A Minha Sanzala

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1 de junho de 2006

Sempre o Tempo porque há Tempo


Continuo à beira-mar. Olho nos olhos o zulmarinho, deserto de água que se estende para lá da minha vista cansada, dunas se modificando em ondas, ondulação de capim ao vento depois de uma chuvada. Eu sei que é imaginação. Eu sei que no zulmarinho não nasce capim, mesmo que lhe chova dias seguidos. Zulmarinho é um deserto diferente, um deserto de água e não como o deserto dourado que me trás saudade de sentir a sua areia fina escorrendo pelos dedos e me pica nas pernas como alfinetes nos dias de vento. Água ondulada nas arritmias marcadas pelo Tempo. Faz bom Tempo. Tenho Tempo. É-lhe um tempo intemporal que se despercebe que passa e como lhe está. Ele, o zulmarinho, está ali. Separa-me do perfume e do calor dela que está para lá da linha recta que é curva. A última fronteira. Segredos o zulmarinho tem aos montes. Desde a origem das suas gotas que imitam as minhas lágrimas, até que no interior dele esconde magias, sonhos e vidas.
Hoje não caminho. Hoje me sento só para lhe olhar e deixar-me sair do corpo e navegar-lhe por dentro no escafandro da imaginação.
Quem dorme com ele na noite? Mistério, segredo guardado nas sete chaves. Quem guarda essa quantidade enorme de mar durante a noite?
Sentado, num vaivém de solidão, ouço o meu silêncio que fala com as vozes das ondas se espraiando nesta areia onde agora me sento, com a sua voz móvel que estala ao longo da praia, como pianista que percorre com os seus dedos todas as teclas dum piano, ele me perturba na razão de não conseguir caminhar sobre ele. Que farei quando, deitado, noite escura, longe do marulhar, fitando o espaço vazio que me torna uma ilha de mim? Grito-lhe no espaço fintado como que eu esteja a dormir a seu lado? Gritar? Quem poderá salvar-me de dentro de mim? Mas eu sei que tenho de esperar-me, pé ante pé, conseguir-lhe caminhar como numa ponte até ao fim, que será no início desse zulmarinho que me espreita e salpica numa atitude provocadora.
Caminhar?! Não me custa nada! Mas estes mini passos que dou vão encurtando a estrada que parece ainda nem começou. Eu sei que a ansiedade faz parar o tempo. Sempre o tempo porque há tempo!
Sempre há alguma coisa parecida com o tempo. Sensação repetitiva que parece tem sempre a mesma cadência e chega sempre da mesma forma. Se fecho os olhos por alguns instantes e me concentro dentro de mim, ao abri-los noto que o tempo passou porque percebo os meus sonhos que quase me matam de serem sonhados, que quase se explodem na forma de borbulhas se não são recapitulados. Sigo por dentro deste final de zulmarinho, apoiado na rotação invariável do tempo. Busco uma saída deste labirinto em que me meti, neste labirinto que não é mais que nem eu dentro de mim a me olhar para fora e esperar.
A vida segue o seu ritmo, o seu tempo e eu sigo-me no meu silêncio.

Sanzalando

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