A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de dezembro de 2007

último



Aqui sentado verifico que a maioria das pessoas deste mundo espera que se cumpram os seus sonhos. Os outros, com os seus sonhos já cumpridos, continuam à espera.






Me enamorei sem me dar conta, sem aviso e sem razão.

Não, não tiveste culpa. Nem eu.

Nem sei porque palavras foi, nem quando.

Quantos amanheceres te faltaram, quantas luas de silêncio e noites de sono te roubei?

Enamorei-me e foi ponto final.

Quando voltarei a não sentior dor?

Só quando te arrancarem do meu corpo.


Sanzalando

GLOBALIZAÇÃO



30 de dezembro de 2007

penúltimo

Me sento aqui e penso que a vida é como uma escada. Se olho para cima vejo que sou o último da fila, mas se olho para baixo consigo ver que há quem gostaria de estar no meu lugar.



Sanzalando

GLOBALIZAÇÃO



28 de dezembro de 2007

sonhos

Me sento aqui e recordo que eu hoje sonhei contigo. É, como se fosse possível eu não sonhar contigo. Estávamos juntos, os meus olhos percorriam-te suavemente num sem princípio nem fim. Te acariciava com os olhos, simplesmente. Eu te olhava e sentia que era abraçado por ti, beijado pelo teu perfume e afagado na tua respiração. Procurei os teus olhos e eles estavam despistados em mim num jogo de palavras cruzadas em silêncios. Senti a tua humidade fazer-me transpirar numa ansiedade que me invade.
Ainda não acordei porque não quero deixar de ter este sonho.


Sanzalando

GLOBALIZAÇÃO



27 de dezembro de 2007

um dia depois do outro

Aqui estou gastando um pouco mais este muro de recordações e sentimentos, verificando que a mente é um poço sem fundo em que se vão acumulando os pensamentos de uma forma ininterrupta, sendo que a maioria deles são um gasto inútil de energia porque não levam a parte alguma. São resíduos tóxicos de nós que por algum motivo desconseguimos deitar definitivamente fora.
Às vezes seria bom ter consciência do que pensamos para podermos construir os nossos sonhos mais realizáveis. É assim mais ou menos como caminhar sem destino, subir para não baixar, pensar sem pensar.
È assim… um dia depois do outro.
Sanzalando

GLOBALIZAÇÃO


26 de dezembro de 2007

um dos medos

Caminho por entre palavras e silêncios sentado neste muro de recordações e memórias tentando encontrar-me, reconhecer-me e entender-me.
Tu, que te trago sempre comigo, que me escondes os passos da ilusão e me iluminas na sólida ideia de caminhar por uma rede de sonhos e magia, sepultar-me-ás nas lágrimas dum barco de condenados ou levar-me-ás a bom porto?
Já sei que me vais segredar que a resposta ver-se-á mais à frente. E eu com medo de não consegui chegar a esse mais à frente…

Sanzalando

GLOBALIZAÇÃO



Sanzalando

25 de dezembro de 2007

33 - Estórias no Sofá - te conto do Natal

Frio. Frio é mesmo mais que muito. Pela primeira vez na sua longa vida, Orfaneto, nome que não é dele mas só lhe resta agora esse porque os outros ele esqueceu faz muito tempo por falta de uso, decidiu passar o Natal na Aldeia. Não foi na Aldeia dele que ele é homem de cidade, mas que por ajuntamento lhe foi emprestada. Mais de metade da sua vida o Natal foi passado sob calor tropical, outra parte se podia dizer que sob temperatura sub-tropical que não era menos de 10 º C. Mas este ano ele decidiu que, Natal como sempre tinha aprendido, era com frio mesmo. Por azar dele não nevou nem está previsto nevar. Ainda não é hoje que passa o Natal de neve verdadeira. De diferente mesmo dos outros natais é só o frio que lhe faz doer as carnes, porque os músculos estão em trabalho invisível de lhe aquecer.
Mas ele é homem de palavra por isso ele mostra na cara um sorriso de quem está bem. Uma ou outra tossidela denuncia o frio que sente e tenta disfarçar com actividade de ajudante. Desajeitado por falta de vontade já esteve na cozinha, já arrumou coisas na mesa, já foi às compras de última hora. Não, não lhe apetece ajudar, mas para se aquecer ele faz mesmo o impossível se for possível.
A mesa está composta com fritos, caramelos e outros muitos doces. Hoje é dia do pecado da gula. Todos aguardam o bacalhau que ele teima que não gosta, por isso espera o polvo cozido. Diga-se que ele não é grande apreciador mas nesta quadra ele está pronto para quase todos os sacrifícios, depenicar um pedaço de polvo e enfardar-se nos doces fritos e nos doces que lhe fritam a saúde.
Não é nesta altura que se escondem os defeitos, se disfarçam os feitios, se arrumam num canto os ódios e outras coisas incompatíveis com esta data e se sacrificam orgulhos e comportamentos? Este é um dos sacrifício dele, comer polvo cozido que deseja não esteja assim parecido é chuinga. Outro é responder as mensagens colectivas que lhe enviam como que a lhe dizerem que não se esqueceram dele e lhe desejam tudo de bom e coisas parecidas. Ele manda uma a uma, mesmo que o texto seja igual e diga apenas BOAS FESTAS. Fez com antecedência. Agora é o recebimento das respostas. Uma atrás da outra. Umas simples como a dele, outras rebuscadas num humor que não lhe tiram do sério. Ele quer lá saber se não vai haver Natal porque o Pai Natal morreu a rir quando lhe disseram que ele se tinha portado bem. Olha, ao menos hoje Sicrano se lembrou eu existe, é o máximo dos comentários que ele pode esboçar. Uma ou outra vez toca o telefone. Ri com satisfação e se lhe consegue ver que está mesmo feliz. Dos quatro cantos do planeta lhe ligaram. Tá visto ele gosta do Natal ao vivo e cores. Ele fala e os olhos brilham. Todos os telefonemas lhe fizeram isso. Os esperados e os inesperados.
À meia noite, por impossibilidade da presença do Pai Natal um dos presente ia fazendo assim uma espécie de chamada e entregava o presente. O nome dele não saia. Ups! ele aí está… de rasgão se desembrulha o que ele sabia era um livro.
Se sentou no sofá depois de se embrulhar numa mana grossa, a pele da barriga se esticou em forma de pança depois de desapertar o botão e o cinto, mergulhou nas letras d'O terrorista de Berkeley, Califórnia, e o Natal continuou à volta dele.
Sanzalando

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23 de dezembro de 2007

balanço balancei

Me sento aqui e me revejo nas palavras todas que disse e nas que ficaram por dizer.
Nesta altura do ano é assim como que uma regra se fazer o balanço do ano que está a acabar, mas que eu nem vou fazer pois acredito que esse de 2007 não pode nem ter existido. Foi mais ruim que péssimo que o melhor é mesmo me dizer que ele não contou, que eu estava a brincar e vou começar outra vez em 2008 a vida que interrompi no final de 2006.
Mas mesmo assim te vou dizer que muitas palavras rolaram de cima deste muro, muitas coisas aprendi e que eu hoje sou melhor que nem era antes.
Mas não penses que me vais ouvir dizer que encerrei um ciclo e blá blá de frases batidas. Foi só mesmo uma etapa que eu não terminei de camisola amarela mas tem mais ainda na frente para mostrar.
Mas mesmo assim te vou dizer que é como o fim da leitura dum livro assim marcante, onde as personagens não podem nem devem ser esquecidas, onde há respostas ainda para responder, ideias para clarificar.
Mas mesmo assim anda te vou dizer que como é um capítulo da minha vida eu lhe posso fechar e abrir como me der mais jeito.
Aqui sentado se calhar ainda terei mais palavras para te dizer, mais silêncios para me calar.
Aqui sentado te esperarei. Ou não!

Sanzalando

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Sanzalando

22 de dezembro de 2007

Um Sábado em Dezembro


Como há quem goste de oferecer umas luvas para o tempo frio que chegou...


Como há sempre alguém que gosta de oferecer cuequinhas...
Como há sempre alguém que gosta de oferecer uma T-Shirt...


...eu deixo o recado que nada oferecerei a ninguém. Aliás, aproveito até a oportunidade para informar, que me encontro já disponivel para receber metade daquilo que desejais para vós.



Sanzalando

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Sanzalando

21 de dezembro de 2007

um hoje

Aqui estou sentado sobre o meu constante pensamento sobre ti. È impressionante como a minha vida se empenha em que eu te esteja sempre a recordar. Não, não é minha intenção esquecer-te, porque isso seria esquecer-me um pouco de mim, da minha alma. Eu mesmo só queria não te recordar tanto. Mas todo um conjunto de coisas não me deixa desfazer-me tanto de ti, nos meus sonhos, nos meus pensamentos e na minha viagem fotográfica pela vida. Se não é uma canção, um poema, os amigos e as suas estórias, é a minha estória que me leva para ti.

Aqui sentado me preocupa a forma como o destino maneja a nossa vida. Podes estar agora a pensar que estou louco mas a verdade é que no mais profundo da minha existência me assalta a ideia que as nossas vidas estão ligadas dum modo inexplicável.

Não me consigo esquecer as palavras que já te disse, os versos que te cantei no meu silêncio, o olhar que te troquei quando estávamos frente a frente, os sonhos que sonhamos sem tu saberes.

Hoje me sinto assim como o ramo daquela árvore que te esqueceste de regar, me sinto assim como nem o mar que nos separa e é atirado contra as rochas.

Aqui sentado te digo, assim como a todos os que de passagem vão ouvindo as minhas palavras:

BOM NATAL.


Sanzalando

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Sanzalando

20 de dezembro de 2007

Amor e o segredo

Me sento aqui como me tenho sentado noutros dias, agarrado a recordações e a sonhos, devaneio de palavras e silêncios de respostas. Aqui sentado não me chega o ruído. Nenhum. Aqui tenho a tranquilidade de caminhar por frases feitas e por parágrafos a construir. Aqui sentado vivo o meu sonho sem os espinhos, a hipocrisia, a irresponsabilidade, o medo, a trovoada e a inveja da realidade.
Aqui sentado marco o teu número secreto no meu telemóvel abaixo da gama e ouço o intermitente pi de erro da marcação. Remarco uma e mais vezes. O erro é constante.
Aqui sentado esboço um sorriso enquanto olho o mostrador que me diz erro de marcação.
Com o telefone sem ligação te dirijo palavras em sussurro como se tivesse medo que aqui alguém me escutasse.
Mas afinal de contas porque as palavras de amor devem ser ditas em segredo?
Sanzalando

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Sanzalando

19 de dezembro de 2007

aqui sentado espero

Me sento aqui e vou caminhando por pensamentos e recordações.
A gente passa meia vida a lutar contra a rotina que nos agarra em cada dia da nossa vida. Quando, por um motivo qualquer, o cimento da rotina se altera, a gente parabolicamente tenta lhe por na ordem, antes mesmo de lhe pensar que volta para a nossa aborrecida vida de toda a hora. Acho é medo de ser empurrado para o abismo irremediável da coisa nova.
Me sento por aqui e caminho na minha rotina de desamor e nostalgia, mesmo estando perto do Natal, altura em que toda a gente se empenha em exibir amor à boca cheia, adornados em confetis e hipocrisia.
Assim, aqui sentado sobre pensamentos e recordações, desejo retornar aos meus dias de calma, fantasia.

Sanzalando

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18 de dezembro de 2007

tempo

Aqui sentado no muro das recordações e de Tempo, podia falar do tempo, das analogias e sentimentos, repetir frases célebres, dançar ao vento, construir castelos de nada. Aqui sentado podia dizer palavras abertas, amanheceres românticos inspirados no teu perfume, na tua alegria.
Aqui sentado vejo o pôr-do-sol como uma queimada distante, um poema ao teu nome.
Aqui sentado dou tempo ao Tempo.

Sanzalando

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Sanzalando

17 de dezembro de 2007

Saudade e tristeza

Me sento por aqui e me fico a olhar-te desafiante sem medo dos seres inertes que te circundam. Pudesses tu cravar os teus olhos nos meus e eu tremeria de ousadia e ansiedade.
Me sento aqui neste singular combate de olhares imaginários à espera de um dia poder estar de partida e encher-te de mimos num rebolar de esquecimento de todas as feridas, num sarar de todas as saudades.
Me sento aqui, muro de recordações e futuros, num desabafar de tempos.
Me sento aqui dando volta por caminhos que me levam aos sonhos. Inútil. A tua ausência me enche de vazio de ilusão. O silêncio das minhas palavras é interrompido pelo gritar do coração que incessantemente te pensa e me leva à convulsão nostálgica duma convulsivante vida futura.
Me sento aqui rodeado deste microcosmos que me abraça em saudade, tristeza. Saudade, senhora que me arrefece a alma e isola os sentimentos. Tristeza, senhora de muita idade que me cinzenta a vigília dos dias de sol. Mas são ambas que me mantém acordado e me dão conta do quão difícil é encontrar-te. São elas que me fazem esperar esse impossível. Quando te encontrar estou certo que não me desfarei delas porque sei que elas me farão sentir a luz que não tinha, a alegria que não sentia.
Sanzalando

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16 de dezembro de 2007

sou forte e me revejo

Aqui sentado sou forte porque te amo em silêncio, irradio felicidade mesmo que afogue em in, mantenho a calma mesmo que ferva na raiva, calo angústias quando me apetece é gritar, trago consolo quando preciso de ser consolado.

Aqui sentado revejo que se amar fosse fácil não apreciaria a espera, não repararíamos na magia bela do pôr-do-sol, desapareceriam as saudades e as desventuras não tinham qualquer valor. Enfim, se amar fosse fácil não valeria a pena.



Sanzalando

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14 de dezembro de 2007

Ambiente

Me sento aqui e revejo o piscar colorido das luzes de Natal e visto a minha memória com a tua História, aceno o Tempo para te brindar, para enaltecer a tua glória e transportar-me na tua magia com todo meu reconhecido amor.
Esboço o gesto dum beijo e soletro um eu te amo.
Aqui sentado invento um Dezembro onde esteja contigo.


Sanzalando


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13 de dezembro de 2007

aqui

Me sento aqui e vou ao encontro das minhas letras porque a ti não encontrei.
Aqui me sento ao encontro das minhas palavras porque a tua voz não ouço.
Aqui me sento ao encontro do meu olhar porque o teu eu não vejo.
Aqui me sento com a tua alma porque o teu corpo não achei.
Aqui me sento porque sei que encontro a tua ausência.

Sanzalando

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12 de dezembro de 2007

querer e necessitar

Me sento neste muro de recordações, desejos e sonhos e navego por palavras ao sabor da imaginação.
Que quero?
Que necessito?
Estas são as perguntas que me faço no silêncio da minha meditação.
Poder ajudar-me é um pretensiosismo, um intrometer-me no caminho do destino. Por isso não me ajudo, o que não me impede de me conhecer, de antecipar reacções neste navegar vagabundeando por mim.
Medito que querer e necessitar não é o mesmo. Necessito poucas coisas, comer, beber, mimos e pouco mais. O resto são caprichos, desejos, adereços.
Bem, na verdade às vezes necessito dar à alma um pouco mais de calor…
Assim, se o meu interior quer, por alguma razão inexplicável, esse querer passa a necessidade.
Mas afinal de contas o que é que eu necessito mesmo?
O teu calor, ter-te. O resto é adereço desta fixação!

Sanzalando

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11 de dezembro de 2007

sem pés nem cabeça

Me sento aqui e penso nos caminhos que vamos percorrer sobre palavras, ideias e sonhos.
Não quero nem pretendo que me entendas como eu tampouco te entendo. A lógica, essa fiel aliada do incompreensível, explica que tudo deve obedecer a um capricho, à necessidade de aumentar os níveis de satisfação pessoal.
Neste navegar por palavras pretendo manter a união invisível e desesperançada, alicerçada numa multiplicidade de sem razões. Para me entender tive que me colocar num pedestal de loucura para esquecer o princípio e desconhecer o futuro.
Já sei que tudo parece ser fruto da imaginação equivocada na realidade projectada do supérfluo.
Aqui sentado parece hoje falei com os pés ausentes de cabeça.
Não é que me importe, porque como te disse, não pretendo que me entendas. Não o quero mesmo.





Sanzalando

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10 de dezembro de 2007

32 - Estórias no Sofá - Yogurth de Manga

Manuel lá ia a caminho da sua escola, carregando os seus 12 anos de muita vida e outro tanto de vadiagem. Mas há coisa conhecida na vizinhança que era a sua simpatia, o seu gosto particular pela brincadeira e a sua extrema educação. Todos os dias ia à escola, todos os dias trazia recado da professora. Era assim desde que entrou na primária e não era agora ia mudar. Todos os dias carregava a sua pasta com os seus livros novos. Se nunca lhes abria, nunca lhes podia gastar. Portanto, aos adjectivos todos se lhe podia juntar a poupança.
Em resumo se sabia que Manuel era criança educada, brincalhona, simpática e poupada.
Manuel mesmo só não gostava era da escola.
Se conta a estória que Manuel ainda tinha 4 anos e num sábado de manhã, madrugada das 9 horas, acordou o pai lhe chamando em voz baixinha.
- Que queres tu a esta hora ainda mal me deitei? – lhe disse o pai carregado de ódio na voz.
- Te safei e tu me respondes assim?!
- Me safaste mais como, meu sacana?
- Os manos te queriam acordar e eu não deixei. Sou teu amigo ou não sou?
- Mas m’acordaste porquê?
- Tinha que te dizer não é? – disse Manuel carregando doçura na voz
Mas hoje me lembrei de te falar do Manuel porque me contaram a última conhecida dele.
Todos os dias, a caminho da escola, Manuel passa pela mercearia do Sr. Silvério, homem para aí com pelo menos 80 anos, mas mais rijo que um castanheiro.
- Bom dia, Sr. Silvério. – todos os dia lhe cumprimentava o Manuel
- Bom Dia, Manuelezinho – lhe respondia o Sr. Silvério.
- Tem yogurth de manga?
- Não, Manuelzinho, yogurth de manga, não tenho.
- Adeus então, Sr. Silvério.
- Porta-te bem, Manuelzinho. Obrigado. – lá ficava o Sr. Silvério à espera do dia de amanhã para um repetido diálogo simpático com o Manuelzinho que ele conhecia desde o nascimento.
Noutro dia, depois de vários dias do mesmo diálogo, este foi alterado.
- Bom dia Sr. Silvério! – disse com simpatia habitual o Manuel
- Bom dia, Manuelzinho. Sabes que já tenho Yogurth de Manga?
- Sim, Sr. Silvério? E já provou, Sr. Silvério?
- Já sim, Manuelzinho! – lhe respondeu sorridente e satisfeito o Sr. Silvério.
- Não presta, pois não? – disse Manuel enquanto continuava o seu caminhar para a escola.
Sanzalando

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9 de dezembro de 2007

Tempo sem tempo

Me encosto ao muro do meu crescimento e vagueio por caminhos de palavras, empedrado de ideias, fendas de desilusão.
As longas esperas nos mostram as frustrações e desencantos. Sem um sinal e o tempo passa. Sem uma resposta e o tempo voa.
Tudo era para um ontem perdido no tempo. Mas a verdade é que não são necessárias, para longas esperas, respostas longas, perdas de tempo. Tudo tem o seu tempo e o tempo é necessário para tudo.
Na verdade eu sei que neste tempo decorrido eu tive tempo para pôr os sonhos em dia, o que quero e o que eu quereria sempre.
Relembro de memória as tuas aguarelas, teus óleos, tuas telas. Como são belos os momentos, a existência da tristeza guardada na alma em compromisso com a vida. Reflexos, jogo de cores, cinzentos, vermelhos sangue.
Tudo me passa na mente enquanto decorre o tempo imparável. Me olho ao espelho e descubro uma pintura de emoção amarelecida pelo tempo que tive de tempo de espera.


Sanzalando

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7 de dezembro de 2007

Miradouro

Aqui estou eu sentado neste muro virado para um zulmarinho, na companhia de um Lindo ANEL dourado. Olhamos o mar e eu lhe vou mostrando fotos imaginarias de um ar, um cheiro, um clíma que a sua meninice deixou assim bem lá no fundo do sótão das lembranças. Não é viver na saudade, é apenas a saudade do já vivido. Olha bem o mar que vês daqui. Não, o outro é diferente, sabe mais a sal, cheira mais a mar e este aqui começa lá naqule outro que foi o nosso e se gastou na caminhada até aqui. Não vamos falar da Maria, do Manel ou do Cicrano. Vamos mesmo ficar aqui a olhar só para o imaginario, a areia dourada que todos os dias é penteada com a meiguice do vento.
Olha este mar azul, frio sim, mas tem este cheiro de sal, estas ondas, esta espuma. Fecha os olhos e verás que ainda vais ver melhor.
Acorda que não é hora ainda de sonhar!
ps: reescrito depois de 3 anos

Sanzalando

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6 de dezembro de 2007

31 - Estórias no Sofá - Arsénio

Um dia encontrei Arsénio que tinha a tristeza desenhada na cara. A primeira coisa que me disse foi assim, que nem tirar nem pôr: “perdi muitos amigos quando era pequeno”. E depois me contou que um dia de Novembro a sua mãe, ao chegar a casa lhe disse apenas: “temos que partir”. Nem mais uma única palavra foi acrescentada naquela frase carregada de tristeza na voz trémula de lágrimas de sua mãe. Arsénio me contou ainda que nem uma única coisa conseguiu fazer sair da sua boca. Não gritou, não falou nem gemeu. Apenas deixou escorrer as lágrimas no seu silêncio carregado de luto.
E assim foi. Arsénio partiu cortando todos os laços, nem ele sabia o destino nem os amigos ali estavam para lhe dizer adeus.
Na cabeça de Arsénio estava desenhado o mapa da fuga. Fugia da morte. Se estivesse sempre em fuga esta não lhe alcançava. Era este o seu mapa. Nem um ponto desse mapa estava identificado. Na cabeça de Arsénio só era preciso mesmo fugir.
Já sua mãe pensava doutra maneira. Era lhe queria proteger. Um dia a morte alcançou o pai de Arsénio, não ia agora apanhar Arsénio. Acho era esse o mapa que ela desenhou na sua ideia. Prática e egoísta. Simples.
Arsénio recordou o seu pai, que a morte tinha alcançado era ele um puto ainda sem pensar direito e sem livro de recordações com imagens nítidas. Arsénio aproveitou e recordou os amigos que tinha perdido nesta partida. Chorou de luto. Chorou a falta de jeito para correr atrás duma bola, dos medos de brincar aos polícias e ladrões, das porradas por amor no areal do parque infantil. Chorou em silêncio. Só as lágrimas denunciavam-no. Recordou as Histórias dos Cinco, o Fantasma e o Tarzan. Releu sem livro a Cabana do Pai Tomás. Tudo naquele segundo do inicio da partida. Refez todos os truques de magia que aprendera e que não fazia bem nenhum. Os olhos turvos não lhe deixavam ver o futuro, por isso ele só recordava.
Declamou no improviso todos os poemas de amor que havia imaginado um dia escrever. Ela tinha ido embora fazia muito tempo. Lhe encheu a esperança de lhe ver outra vez se os seus mapas tivessem algum ponto em comum. Tinha 15 anos quando lhe fizera o primeiro poema. Estava escondido. Não era vergonha, era mesmo medo. Menina Bonita, lhe chamou ele. Disse-o uma e outra vez. Mexia os lábios mas não se ouvia nem um sopro. Ela era sua vizinha, como eram quase sempre. Os olhos lhe secaram e se desenhou um esboço de sorriso nos lábios. Parecia estava a fazer era sol e
o primeiro poema lhe tinha trazido outra cara. Se virou para a mãe e disse:
- Vamos depressa!
Viajaram por muitos sítios que ele desconhecia e pelos vistos iam ficar assim, desconhecidas. Muitas horas rodeados por mar e ele debitava o Menina Bonita para dentro de si. Era o seu alimento da alma. Outras muitas rodeadas de ar e ele continuava a lhe dizer o Menina Bonita.
Se ele tivesse ali um lápis ele escrevia uma história a contar o seu amor. Ele lhe daria mal a visse. Seria mais uma Sebenta que ele encheria de palavras. Mas desta vez ele lhe ia dar. Escreveu isto na sua certeza. Ela ia ler a intensidade deste amor. Mas ele não tinha nem lápis nem a sebenta. Escrevia na memória e lhe leria de memória.
Se acabou a viagem. Arsénio estava onde lhe tinham posto. Nem pedido nem achado. Tentou procurar o seu amor. Desencontro atrás de desencontro a chama se foi alterando. A máscara da tristeza se lhe esculpiu na cara e sempre que lhe encontro ele me conta a sua estória.


Sanzalando

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5 de dezembro de 2007

te digo, amor

Me sento neste já gasto e velho muro. Já caminhei por esplanadas, percorri vidas ao longo da beira mar, voei por horizontes, naufraguei-me em sonhos. Agora me sento com a obesidade da idade e caminho vidas em voos naufragados.
Mas oh! céus, como é difícil ver-te e falar-te. Falar-te e ver-te ao mesmo tempo. Com o tempo, a tua beleza e essa tua impassível indiferença fizeram com que eu me enamorasse ainda mais de ti. Não encontro o caminho para dizer-te que te quero. Já tentei o mais curto e deu errado, impaciento-me com o mais longo. Já me é difícil encontrar as palavras para armar uma frase que diga o que te sinto.
Tu vais, reapareces e vais outra vez. E eu quero deter-te, abraçar-te, viver-te e explicar-te que com a tua indiferença me vais matando lentamente e assim talvez nunca venhas a saber o quanto te amo.


Sanzalando

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4 de dezembro de 2007

sou poeta

Me sento aqui porque não quero acreditar em mais nada. Não quero ser absorvido pelo mundo e pelas suas ideias. Fujo dos seus medos e monopólios. Não me nego a ser parte deste mundo. Não vou dar um passo atrás na minha liberdade. Nego-me a fazer intervalos.
O que tenho feito do meu tempo? Nem sei para que serve o tempo, tão perdido que estou.
O meu rádio toca uma canção que faz anos que não ouvia: Baby love.
Pouco me importa.
Perdi-me por coisas banais. Não tenho o que quero, portanto não quero mais nada.
Não encontro amarras no lugar em que estou.
Sou um poeta da melancolia perpétua.


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Sanzalando

porque hoje é terça

3 de dezembro de 2007

arco-íris

Me sento neste interminável muro do meu crescimento.
Revejo filmes de memória, invento canções de amor que canto com a minha voz calada, navego por mares de magia no meu fantástico veleiro sem mastro.
Neste muro ainda tudo é possível.
Só deixará de o ser quando entrares na minha alma e encontrares mares de oceanos intermináveis, caminhos de flores murchas e angústias em vez de consciências.
Até lá, tudo é possível.
As ternuras ainda não se convertem em culpas e as alegrias não se transformam em pecados numa espiral inacabada.
Portanto, tudo ainda é possível ver desde este muro que me viu crescer. Ainda consigo ver o arco-íris.

Sanzalando

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2 de dezembro de 2007

Abobada celeste vista deste muro

Me sento por aqui porque senti vertigens a ver o céu se deitar na linha do horizonte. Fecho os olhos com a ilusão que caía dessa altura. Sei que não teria consequências por ser fruto da minha ficção impossível. Abro os olhos porque me sinto seguro sentado neste muro que me viu crescer.
Mas continuo fervilhante porque o meu salto até à abobada celeste é real, tão real como esta nuvem que me envolve e que não consigo afastar com as minhas mãos. Tenho um instante de pânico ao perceber que abaixo dos meus pés não existe nada senão a altura deste cosmo que me separa da Terra. É só a distancia dum firmamento. Esse pânico, por razões que eu não compreendo se dilui à medida que cruzo a estratosfera e me aproximo do espaço.
A ingravidade faz com que o meu corpo balance. Invade-me uma sensação de triunfo ao ver-me um espectador privilegiado das estrelas, asteróides e deste satélite Lua.
Sentado neste muro sei para onde quero ir e se não vou, sei o porquê.
Sentado neste muro sou capaz de tudo e se não o faço, sei o porquê.

Sanzalando

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1 de dezembro de 2007

Porque é Sabado em Dezembro

Porque hoje é sábado não me apetece sentar em nenhum muro nem caminhar por divagações.
É Dezembro. Dizem-me que é o mês do Natal, independentemente do que é que isso seja ou represente, e que está convencionado que este mês se trocam prendas. Bem, os Espanhóis fazem-no em Janeiro. Está mais ou menos convencionado que há neve, mesmo que seja o pico do Verão.
Mas eu hoje dispenso a neve. Os meus amigos sabem que não vou dar prendas a ninguém e nem em Janeiro o farei.
Mas esta minha indisponibilidade para o Natal não invalida que eu vá, de quando em vez, mostrar aqui umas ideias para umas prendas.
Começo hoje por mostrar uma belíssima ideia para os que circulam pelos passeios num falar até enrouquecer, que nos restaurantes não conseguem nem deixar os outros comensais sossegados nem ouvir em condições os que do outro lado da linha lhes vão debitando.



Sanzalando

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30 de novembro de 2007

o meu poema

Me sento aqui num deus dará, lugar encontrado ao acaso nas deambulações da minha mente.
Chegas por um longo caminho à minha recordação, num chegar de novo despertando sonhos de prazer e saber, trazendo sombra às minhas palavras, tornando-me cálida a voz com que te falo, embrulhando-me em saudades que me empurram para o abismo da minha alma.
Vens e te colas no brilho do meu olhar como fazes desde há séculos, quando me invades num abrupto tempero de saudade e nostalgia.
O teu silêncio de aurora contrasta com as minhas palavras com sabor das cores garridas com que percorro as horas do dia.
Fazes-me abrir o misterioso baú dos desejos, desvendar os caminhos do destino, erguer-me das cinzas e esvoaçar ao sabor da brisa ao som dos cantares dolentes dos trabalhadores de algodão.
E quando partes, deixas-me o frio do fim da tarde e as lágrimas com que salgo a minha vida.



Sanzalando

Telescópio espacial Hubble



Nebulosa Trifid

29 de novembro de 2007

30 - Estórias no Sofá – Telefone

É mais que certo que quando o telefone toca noite dentro é porque vem associado uma notícia má.
A bem da verdade não é sempre assim, às vezes pode ser só o pronuncio da má sorte.
Esta noite quase madrugada, horas em que as pestanas de cima brincavam com as pestanas de baixo e o meu subconsciente voava através dos sonhos, me apareceu ouvir a trim trim do meu velho telefone, quase desusado porque ligado à parede por um fio preto não elástico e dono de um peso e volume consideráveis incompatíveis com a portabilidade dos tempos modernos, que tocava de forma consistente e irritante que até parecia irreal. De principio parecia que esse som fazia parte do sonho que navegava no subconsciente da noite, porém pouco a pouco fui tomando consciência que era bem real e desapareceu da minha imaginação e passou a fazer parte das coisas palpáveis da vida.
- Caraças, toca o telefone fixo. disse resmungando enquanto, com esforço, me deshorizontalava do quente do edredão.
Vociferando cobras e lagartos salto da cama e parto em busca do ruidoso aparelho que a estas horas da noite quase madrugada é insuportável. Vou abrindo portas e acendendo luzes. O trim trim cada vez mais insuportável. Os pés descalços na tijoleira fria apresentam um deficit de aderência. As curvas são mais fechadas nesta hora da noite quase madrugada. Na última curva, a pouco mais de um metro do ensurdecedor aparelho, a aderência foi nula, a corrida se transformou em patinagem artística. Saiu um mortal seguido dum estatelado. Ombro esquerdo contra a mesa, cabeça directamente no assento duma cadeira, tornozelo direito assim a modos que articulado para o lado errado do sei eixo de mobilidade. As cobras e lagartos foram ouvidas nas redondezas, acho que em tom mais alto que o trim trim irritante que não parava.
Com dificuldade me levantei na quase impossibilidade de mexer qualquer segmento de mim após este acidente a altas velocidades da noite quase madrugada.
Levantei o auscultador e pi-pi-pi de quem estava desligado naquele preciso instante.
Sentei-me no chão e esperei que voltasse a tocar enquanto me recompunha.
Efectivamente ele voltou a tocar.
- Sim?! disse eu com a voz mais simpática desta hora da noite quase madrugada.
- O Serafim está? ouvi eu a voz feminina e chorosa do outro lado da linha.
- Desculpe… desconcertado proferi
- O Serafim está aí? continuou a voz soluçante.
- Acho que se enganou a marcar. tentei eu dizer com voz reconfortante.
De imediato o pi-pi-pi de desligado me entrou ouvido dentro.
Pousei e de imediato levantei o auscultador do telefone enquanto dirigi o meus dedos para o disco e disquei 112 saboreando o som do retorno do disco ao seu lugar após cada marcação.
Agora tenho um pé direito engessado, o braço esquerdo ligado ao corpo e a cabeça lateja como a querer crescer sobre o lado esquerdo.
Que sorte que tive que o telefonema naquela hora da noite quase madrugada não estava associado a notícia ruim.


Sanzalando

Telescópio espacial Hubble

Redemoinho de olhos 'furiosos' de duas galáxias


28 de novembro de 2007

é tempo do tempo

Me sento por aqui e caminho sobre palavras, pensamentos gesticulados pela minha boca destinados a permanecerem a pairar nas ondas do vento até se gastarem.
Me delicio a perder tempo, entrar num café esquecer o tic tac, entrar num loja qualquer e esquecer o mostrador e os seus dois ponteiritos que teimam em comandar-me, sentar-me num comboio e deixar o meu banco vazio num estação escolhida ao acaso, ir a uma biblioteca e esquece-me na poeira dos livros.
Que posso mais fazer se gosto de perder tempo quando não estou contigo? Mas a verdade é que sempre tenho tempo porque me forçam a força dos minutos e me derruba a insistência dos segundos, na sua tenacidade de cumprir as minhas obrigações.
Bem, na verdade o tempo passa por mim gritando-me com a força do vento que já é tempo de deixar de lado pensamentos e ócios.



Sanzalando

Telescópio espacial Hubble



Tempestade Perfeita

27 de novembro de 2007

esperança

Aqui sentado estou, muro da minha infância, raízes do meu crescimento, memórias do meu futuro a caminhar por pensamentos e palavras caídas da minha boca, umas carregadas de cores berrantes outras cinzentas e com sabor a sal.
Já não me importam as vezes que não consigo respirar nem as noites acordadas incapaz de adormecer, assim como não me importam os dias que pergunto atrás de perguntas sobre meu futuro com olhos de passado longínquo.
O que me importa mesmo é o que eu sinto porque há momentos, mesmo que não queira, em que penso que a tristeza durará para sempre e será eterna e outros momentos em que um simples sorriso adornado de poucas palavras me devolve a energia para abrir todas as janelas do meu caminho de modo a que a leve brisa agite todos os sentimentos e eu consiga voltar a ser o eu que sempre quis ser.
A esperança não está no fingir, no não acreditar que não existem problemas mas sim no saber que eles não são eternos.

Sanzalando

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Nebulosa do Cone

26 de novembro de 2007

sombras

Me sento por aqui como com medo da noite. Procuro um lugar que me traga a recordação do cheiro da terra molhada, o pôr-do-sol cor de fogo antes do regresso da noite e das suas sombras.
Mas vá lá que as palavras e os sentimentos não têm sombras.
O silêncio é tão escuro como as sombras e deixam um rasto de saudade.
Bem, eu às vezes me sinto uma sombra com o peso das palavras que falam de sentimentos rasgados em saudades e nostalgias. Eu às vezes me sinto noite e falarei até que as sombras não existam.

Sanzalando

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Nebulosa Ampulheta

25 de novembro de 2007

29 - Estórias no Sofá – Árvore

Conheces-me? Eu sou a árvore da margem do rio. Conheço as primaveras e as àguas perfumadas de madresilvas e jasmins, fui abrigo de pássaros que nos meus ramos fizeram os ninhos. Conheço também as tormentas de Inverno, galhos partidos pelo vento, aguaceiros e trovoadas. Conheço casais de namorados que me golpearam corações. Conheço a dor de pedradas e outros objectos arrastados na fúria do rio. Conheço o calor tórrido do verão.
Sempre aqui estive, agarrada a este pedaço de terra, sempre a ver o passar das águas.
Hoje já não temo nada disso, nem a força dos ventos e nem a das águas, nem as pedradas e nem os pássaros que me abandonaram. Já fui vida em vida. Quando caí sei que caiu o meu tronco, os meus ramos e as minhas raízes. Mas aquilo tudo que vivi, não!


Sanzalando

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Nebulosa da Formiga

24 de novembro de 2007

discurso de amor

Desejo chegar-me a ti com as minhas palavras e transmitir-te os meus desejos com os meus verbos. Quero ver-te sentir prazer enquanto falo cama, rosas e pétalas. Quero ver-te desejar-me enquanto traduzes os meus sinónimos, ver os teus gestos enquanto ouves os meus adjectivos e chorando enquanto recordas as minhas recordações.
Eu falo-te dos sonhos que brilhavam, do despertar sorridente da madrugada, do equilíbrio instável das palavras nas ondas do vento.
Desejo chegar a ti com as minhas palavras.
Em cada frase, oração e parágrafo eu recorro ao sótão das recordações, ao vazio interior do maiúsculo, ao destino incerto de predicado para te ver sorrir.

Tu sabes que eu sei que os grandes amores e os grandes sofrimentos são mudos e quando lhes damos forma de palavras eles diminuem, ou pelo menos sentimos que pesam menos.
Afinal de contas eu escrevo para ti e me defino em cada ponto final.





Sanzalando

sexta? sábado? tanto faz!

(clique para ampliar)


23 de novembro de 2007

o teu nome que nunca disse

Sento-me com ar descontraído. Não quero nem pensar no hoje, quanto mais no amanhã. Me sento e vou falando em voz baixa palavras para mim. Hoje apetece-me ouvir-me e por isso me vou fazer a vontade, às vezes eu também me mereço.
Mais um dia que não vou dizer o teu nome, porque o teu nome provoca um sorriso no meu olhar, um brilho na cara e logo alguém que passa poderia descobrir este meu amor platónico. Por isso calo o teu nome e esquecerei as palavras que calei, os silêncios que me falaste em momentos de calma e que me fizeram sentir feliz e capaz de sonhar.
Por isso falo-me sem dizer o teu nome. Por isso sonho-me sem referir o teu corpo, o teu perfume e a tua magia.
Estou colado ao nada, agarrado ao vazio e transporto o sorriso da nostalgia. Olho-me e fico surpreendido com o som de cada palavra esquecida. Rio-me levemente como voa uma borboleta, me abraço de interrogações agrestes e baças e calo o teu nome com medo de me denunciar.
Vejo-te no retrato da memória, ouço-te nos teus silêncios e sinto os tremores do medo em todas as partes de mim. Procuro rasgar as dificuldades, romper as distâncias e palavrear sem limites balizados no tempo. E calo o teu nome mais uma vez.
Me levanto e descubro uma ponte que une o amanhã até a um dia qualquer de depois do amanhã e antes da morte e sorrio com vontade de dizer o teu nome.



Sanzalando

até nem é um mau blog


Na sequência duma corrente iniciada no Nós por Cá, o Nothingandall nomeou sete blogs que até nem são maus blogs, incluindo A Minha Sanzala (Um blog numa escrita diferente e agradável com o calor e o ritmo de África)
Quero aqui deixar o meu apreço e agradecimentos, colocar aqui o selo respectivo e passar a nomear sete blogs que acho que nem são maus blogs. É certo que muitos outros SETE poderiam estar aqui, mas hoje virei-me para estes. Assim aí vão as vítimas, desculpem os felizardos:
1- às vezes desorganizo-me em palavras: Um blog 'incómodado' com sóbrio grafismo. Não só não é um mau blog como é... excelente!
2- Attelier das mangueirinhas: O querer, o insistir e o não desistir mesmo quando a maré não está de feição
3 - As fadas não usam baton : Um blog que defende o amor... mesmo quando ele aparenta não ouvir.

4 - O Blogue da Magui : Um blogue que me tem mostrado um outro Brasil que não está nos panfletos das agências de viagens.
5 - Pensar e Falar Angola: Um blog colectivo que se tem imposto pelo rigor, sem dogmas e pelo saber. Uma referência sobre Angola.
6 - Estados Gerais: variado, irreverente e politizado quanto baste. Pena mesmo é que esteja em pausa prolongada. Já é tempo de se 'sacar' o autor desta pausa!

7 - O Blogue Aberto: o verdadeiro, autêntico. Uma ideia genial e original




Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado