. Hortas. Saudade. Me apetece imitar a Cesária Évora mas logo sou proibido. Ninguém quer ficar sem tímpanos e sem vidros na viatura. Triangulação mostra, ao lado das oliveiras que dão azeitonas assim do tamanho de tangerinas – esta é para brincar com uma loira do deserto que diz que ali são as maiores azeitonas da face da terra. Vais ver ela viu um fruto de imbondeiro e lhe disseram que era da oliveira. Com esta fiquei a rir no pensamento até que chegados na referida triangulação e para a direita se vai para o Saco e na esquerda para a cidade do mar e do deserto. Se vai logo na esquerda. Dá tempo para olhar a Kipola e ver que ela continua no seu sítio. Porque é que havia mesmo procissão uma vez por ano lá no meio das hortas? Se alguma vez soube esqueci e não me lembro mais. Tas a ver só a quantidade de dúvidas que já tenho e ainda não entrei na referida miragem da minha cidade. Aguada. Era assim chamada porque era do rio Bero que se tirava a água para os vapores. Me dizia a minha avó e eu acredito porque ela não era pessoa de enganar o neto sedento de saberes. Fizeram ponte nova no rio. A velha, a do comboio agora é mesmo só para o comboio. As margens do rio estão a ser regularizadas para quando houver as enchentes não fazer aquilo que o Bero adorava fazer – devastar tudo na sua passagem. Mas chegado na Aguada se vê que a Sofrio e posto de transformação de electricidade que vem da Matala ainda estão ao que me pareceu funcionais e para as curvas.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

3 comentários:

  1. Continuo a viajar nos textos e nas fotos. O livro, Tabanka, está a ser previsto para Novembro. Parece que já há subsídio. E as Estórias estão onde? Força, companheiro. Estamos juntos!

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  2. Foi a Bia Baudaud quem começou e parece que vai ser divertido, se a corrente prosseguir:

    "Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."ESTÁ CONVIDADO A CONTAR-NOS 5 MANIAS!

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  3. espero cumprir, espero não falhar, espero manter sempre o equilíbrio instavel da paixão e saudade, num vice-versa permanente.

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recomeça o futuro sem esquecer o passado