A Minha Sanzala

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14 de dezembro de 2006

Saudade

Devo ter feito algo de muito grave, para sentir tanta saudade assim...
Entalar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um chapada, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater com a cabeça na esquina da mesa, dói morder a língua, dói uma cólica, um dente e uma pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem estas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorosa é a saudade do que se ama.
Saudade.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Podes ficar o dia sem vê-la, sem ela te ver, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro não sobra mais que uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como parar as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber do que se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isto que eu estive a sentir enquanto escrevia e o que você provavelmente estará a sentir depois de acabar de ler.

Sanzalando

2 comentários:

  1. Dói e como dói!!!!Cá dentro mesmo!
    Saudade desconfigurada, desmedida, incómoda... mas receosa também, o que acaba por preocupar ainda mais, e redobrar a dita.
    SJB

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  2. Saudade é cada minuto da minha existência ... É saber que no futuro não cabe o passado!
    Mais um LINDO texto ... que BEM que escreve ... obrigada por partilhar com todos nós!

    Deixo um beijinho

    NC

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recomeça o futuro sem esquecer o passado