A Minha Sanzala

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12 de maio de 2006

Pensar à beira-mar


Caminho ao longo da praia. Uma vez o zulmarinho está na minha esquerda. Na volta ele está à direita. Verdade verdadeira de La Palisse. E como ele já deveria ter pensado nisso eu mudei agulha na bússula do pensamento e rumei noutra direcção assistida pela minha capacidade de inverter a marcha num recuo a coisas positivas ou impensáveis, pensando eu. A maresia me entra nas narinas largas e penetram fundo e me pergunto se alguém já parou para pensar porque é que eu sou eu e não outra pessoa? Olho na areia e vejo muitos corpos lagartando ao sol e como eu tenho que vos contar estórias verdadeiras mesmo que não sejam reais eu me olho nelas e desato a pensar. Porque é que eu sou este, o que está aqui neste corpo que me transporta ao longo da beira-mar, e não aquele lá, ou aquele outro ali que estão ali estirados a fazer coisa nenhuma? Olha ali aquele deitado com uma estampa ao lado e eu aqui a te contar coisas que me passam na cabeça. Será mesmo que eu estou realmente aqui ou outra pessoa está a fazer exactamente isto que eu estou a fazer e eu penso que sou eu?
A partir daqui surgem outras questões como: o que será que aquela pessoa está a pensar neste momento mais exacto em que eu tento lhe adivinhar? Para onde irão aquelas pessoas que se dirigem para longe do zulmarinho?Eu conheço pessoas que moram longe de mim (a internet tem dessas coisas), nunca as vi pessoalmente e, às vezes, sem mais nem menos, pego-me a pensar no que será que fulaninho de tal está a fazer neste segundo.Pessoas diferentes, cabeças diferentes. Cada mente é uma realidade, cada individuo é um mundo e ao mesmo tempo não é nada comparado à imensidão de tudo que nos cerca. Olha só esse zulmarinho que é o mesmo que está lá e está aqui e a gente, sem ser na força do sonho, demora horas a lhe percorrer. A gente nunca vai saber com certeza absoluta se a vida de sicrano é melhor ou pior que a nossa. Cada vida em si é única e por mais que tenhamos outras encarnações para viver, esta aqui não pode ser desperdiçada. Eu sou eu mesmo. Pelo menos eu penso que eu sou eu e não outro a pensar que sou eu. E sou eu que tenho que fazer as minhas próprias escolhas. Mas tudo poderia ser mais fácil, é verdade, se as escolhas apenas deixassem consequências para quem as fez.
E como é que saiu tanta asneira e tanta confusão de dentro de uma cabeça só?
Acho mesmo esse sol anda a fazer que nem mais mal que bem na minha pobre cabeça.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos

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