A Minha Sanzala

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18 de dezembro de 2006

24 - Estórias no Sofá - Era uma vez…

Era uma vez uma ilha habitada por tudo o que era sentimento. Não falhava nem um, ali naquela ilha rodeado por mar a toda a volta, como são todas as ilhas dos oceanos. A Alegria, a Tristeza, o Amor e todos os outros sentimentos ali moravam.
Um dia, como em todas as estórias há um dia, começou a circular num boca a boca, que a ilha estava prestes a ir ao fundo.
Um a um, os sentimentos se apressaram a sair da ilha. Meteram-se nos barcos os que tinham barcos, nos aviões os que aviões tinham. Certo certo é que cada um lá ia deixando a ilha cada vez mais pobre de sentimentos.
O Amor era o único que ali permanecia. Queria permanecer todo o tempo que lhe fosse possível com a sua amada ilha. Neste seu apego à ilha não reparou que a água subia e já cobria quase toda a ilha. O seu afogamento estava eminente. Começou a pedir ajuda, pois não tinha barco nem tinha avião, para ele só existia a ilha.
Avistou o barco da Luxúria e lhe gritou por ajuda. Esta lhe respondeu:
- Não posso ajudar-te. O meu barco está super carregado com ouro e jóias, não tenho lugar para ti.
Agarrado à sua amada ilha o Amor pediu ajuda à Vaidade.
- Não te posso ajudar, pois estás encharcado e ias-me estragar este belo helicóptero novo.
Já quase todo coberto de água, o Amor se dirigiu à Tristeza:
- Leva-me contigo, por favor.
Ao que a Tristeza respondeu:
- Infelizmente não posso. Estou tão triste que prefiro estar só.
Ali perto o Amor vê a barcaça da Alegria numa enorme festança:
O Amor gritava a todo o pulmão:
- Socorrooooooooooo
A Alegria nem para trás olhou, pois com toda aquela algazarra não lhe podia ouvir.
Desesperado, o Amor começou a chorar. As suas lágrimas mal saídas dos olhos se misturavam com as águas daquele mar. O fim do Amor estava próximo.
-. Vem, Amor, eu te levo.
O Amor olhou e viu um velho, muito velho mesmo. Nem lhe perguntou o nome. Subiu para o barco que lhe socorria e com lágrimas nos olhos se despediu da sua amada ilha.
Em terra firme, o Amor perguntou à Sabedoria quem teria sido o velho muito velho que lhe dera a mão quando já tinha perdido a esperança?
- Era o Tempo - respondeu-lhe a Sabedoria.
- Porque só o Tempo me ajudou, Sabedoria?
- Porque só o tempo é capaz de compreender e ajudar o Amor!

Sanzalando

1 comentário:

  1. Talvez nem precisamos de ouvir e de contar. Precisamos de aprender a poesia e prosa deste mundo.
    Era uma vez...
    Adorei
    Beijos

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