A Minha Sanzala

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20 de março de 2006

Uma estória verdadeira (75)

Amiga Té a nos pôr a par de tudo. Falámos que ninguém sentiu nem a barriga a dizer que as horas tinham passado e era hora de ir almoçar. Voltámos e fomos ver as casas, o cinema cogumelo, o Hospital, a Escola Industrial, o Colégio das Madres, a escola 55 e saltei de propósito a 56 que foi onde andei da 2ª à 4ª classe. Saltei porque me apeteceu e a máquina estava sem bateria. Porque tem de falhar sempre alguma coisa nos momentos importantes? Na 55 andei só na primeira classe e depois a senhora directora se lembrou de dizer que eu fazia parte da área da outra e lá tive que mudar e deixar o Professor Amaral que dava reguadas e era grande como vara de caniço. Feita a ronda escolar deixámos a Té e a sua melancia na casa dela e lá fomos nós para outras paragens. Como o único sítio que a gente conhecia era o restaurante da Praia das Miragens optámos por lá ir almoçar. Nós os três nos abancámos e pedimos as coisas e comemos fazendo planos para essa tarde e dias seguintes que não seriam muitos. Entrou a tia e mais a sua família. Como minha prima cresceu…já tem filho na marinha e filha ainda com os dez anos. É a filha quem comanda agora os negócios. Bem comidos e lá íamos nós com outro destino quando descobrimos que a tia tinha pago o nosso almoço. Não havia necessidade. Depois dos agradecimentos lá seguimos a nossa rota.
Esta tarde estava destinada a fazer-se uma visita ao sítio onde o kota caiu por terra nos idos anos de 1961. Apanhámos a estrada doe Tombua e lá fomos. Estrada boa em grande parte do percurso. Lan estava connosco e era o nosso guia. Mais ou menos no quilómetro 65 parámos e lá estava o marco que marcava o local. Quando fizeram o realcatroamento da estrada fizeram uma coluna maior e lá estava ele bem visível. Parámos e eu fiquei ali parado. Eu sei o que pensava mas não conseguia nem mexer, não conseguia segurar as lágrimas que voltaram a inundar a minha cara que até parecia tempo de chuva. Incontrolável! Reflecti. As decisões se estavam assim como num equilíbrio na corda do pensamento se fixaram na solidez de uma decisão. Estava decido qual o rumo definitivo que a minha vida vai ter. Ali no meio do deserto, ali na aridez de um horizonte de perder de vista, escrevi com tinta permanente no meu pensamento a decisão decidida. Já não tem retorno. Falámos, conversámos ali junto ao marco que marca o sítio onde houve dois falecimentos.
No mesmo dia dois períodos de grande reflexão. No dia de finados se acendeu a luz de uma forma permanente. Essa luz andava a oscilar qual falta de intensidade. Se fixou e por isso a rota no GPS da vida foi marcada não em quilómetros mas em meses que não podem ser mais que 24. Assinatura reconhecida na forma presencial por mais três ávilos. Lan com sorriso nos lábios disse que sim. Lhe vi uma alegria no rosto. Ou pensei que vi. No meu estava estampada a felicidade de ter desfeito a indecisão.


Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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