A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de maio de 2007

Outra, mais uma vez

Anda, senta aqui e vamos falar. Eu sei que só eu falo. Mas te preciso para ouvir.
Preciso de ti para conseguir ouvir os segredos que me chegam nas ondas do zulmarinho, preciso de ti para me ajudares a saborear o perfume de maresia, preciso de ti para dançar ao som do marulhar.
Tu sabes que não consigo escolher o destino. Ele é que me escolhe. Assim sem mais nem menos.
Aqueles que me conheceram antes do destino me agarrar no coração e me comandar nesta atormentada cruzada de ideias, não podem compreender as mudanças que há dentro de mim, as lágrimas que ficam por chorar, as gargalhadas que ficam guardadas, as palavras ditas em silêncio e os silêncios traduzidos em palavras.
Tu sabes que hoje não há lugar para crenças ou credos, para ideias ou pensamentos, para parábolas e redondilhas.
Tantas são as coisas que tu me sabes. Umas disse eu, nesta minha voz que teima em se calar nas palavras, outras viste tu com os meus olhos.
Tu sabes que diante de mim existe um exército sedento de sangue e morte, à espera de um fracasso, à coca de reduzir os meus sonhos em cinzas que depois jogariam nesse zulmarinho e se dissolviam em nada.
Agora, sombra, está na hora de te decidires se ficas a meu lado, nesta constante luta ou vais seguindo o teu destino, que só é teu porque ele te escolheu.Tudo corre em velocidade de muita pressa, porque velocidade é aquilo que me acontece quando desejo cumprir um sonho e tudo acontece em lentidão inexplicável. Esta relação, velocidade e lentidão em mim mesmo, é incompreensível aos olhos que não os meus, à compreensão que não é tua.

Sanzalando

Nostalgia para a noite e para o dia


30 de maio de 2007

Nem na imaginação

Caminho aqui na areia, deixando os meus pés bem marcados nela, com medo de me perder no regresso ou, simplesmente, porque me apetece brincar com essa areia de mil cores que passa no meio dos dedos que até faz rir. Engraçado mesmo, sombra, olho para trás e não vejo o teu rasto marcado. Tu voas ou só é mesmo ausência de peso que faz esse milagre de caminhares comigo sem deixar sinal?
Neste caminhar vou olhando para as palavras, escolhendo como quem quer escolher uma flor, para tas dar assim numa rajada de coisas ditas, que eu sei tu vais depositar logo no teu coração. Tu não tens peso, mas será que tens coração onde guardas todas as palavras que te falo? Eu acredito que sim.
Te vou falando sem saber exactamente o que te digo, sem notar se são lágrimas na cara ou gotas desse zulmarinho que salpicando me as atira com o vento. Será que eu reconheço todas as palavras que te falo? Será que estou em todas as incoerências que te digo?
Às vezes, se calha eu falar outra vez as mesmas palavras, assim no escuro do espelho onde me vejo por dentro, me custa reconhecer nessas palavras. Mas eu sei que são as palavras que eu te disse e que tu ouviste porque estavas ali, presa a mim como sempre.
Bebo uma birra loira já não estupidamente gelada, porque o calor do caminho lhe aqueceu, como me aquece a alma.
Tenho a cara mais molhada. É salgado porque uma dessas gotas me entrou na boca. Mas eu não noto que deixo cair as lágrimas hoje, mas a verdade é que a visão está assim como em dia de tempestade, turva e cinzenta, e sinto o coração que bate até parece quer sair de dentro do peito.
Olho à nossa volta, olho com esforço. Sinto-me um estranho que não existia até agora. Me tento ver aqui por dentrto. A claridade do dia não deixa ver-me nesta transparência. Tenho mesmo de esperar que anoiteça para me ver no espelho de mim.
Mas porque choraria eu hoje? Diz lá tu que sempre me acompanhas, porque é que eu hoje estou assim? Não, não é medo de deixar de ser eu, deixar de acreditar nos sonhos sonhados, deixar-me levar pela tranquilidade duma existência passiva.
Será que é mesmo só saudade dela e dos que lhe rodeiam naquela azáfama desenfreada da organização caótica. Será que é saudade daquele perfume? Será que é saudade de sentir no peito o baque daquele calor húmido.
Vamos dar corda às pernas e marcar nesta areia de mil cores todos os caminhos que andámos. Vamos que eu não quero sentir-me só, nem na imaginação.

Sanzalando

29 de maio de 2007

Tantas e outras vezes

Tantas vezes caminhamos neste final de zulmarinho, que já nem sei as vezes que tropecei nas palavras, nas ideias e no imaginário. Umas vezes vamos com todos os sentidos acordados, outras com eles adormecidos. Caminhamos com palavras umas vezes, outras com silêncios ensurdecedores. Mas caminhamos porque esse é o nosso caminho, o fado como dizem os poetas, destino diriam os fatalistas.

Eu caminho nos caminhos da nostalgia, do sonho, da fantasia. Trago-te presa a mim porque tu tens a santa paciência de me ouvir, mesmo quando caminho calado, só tu conseguirias suportar-me em todo este tempo em que o tempo passa no seu ritmo cadenciado em que falamos do presente sendo ele já passado.

Tantas e tantas vezes procuro caminhos seguros, bem sinalizados e sem precipícios onde os passos cadenciam frases, palavras, sonhos, maresias mais ou menos salgadas, música suave que brilha quando nos entra no corpo. Caminho por linhas definidas, mapas desenhados em escala de trajectórias coerentes.

Assusta-me caminhar por onde não tenha a força do controlo, não sentir a segurança dos meus passos, não poder prever o peso das minhas palavras. Não ser capaz de entender o milímetro dos meus passos é pavoroso. Talvez seja por isso que prefiro conservar antes de arriscar, pragmatizo antes de sonhar e respondo com os braços caídos ao desafio da utopia.

Mas eu sei, aprendi nestas caminhadas em que te falei de todas e de nenhuma coisa, que às vezes o mais real, o mais vivo, o mais autenticamente humano, não se constrói de traço certo, definido, mas sobre sombras esfumadas

Só caminhamos no caminho da felicidade quando renunciamos a fechar as linhas e os contornos que nós imaginámos. Só conseguimos sorrir quando os nossos sonhos estão em aberto e ainda acreditamos neles.



Sanzalando

Nostalgia para a noite e para o dia


28 de maio de 2007

Medo?!

Sigo ao ritmo das palavras. Tu segues-me, presa. Ouves-me como quem bebe cada ideia, como quem vive cada estória, como que a queres fugir de ti. Se calhar tens medo de ti, assim que nem eu tenho medo de mim.
Medo?!
Esse medo de não ter tempo. Medo de ter deixado passar ao lado. Medo de a ter na mão e com ela aberta, tê-la deixado voar.
Caminhamos sem olhar para trás mas tendo presente as recordações. Caminhamos num vai e vem nos altos e baixos da vida, sem pressas mas com medo de ter o tempo como limite.
Caminhamos a respirar a maresia como quem respira o ar húmido que sufoca no calor com entra no corpo.
Caminhamos com os olhos postos no zulmarinho como quem olha para ela, apaixonadamente bela, traiçoeira como todas as paixões.
Sigo os meus passos de palavras. Tu segues-me presa na ideia fixa duma paixão.
Vemos o cintilar das notas duma guitarra feita de lata pairando sobre nós acreditando que cada estrela é um olho que nos guia, um sul, um norte. Às vezes com o olhar toldado por lágrimas secas de saudade não as vemos e sentimo-nos desnorteados, mas caminhamos rumo ao destino traçado num tracejado de imagens reais, amarelecidas pelo tempo que o tempo da chuva lavou. Outras vezes, com olhos de ver ao longe, vemo-la tão perto e tão nítida que até apetece esticar o braço e lhe tocar, acariciar como se fosse o rosto de uma criança.
Caminhamos juntos mesmo quando sigo os meus passos de palavras sem retorno.

Sanzalando

Nostalgia para a noite e para o dia



27 de maio de 2007

Destino

Vamos caminhar hoje? Te me apetece falar das coisas de sabores antigos.
Minha avó me dizia que o destino estava já escrito. Não valia a pena lutar contra ele. E eu, jovem, lhe acreditava como uma indesmentível verdade.
Agora, já mais crescido, no vai e vem dos meus passos, no tropeço das minhas quedas de vida, chego à conclusão que a minha avó estava errada e que tudo é uma sucessão encadeada da nossa vontade com um pouco de azar.
Mas se por acaso a minha avó tivesse razão e eu lhe acreditasse ainda te diria, com toda a minha convicção, que suspeito que o destino é mesmo uma pessoa oculta que vive em lugar nenhum e que me espia como um espectador de primeira fila no melodrama da minha vida, porque as coisas boas a gente esquece numa rapidez que já nem um segundo depois se varreu da memória e o que fica é o melodrama da lágrima e da dor.
Mas esse espectador não está ali para me aplaudir, para me consolar, mas sim à espera de se poder rir dos meus infortúnios, de poder travar os meus passos dados em frente, de poder fechar todas as portas que timidamente se me abram, de travar todos os sonhos como se ele fosse o inventor dos pesadelos.
Olha, se eu lhe conhecesse, te digo, lhe torceria o pescoço, independentemente de quem me chamasse de louco de lutar com tão poderosa criatura.
Se tudo está escrito, como disse a minha avó, porque chorava ela quando um filho lhe saia de casa? Ela nos seus muitos anos de sabedoria já devia ter lido essa página.
Vamos continuar a caminhada que é o nosso destino e ele deve estar escrito aí algures, numa folha de vento qualquer.

Sanzalando

Nostalgia para a noite e para o dia


26 de maio de 2007

Lhe

Sentados na areia de mil cores, olhos postos na linha recta que é curva, que segura o zulmarinho como que a lhe dizer que ele não pode ir mais para lá, quando eu sei que mais para lá ela está lá. Me chegam nas ondas os seus sussurros, as suas canções, as suas lágrimas, as suas gargalhadas. E tu ao meu lado, como sempre.
Te falo na incapacidade de decifrar os meus sonhos, os sonhos que escrevo em muitas páginas do meu cérebro, com palavras simples, com combinações de palavras tentando lhes dar a cor com que os sonhei. Neles procuro encontrar a chave. Neles encontro outros sonhos que me levam a um labirinto de sonhos sonhados e ainda não decifrados.
Sabes que lhes penso fundo, misturo-lhes com as canções que me chegam, emaranho-os com os segredos que me trás a brisa, e continua tudo como um sonho gigante à espera de ser desvendado.
Tento encontrá-la nos livros que me falam dela, vejo-as nas fotografias que lhe tirei, nas que tiraram para mim. Mas ela continua a ser um sonho não desvendado.
Espero ansioso um sorriso dela, uma palavra, uma chamada. Ela não me dá o prazer de lhe ouvir nem a voz.
Diz-me tu, que me segues desde o meu sempre, o porquê deste silêncio?
Lhe maltratei? Se calhar até que sim e agora estou a cumprir a minha pena de condenado.
Lhe neguei? Se calhar até que sim e agora recebo o mesmo verso da moeda.
Lhe esqueci um minuto? Se calhar até que sim e agora estou na folha cinzenta do seu esquecimento para poder sentir esta dor que lhe sinto.
E tu aqui ao meu lado me respondes com o teu silêncio, como sempre.

Sanzalando

Nostalgia para a noite e para o dia



25 de maio de 2007

Já... em dia de África

Vamos continuar os nossos solilóquios monologados de palavras soltas, abertas ao vento que sopra nesta praia de areia de mil cores, perfume de maresia.
Já falámos de tudo e também de nada, já dissemos coisas e silenciamos outras, já perdemos tempo no tempo que ganhámos, já trocámos sorrisos em caras sérias. Se as palavras fossem medidas ao metro já teríamos caminhado as maratonas mais importantes e as que ninguém conhece também.
Já recuperámos memórias, já nos vimos nos espelhos de caras novas, já fizemos sonhos contra nós, mas nunca guerras, porque nunca as ganharíamos.
Já percorremos todos os caminhos, mas sempre descobrimos um novo em cada olhar, mesmo que para o mesmo ponto.
Já construímos enigmas, já visitamos a lua, já sulcamos as ondas do zulmarinho.
Já falámos dela nas mil vezes sem conta. Sentimo-la como se ela estivesse aqui ou nós com ela. Sentimo-la sempre. Ela segue dentro do coração como aquela foto que está dentro da moldura, veneradamente bela, nos defeitos e virtudes, nos sonhos e pesadelos, no sorriso e nas lágrimas, porque ela representa quem nos ama mesmo depois de tantas dores que lhe causamos, de tantos sorrisos que lhe tiramos. Mas um gesto pequenino que a gente lhe faz e ela se derrete num sorriso doce que nem algodão
Uê! Falámos de tanta coisa que ainda acho está a faltar mais do mesmo. Vamos fazer mais como então?
Falemos!
Ah! Me ia esquecer de te dizer que hoje ainda te vou falar pouco porque é dia de África e por isso é dia de reflectir e é isso que lhe vou fazer assim num mais ou menos de todas as certezas que nunca terei.


Sanzalando

Porque hoje ainda não é sabado!



24 de maio de 2007

e falemos até aos cotovelos

Anda, vamos caminhar mais uns passos ininumeráveis nesta areia de mil cores, trazendo sempre a esquerda o zulmarinho quando vamos, e à direita quando vimos, num vai e vem sem contadores.
Não te apetece caminhar? Tou a ver amuaste do que te disse antes. Não te disse nada que já não soubesses. Esse um dia vai ter de acontecer. Tarde ou longe, cedo ou perto. É a incógnita que temos do tempo.
Anda lá. Vamos pôr os pés em marcha e a boca a debitar palavras que tu sabes juntar.
Poderia eu viver sem falar-te? Nesse dia eu não viverei, tu sabes disso. Não posso guardar-te os meus segredos, os meus medos, as minhas alegrias e o meu sagrado amor.
Sabes, aqui à tua frente, olhando esse zulmarinho que me liga até lá, que me trás os segredos, os sons, o perfume, recordo os segredos de momentos já extintos e construo sonhos de momentos que um dia vão ser realidade. Aqui, nos dias cinzentos, com olhos com lágrimas de sangue e dor, com sorrisos impossíveis e lábios carregados de palavras azedas, me transformo num sonhador feliz, num crente de futuro e aumenta a minha sede de beber tudo o que me chega desde o lado de lá da linha recta que é curva.
Aqui, tenho necessidade de te ter por perto e com a tua eterna capacidade de me ouvir, até nos meus silêncios.
Mesmo com o relexo do mau feitio esparramado na areia
Sanzalando

As faces da liberdade




23 de maio de 2007

E agora, se eu parasse de te falar?

Nestas caminhadas me aprendi, me conheci e te dei a me conhecer, mesmo que caminhes sempre pregada a mim.
Nestas caminhadas te falei de amor, de dor, do que ganhei e do que perdi, do que fui, do que sou e nunca do que serei porque nem eu sei.
Nestas caminhadas com sabor a sal e perfume de maresia, com música de fundo num marulhar do zulmarinho se esticando na praia como a querer mostrar que também ele cresce quando quer, não fizemos guerra nem com a vida nem com os dissabores, nem com as nossas prisões ocultas.
Quando nos apeteceu nos sentamos como seres adultos e maduros, falamos de êxitos e fracassos, de amigos e menos amigos, das coisas que nos fazem ser gente, sentir gente.
Alegámos na passada, sorrimos no descanso, aquecemo-nos na cumplicidade dos abraços que não podemos dar um ao outro.
Aqui perdemos. Aqui ganhamos.
E agora o que vai ser de nós se pararmos de falar?
Engordamos o cérebro com coisas não ditas, ficas fechada no teu silêncio sombrio sem saberes onde vou, como vou e com quem vou, se é que para algum lado irei.
Eu sei que na mesma me seguirias para onde quer que eu fosse, e estarias pronta a ouvir-me ali na hora que me apetecesse dizer-te os meus segredos. Mas não saberias juntar as palavras soltas, não te saberia ao mesmo.
E agora, se eu parasse de te falar?

Sanzalando

As faces da liberdade



22 de maio de 2007

Vamos disfrutar

Anda daí. Vamos que eu tenho sede de mim, tenho vontade de beber todas as palavras que já disse e as que ainda quero dizer. Há tanto para falar que nem encontro as palavras as para dizer. Anda, quero saborear esta maresia, quero desfrutar este marulhar feito música.
Vês como está um lindo dia? O sol bate-me na cara e dá-me prazer, a brisa que vem do zulmarinho me despenteia e dá-me prazer, este seco salgado da minha pele me dá comichão e prazer.
Hoje quero desfrutar. Em vez da sempre habitual birra loira estupidamente gelada quero comer um sorvete e deliciar-me com o seu sabor a frio.
Vamos parar aqui um pouco. Faz de conta que estamos no início do zulmarinho. Imagina-te lá, olhos postos na linha recta que é curva, mas vista de lá para cá e não como tem sido hábito de cá para lá. Quero sentir-me lá, passando a língua na bola do sorvete sem deixar que uma única gota dele se perca pela mão.
Sinto o prazer de comer o meu gelado do lado de lá. Quero desfrutar o prazer da felicidade do lado de lá, mesmo estando cá.
Vamos voltar ao caminho enquanto me calo neste sabor e tu te silencias no desfrutar-me.



Sanzalando

As faces da liberdade


Sanzalando

21 de maio de 2007

Se calhar...tenho é medo

Se calhar nestas caminhadas já demos a volta ao mundo em 365 dias sem parar. Se calhar usamos todas as palavras do dicionário, todos as formas gramaticais. Se calhar não dissemos foi nada do tanto que há a dizer. Se calhar fizemos aqui, neste final de zulmarinho, uma circunferência de experiências bordadas pelas palavras e silêncios, ornamentos de lágrimas, franjas de sorrisos. Se calhar fizemos a ronda dentro de mim.

Olhando para as pegadas que deixo marcadas nesta praia de areia de mil cores e de final de zulmarinho, sorrio.

Não nasci para ser lago ou um rio, praça ou avenida, por isso caminho trazendo nas palavras a sorte de um jogo de roleta, olho as ondas sempre renovadas, sinto a maresia sempre renovada em cada rajada mais forte, ouço o marulhar no seu arrítmico compasso.

São tantas as coisas que te falei que seria sorte adivinhar o que te falo na passada número qualquer coisa. Tantas coisas para dizer e ver o tempo voar, tanto mundo para descobrir e ter só um mundo na alma, tanto caminho poderá faltar para chegar ao THE END, que os pés descalços com que aqui caminho não sei se aguentarão o quente queimar desta areia. A goela é de quando em vez lubrificada por uma birra loira estupidamente gelada. E aos pés que lhe posso fazer se não lhes dar um descanso, erguê-los como que a lhes mostrar o céu?

Mas a vida tem tantas contradições e efeitos secundários que cada vez que eu penso em parar de te falar as coisas que te tenho para dizer, de dar descanso aos cansados pés, desato a caminhar e não me calo de te dizer palavras entrecruzadas com os silêncios das respostas e reacções.

Alguma vez te falei em medo?

Sei que muitas coisas abandonei por ter tido medo.

Há o medo de estar a fazer o não correcto, de não ser suficientemente bom, de defraudar, de fracassar, de ser egoísta, de estar equivocado. É uma das minhas prisões de que me quero libertar. Por isso te falo nesta ronda dentro de mim, corrida contra prisões, exorcismos contra os meus demónios, esperanças a favor dos meus sonhos, nostalgia dos meus passos perdidos ao longo do tempo.



Sanzalando

As faces da liberdade


20 de maio de 2007

Monólogo irrealista

Caminho neste caminhar sem pressas, trazendo-te arrastada no teu silêncio sombrio. Os teus apurados ouvidos me escutam como que a beber o ritmo das palavras que te falo com a música suave do zulmarinho se espraiando na areia que pisamos.
Tu sabes, melhor que ninguém, que onde estou não me encontro, que os meus olhos não me vêem, que não sei nem onde é o norte, que vivo afogado de sonhos que se misturam em realidades numa mescla sem fio condutor.
Se se desfiasse este novelo intricado de sonhos e realidades, de promessas e acções, quantos metros teria o fio? Tu sabes? Eu não!
Quantos passos já demos neste final de zulmarinho com os olhos a não verem o que se passa lá do outro lado da linha recta que é curva, onde as lágrimas atrapalham as palavras que falo como se fosse um desastre.
Pudesse eu desaparecer deste planeta, falar com extraterrestres e lhes explicar a minha ciência com as palavras certas, eu sei eles iam encontrar a parcela errada, dar o corrector e solucionava a canalização das lágrimas para outras energias, outros efeitos.
Pudesse eu ter as soluções sem ter de morrer-me, sem ter de asfixiar-me nos sonhos, para eu ter-te como te quero… para eu ter a força de continuar a lutar para te ter…
Não, eu não quero deixar de amá-la, não quero tê-la assim de mão beijada, não quero perder as cicatrizes. Mas também não é preciso ter assim tanta luta, tanta lágrima, tanta ferida, tanta dor.
Sombra, faz-me só um sinal a dizer que me entendes.
Olha, começou a chover e eu quase não te vejo.

Sanzalando

As faces da liberdade


18 de maio de 2007

Motivo de existência

Vamos caminhando na procura dum motivo para a nossa existência. Escutas o mar se rebolando na areia? É mesmo o zulmarinho que vem até aqui, no fim dele, trazer-me as notícias desde lá do início dele. Os nossos passos, mesmo aqueles que a gente vai dando assim numa forma que até parece é levitação, fica marcada nessa areia de mil cores que controla o zulmarinho dentro dos limites dele, quando ele está assim a dar uma de calma vida vivida.
Nós caminhamos nessa areia, trocando palavras, as minhas, pelos silêncios, os teus. E neste diálogo monologado vamos à procura da razão da nossa existência. Depois de tanto matraquear palavras, acho mesmo a gente chegou nele. Melhor, chegou nela. Ela se chama de Esperança.
Toda a consideração carregada de vácuo não serve para consolar ninguém, para esconder as mágoas e as tristezas, nem as angústias, muito menos as nostalgias. É mesmo só a esperança quem consegue.
Pois que sabes a gente não é feita só de desespero, de lágrimas, sorrisos fictícios, palmadas nas costas e coisas assim como que de ir às lágrimas num desesperado acto de solidão. A gente é carregada de esperança.
Olha bem para mim e vês que além da carne e dos ossos, que não vês mas imaginas que eu tenho, além das lágrimas que já viste rolar na minha cara, para além das gargalhadas que me ouvistes gargalhar, já me viste com olhos de saudade, ouvistes palavras de nostalgia, ar de amor à flor da pele, sentiste o perfume da morte desejada, mas afinal de contas te esbugalhaste-te com a vida e tu sempre sentiste o meu ar de respiração carregado de esperança.
Já sei que estás a pensar que eu não sou razoável nem exemplo, que num cigarro atrás de outro, falo-te as coisas sem rumo ou norte, porque o caminho é para sul, que te choro palavras e te ouço silêncios de dor, mas tu sabes que também nos sonhos que te sonho acordado na vida, eu me recarrego de esperança, num renascer constante, por vezes descarrilado, outras vezes a despropósito e outras vezes racional.
Afinal de contas eu sou tudo aquilo que pensas que eu sou, desde que isso seja igual ao que eu seja: gente carregada de esperança!

Sanzalando

As faces da liberdade


17 de maio de 2007

Solilóquio (ou lá o que isso seja)

Vamos em passos firmes e serenos. Curtos como a não querer gastar a distância que ainda temos de percorrer. Tu segues-me, como sempre o fazes, transportando o teu carregado silêncio.
Se eu agora me virasse e te olhasse, estou certo ia encontrar-te com lágrimas.
Vejo a areia das mil cores marcada com pingos de água aqui e ali e sei que as lágrimas do zulmarinho não chegam até aqui. Se eu neste momento não deixo correr as minhas, pois só podem ser tuas.
Porque me havia de calhar uma sombra tão humana? Também podias ser uma sombra como todas as outras sombras. Mas também é verdade que eu não posso descansar à sombra da minha própria sombra. Também por isso é que tu és diferente das outras.
Ouves-me com prazer, nunca te ouvi contrariar-me, nunca te vi com ar enfadado, porém choras e as lágrimas escorrem-te pela cara.
Quantas terão sido as vezes que te falei e nem reparei que choravas? Egoísmo meu? Falo-te e nem olho para ti. Falo-te e nem te ouço.
Se calhar apetecia-te falar-me das planícies a perder de vista, das músicas que gostas e te fazem bandolear a alma, dos pôr-de-sol laranjas e que demoram menos que pouco tempo, das chuvas que caiem sem aviso prévio, do sol que num instante seca o suor do teu rosto. E eu nunca fiz um esforço para te ouvir.
Sombra minha, que triste te deves sentir em acompanhar-me nestas caminhadas de solilóquio.


Sanzalando

As faces da liberdade


16 de maio de 2007

...depois logo se vê

Vamos hoje ficar aqui sentados, saboreando o sol que nos bronzeia nesta quase sua hora de deitar, olhando a linha recta como quem quer ver mais longe que aquela linha recta que é curva e que parece ser a fronteira do mundo mas tem mais mundo para lá dela, ouvindo o marulhar desse zulmarinho nos segredar os seus chamamentos como quem ouve uma canção de amor.
E eu te falo numa voz surda como a te fazer recordar sonhos para fazer esquecer o futuro.
Falando nesse de futuro me lembrei que mais altura menos ano a gente chega a um ponto que muitos chamam idade senil, outros dizem-nos anciões, outros nos vão chamar de velhos, outros vão dizer é a segunda infância, outros ainda mais lhe vão chamar de terceira idade. Tantos nomes para esconder uma grande quantidade de prejuízos. São malabarismos da fala para não nos lembrar a verdade, a passagem do tempo, a saudade doutras eras, o final de um contrato honrado e penoso de apagar, os sonhos proibidos de ser jovem.
Nessa idade a alma ri de divertimento num sorriso de amor em que o corpo já não acompanha, e na calada da noite vez chegar a pena de morte iminente como a recordar-te que estás a chegar ao fim. Passas a noite e depois voltas a amar a vida seguindo o seu envelhecimento diário, lutando com amor pela vida que te dá dores.
Olha, assim num repente acabei de ficar triste por ver que a chama se pode apagar assim num apagão em que nem tens tempo de ver a luz que te bronzeia a se deitar para lá da imaginação, os sorrisos que te sorriem, os mimos que te mimam.
Deixa mesmo é chegar a essa idade que tem esses nomes todos e depois logo se vê.


Sanzalando

As faces da liberdade


15 de maio de 2007

Mas afinal porque falo?

Caminho e nem reparo, nem quero, se me acompanhas ou não. Falo e nem sei se tu me ouves ou não, porque falo porque me apetece falar. É assim mais ou menos como o vento. Lhe apetece aparecer e aparece e nem está preocupado com os outros, em que eu estou incluído. E assim como o vento, tal como ele, quando desaparece, eu me calo se tal me apetecer. E às vezes me apetece estar calado, assim como que fechar a janela ao vento que sopra sem licença.
Falo coisas no ar, sem tempo certo, sem previsões. Apenas porque me apetece falar e não estar a fazer outra coisa. Porque falar é o meu escape, a minha janela para o mundo dos vivos, porque dos outros é História.
Não, não tenho papéis de notas, cadernos de rascunho, lembretes. Falo de coração na cor que me vai a alma, na fluidez da goela lubrificada por uma ou outras birras loiras estupidamente geladas.
Não me perguntes porque eu já te falei tanto e não me calo. Nem te aproveites para perguntar se o que eu te falo é para ti e só para ti.
Falo só mesmo porque me apetece, porque sinto o que digo, porque tenho que explicar, porque me fervilha a cabeça de pensamentos e sonhos. Falo porque me apetece deixar uma marca, uma pegada de palavras ditas, num muro de lamentações e nostalgias, num sorriso apaixonado, num gesto simpático, numa lágrima chorada.
Falo ao ritmo do coração, esquecendo gramáticas, dicionários e outros assuntos sérios. Falo no ritmo da imaginação que não quero pôr em causa por leis e regras linguísticas.
Falo porque me apetece ventar contra o vento, mesmo que vento não esteja.
Afinal, falo porque tu me ouves.
Caminho a falar-te, talvez porque também necessite que alguém me ouça, porque posso levar-te a usar a cabeça para pensares, porque posso sonhar e fazer-te sonhar ou simplesmente para que possamos sorrir.
Falo-te porque não tenho medo, nem complexos e, sem humildade, falo porque falar dá-me prazer, diverte-me, faz-me sentir feliz, faz-me pensar, usar a imaginação. Falar-te faz-me ser feliz. E se tu me ouviste, melhor, estiveste conectada comigo por alguns segundos.

Sanzalando

As faces da liberdade


14 de maio de 2007

Outra vida?????!!!!!!!

Te senta só aí e pensa comigo se tivéssemos escolhido outra vida.
Imagina que tínhamos escolhido estar sempre caminhando de cá para lá, se tivéssemos optado por ter dado vida a todos os personagens que inventámos, que tínhamos outros sonhos, que tínhamos outros quereres.
Tenta só e vais ver que chegávamos a esta vida que vivemos e não queríamos mesmo mais nenhuma outra.
Podíamos ter sido pintores, não nos tivesse faltado o jeito e a arte.
Podíamos ter sido poetas, não nos tivesse faltado engenho e a arte.
Podíamos ter sido registadores das imagens, não nos tivesse faltado o talento e a arte.
Podíamos mas não fomos, porque somos aquilo que somos, mesmo que nos falte a arte de interpretar o que somos.
Senta só mais um pouco e saboreia o sol te entrar no corpo e fazer a fotossíntese dos teus quadros imaginários num ecrán de pensamentos.
Vês o pano de fundo cintilando aqui e ali como que uma resposta aos teus pensamentos? É o zulmarinho a te dar os recados que chegam desde o outro lado da linha recta que é curva.
Vês a espuma branca como nuvem interrompendo o azul dele? São os sorrisos das caras que chegam desde o outro lado da linha recta que é curva.
Como podias mesmo viver outra vida se é esta que a gente tem mesmo gosto em viver?

Sanzalando

As faces da liberdade


13 de maio de 2007

Por um dia destes


Caminho ao longo do final do zulmarinho, como se fosse a última vez que o vou fazer. Recordo a nudez desta paixão. Recordo este sonho angelical de ter-te integralmente sem te beliscar um poro. Recordo a dor deste amor que nunca verei como uma estátua, sem endeusamentos, sem homenagens póstumas.
Olho o céu azul claro contrastado com o escuro do zulmarinho.
Olho a linha recta que é curva e que esconde depois dela essa minha paixão.
Olho-te, sombra, e sonho como seria a tua vida comigo lá, no lado da paixão.
Recordo em cenas de um filma de imaginação todos os passos já caminhados e todos aqueles que por qualquer motivo não se caminharam.
Olho-me, envelhecido na frescura deste amor eterno e sem aviso prévio mergulho no zulmarinho como a querer ficar mais pertinho de ti.
Olho, apenas olho neste dia tantos de tal!


Sanzalando

As faces da liberdade


12 de maio de 2007

Estranho dia este

Sento-me na areia das mil cores e te vejo ao meu lado. Eu espero que as palavras saiam da minha boca directas ao teu coração. Tu esperas ouvi-las e depois não sei nem o que fazes com elas. Falo-te sem saber previamente o que te digo, sei apenas o que sinto, as lágrimas que querem sair, as incoerências das minhas palavras com a minha alma.
Bebo uma birra loira estupidamente gelada para me refrescar a voz,
Levanto-me, dou uns passos, tento apagar as lágrimas, tento esquecer que sinto o coração a bater. Procuro as palavras no silêncio do que penso. Segues-me calada, silenciosamente presente.
Olho à minha volta. Continuo a sentir-me um estranho dentro de mim, um provisório eu que busca o inicio do zulmarinho como quem procura a arca perdida do tempo.
Escondo-te a minha cara porque não quero que a minha própria sombra me veja com a cara as escorrer pequenas gotas de zulmarinho.
Estranho dia este!
Volto a sentar-me, olho para a linha recta que é curva como quem se vê ao espelho, espero que volte a tranquilidade. As palavras saíem enroladas na emoção, nó na garganta que parece até é filtro a lhes querer condicionar o significado.
Olho-te, cinzentamente deitada ao meu lado, desenhando todas as irregularidades da areia das mil cores como que com paciência à espera dos meus sons.
Passa o tempo, as palavras são silêncios, os pensamentos se atropelam numa movimentada avenida criando um engarrafamento de ideias, a dor bate devagar nas paredes do coração e tu ficas com o meu silêncio de um dia de nostalgia e saudade.


Sanzalando

As faces da liberdade


11 de maio de 2007

Na metade de uma metade

Caminho neste final de zulmarinho como quem caminha a vida num vagar de ter tempo de acabar tudo o que vai pela metade. Reparto prendas e elogios em forma de palavras, uma ou outra frase, um ou outro sorriso poético. Reparto-me da intimidade para o exterior na transparência de uma roupagem chamada vida, de um sonho à realidade que mesmo que ainda não acontecida não deixará de a ser.
Falo-te sobre e quando me apetece, sabendo que as minhas palavras, levadas pelas mesmas ondas que me trazem os seus recados, uma dia vão chegar nela, com a ternura com que as disse, com a doçura com que as falei e com as lágrimas que verti mesmo que não tenham sido notadas.
Eu não sei se ela se importa com todas as frases bonitas que lhe disse, com todos os silêncios trocados por olhares, com todas as emoções sentidas e compartilhadas. O importante mesmo foi o que eu disse, as palavras que te falei e que eram para ela. Não interessa para mim se lhe tocaram o coração, se lhe arrepiaram quando as ouviu, se verteu uma ou outra lágrima. Importante mesmo foi eu ter dito. Importante mesmo foi tu, sombra, teres ouvido porque é sinal que foste a minha testemunha, cúmplice de um amor maior.
Caminho te falando e lhe olhando desde aqui, para lá da linha recta que é curva, num sentir que é meu, egoisticamente meu.
Tu sabes que as minhas palavras não fazem milagres mas podem criar confusões se são ouvidas nas gotas de uma tempestade, porém são as minhas palavras ditas, com a minha voz, num final de zulmarinho, num canto da minha existência transparecido de ficção.
Falo-te, sombra, sabendo que tu me ouves, sabendo que as kiandas me ouvem, sabendo que as ondas do mar lhe levam, palavra por palavra todas as palavras que eu disse, todos os silêncios que calei.
Falo-te por gosto de te dizer como está a minha alma, como corre o amor por dentro do meu corpo, porque gosto de te dizer que ainda vou na metade de uma metade qualquer.


Sanzalando

As faces da liberdade


10 de maio de 2007

Espero com amor sem desespero

Hoje me sento aqui a contemplar a quietude deste zulmarinho do meu contentamento. Trago-te nas palavras a poesia que gostavas que eu tivesse, que me esforço para tas dizer, como se te cantasse uma canção de embalar, uma carícia em forma de verbo.
Sei que me entendes como me entende a minha própria sombra. Se parei o tempo foi para dar-te tempo de te recompores para que o nosso tempo seja tempo de bom tempo.
Tu sabes, como sabe a minha própria sombra, que cada vez que dou de comer aos monstros da minha memória, a carne se desprende dos ossos e a face se ruboriza no movimento de te abraçar.
Quer o tempo pôr-te como a minha maçã proibida mas eu descanso os medos e a dor do silêncio nas palavras que te digo. Carinho. Amor. Saudade.
Eu sei que me escondo nas coincidências, procuro-te, umas vezes mais, outras aparentemente menos, mas eu sei que um dia te vou encontrar, tal e qual eu sempre te gostei.
Mas, se este final de zulmarinho, me dá a paz que necessito para te pensar, também me dá o tormento de te ver sempre no meu espaço virtual.
O que vale mesmo é que eu me abasteço de uma boa dose de espera sem desespero e me distraio a ouvir o marulhar como se estivesse a ver os teus olhos de morena tropical transformados em lábios que me falam segredos de amor.

Sanzalando

As faces da liberdade


9 de maio de 2007

Divagando

Vou caminhando com um passo atrás do outro sabendo que o depois é a seguir ao agora e que antes era o antes. Tu me segues porque, não só és a minha sombra, como és sedenta de me ouvir falar e é por ti que eu caminho. Olho-te quando me acompanhas nestes passos ou quando parado fico em contemplação do zulmarinho, ouvindo as kiandas que me segredam os seus segredos desde lá do início dele e que me chegam aqui na forma de ondas.
Olho-te e recordo-me onde nasci, sabendo que cresceste ao mesmo ritmo que eu, que te foste formando com as minhas formas, que o teu coração é o meu.
Não tenho prémios, muito menos obras feitas, mas tenho o teu sorriso, a tua maneira simples de me dizer as coisas, os recados que me trazem as ondas, a brisa e a maresia.
Não tenho lugar para cair, mas tenho o teu regaço onde me aconchego nas recordações, onde me guardo nas palavras e silêncios.
Tenho milhões de sonhos para cumprir e espero ter tempo para cumprir pelo menos um, aquele que tu sabes tão bem quanto que nem eu qual eu falo nestas palavras que te digo.
Eu sei que mandei parar o meu tempo até que o tempo comece a recontar, por isso estou sem tempo definido e determinado. É só mesmo uma questão de tempo.
Tenho-te como a sombra predilecta intrincada na minha rede de corpo e alma.
Tenho-te, por isso tenho milhões de sorrisos que me fazem falta quando não lhes vejo.


Sanzalando

As faces da liberdade


8 de maio de 2007

As palavras

Caminho à tua frente e te falo. Sigo a caminhada que um dia me vai lá levar. Demore o tempo que demorar, eu caminharei para lá chegar. Cedo ou tarde o meu destino é chegar, e enquanto não chego falo-te as minhas palavras, as minhas frases.

Eu sei que há várias classes de palavras. Umas são as que subentendem ideias, as soltas, as que são anotações do momento, as palavras efémeras, as ininteligíveis, as labirínticas onde me escondo de te reencontrar, as que ficam subentendidas, as que deixam tudo em aberto e as que se fecham em cadeados, as encandeadas de luminosidade e graça. Depois há as palavras que são ditas em todos os lugares, que se dizem com certo ar de ritual, as palavras finais ditas com devoção, as que são ditas num contra-relógio com medo de perder o tempo, as que se dizem em forma de leitura.

Eu falo-te todas estas palavras numa salada de ideias, numa verdade que mesmo que não tenha sido verdadeira não o deixa de ser.

Eu te falo com a ideia de não ser unidereccional mas sim plurisignificativo porque te faço seguir um caminho em que te reconheces nas passagens e nos postais falados.

Falo-te porque me ouves aquilo que te apetece ouvir, para além do marulhar do zulmarinho. que te sossega a alma.

Sanzalando

As faces da liberdade


7 de maio de 2007

Uma corrida desnecessária

Olá. Desculpa a minha respiração ofegante.

Estás aqui faz muito tempo?

O quê? Sempre estiveste atrás de mim, me acompanhaste na corrida?

Sabes, hoje não caminhei, corri. Andei por este final de zulmarinho numa velocidade com medo de perder uma oportunidade, com medo de não ver o futuro a chegar. Não te falei porque estava concentrado na corrida, na velocidade. Sei que os meus pés não alcançavam a mente, de tanto ela correr. Acho mesmo que dei de caras com um ataque cardíaco, mas lhe fugi a tempo.

Não te podia falar, também não sabia que estavas atrás de mim.

Estou desculpado?

Afinal de contas eu corria mesmo porquê? Seja lá o que for, não merece a minha morte.

Senta aqui e me deixa respirar até retomar um fôlego para te poder falar as coisas que me apetecer falar mesmo que às vezes te pareça um labirinto de letras.



Sanzalando

Panico do último minuto


Sanzalando

As faces da liberdade


5 de maio de 2007

Tentarei sonhar como criança, sempre

Como sempre caminhámos juntos, vamos juntos continuar a caminhar neste final de zulmarinho. Sentir a maresia e despentearmo-nos com a brisa. Eu falo e tu caladamente me ouves. Falo-te as palavras que te quero dizer. Com sentido consentido no meu pensamento. Às vezes, vencido pelo sono, embobino-me em recordações, em imagens passadas vividas no futuro. Por vezes me aparecem imagens desconhecidas em lugares desconhecidos. Olho-te e tu fazes a tua cara de espanto, espantada com o meu espanto. Entro-me na razão e busco uma lógica explicação e tento explicar-te por olhares. Descompreendes-me ou mostras uma compreensão irracional. Foges do meu corpo estendendo-te sobre a areia das mil cores. Longa, mostrando-me o final da tarde com um sol timidamente a se deitar para lá da linha recta que é curva.
Se paro para lubrificar a goela com uma birra estupidamente gelada e loira tu fazes o mesmo nos teus tons de cinzento.
Regresso à minha realidade e sinto-me um duende de um qualquer conto de fadas.
Como eu gostava de voar ao dobro da velocidade da luz e, sem que notasses, abandonava-te ali na areia estendida e ia atrás do sol ver o coração da minha existência, bem para lá da linha recta.
Já te estou a ver com olhar desconfiada: sou sombra de um lunático - percebo-te na forma como te deitas sobre a areia, onduladamente preguiçosa. Respondo-te num silêncio ensurdecedor que não o sou - gosto de ter a capacidade de sonhar como criança carregada de inocência e infantilidades, de largar-me para agarrar o que quero tanto, que está ali à mão de quem semeia, ao mesmo tempo longe de quem lhe quer colher apenas o saboroso perfume de terra molhada.
Anda, vamos caminhar os nossos passos e beber os sonhos que nos trazem as ondas do zulmarinho, viver os nossos sonhos de amanhã já hoje.

Sanzalando

As faces da liberdade


4 de maio de 2007

Eu também sonho com palavras

Vamos caminhar pelo caminho mais curto das palavras que ainda te quero dizer. Eu sei que me ouves, mesmo que às vezes me pareças distante, me olhes de lado, me respondas com ar altivo e olhar distante. Tu tas aí que eu sei, porque te sinto. Às vezes longe, outras vezes quase dentro de mim. Fazes parte de mim mesmo que às vezes te apeteça negar, mesmo que às vezes queiras mostrar que eu não existo, que sou um átomo da tua imaginação. Tu, sombra, queres às vezes ser a parte mais importante de mim, remetendo-me para um lugar secundário. Desconsegues ter essa personalidade altiva, subjugar-me ao teu querer. Segues-me e continuarás a seguir-me até ao toque dos finados.
Mas sabes, eu te falo assim porque quero ser como tu, personalizar-me de ti. Ser gente sem sombra. Uma sombra não pode ter sombra e tu estás a querer fazer-me a tua sombra. Mas tu, queiras ou não, és a minha sombra e terás que me aturar, seguir os meus caminhos, por mais labirínticos que sejam.
Mas hoje, antes de vir caminhar neste final de zulmarinho, refastelado numa preguiça, adormecido numa paz, vi-te ao meu lado, adormecida, com uma mantinha te cobrindo parte do corpo, notava-se ali e além umas gotas de suor, do meu suor, uma ou outra marca das minhas carícias. Estavas tranquila e em nada fazia transparecer o teu fogo, a tua agitação, a tua vontade de seguir rumos separados dos meus. Apeteceu-me voltar a acariciar-te e não o fiz para não te incomodar, não te despertar. Estavas ali adormecida após uma trovoada de paixão. Um raio de sol, tímido, te iluminava a parte desnudada do teu corpo. Frágil. Tu, a quase razão da minha loucura, estavas desprotegida nessa fragilidade e eu te sorria de felicidade
Com o olhar contornei o teu corpo. Olhava-te suavemente para não te acordar com a intensidade com que te queria. Queria dizer-te que te amo mas temi que a minha voz te acordasse. Foi aí que acordei. Passei água pela cara e vim passear-te nesta areia de mil cores e ver-te, sombra do meu pensamento

Sanzalando

As faces da liberdade


3 de maio de 2007

Importante é

Caminho. Hoje não reparo se me segues, hoje não sei se me ouves. Mas mesmo assim eu falo-te, nas palavras simples que conheço as coisas que me passam pela cabeça, que a coisa mais importante da vida não é o que tens, nem o que fazes, mas sim o que és na realidade, na tua realidade. Se és positiva, alegre, simpática, optimista, cordial e amável, isso não depende do que tenhas nem do que fazes, depende apenas do que és. Assim enriqueço-me de vida, assim me apetece dizer-te as palavras que te digo. Assim simplifico-me de vida, fugindo das tendências naturais dos seres complexos de viver no limiar do compromisso e enredos que não melhoram em nada a qualidade de vida. Simplifico-me vivendo a vida com as coisas realmente importantes. Falar-te é importante. Ver o zulmarinho e navegar nas suas ondas de magia é importante. Caminhar na areia de mi cores e ver o tropicalismo do lado de lá da linha recta que é curva, é importante.


Sanzalando

As faces da liberdade


2 de maio de 2007

Se eu tivesse um nogado

Vamos só andando por aí. Divagando palavras, vagabundeando ideias, calcorreando súbitos silêncios. Eu sei que tenho montanhas de coisas para dizer, cumprimentar amigos, agradecer elogios, responder aqui e ali, mas de facto apetece-me só calcorrear os caminhos da fala. Me ganhou o tempo à vontade. Apetece-me perder tempo, descansar porque a minha mente não dá para mais. Já vais pensar que a ansiedade ganhou-me o corpo, me tornou seu inimigo e conquistou minha mente como seu castelo. Mas te enganaste do todo num completo. Não é a ansiedade nem o cansaço que me fazem querer perder tempo. Atentando contra mim, hoje me apetece mesmo não olhar para trás, não ver as palavras que disse, os silêncios mortos caídos pelos caminhos já percorridos.
Olha, te digo mais, se tivesse um nogado me sentava aqui na areia das mil cores e me punha a olhar para o azul do zulmarinho e ficava a ver os nadas que povoam a minha carola.
Eu sei que tu me farias companhia na mesma.

Sanzalando

As faces da liberdade


1 de maio de 2007

Caminho sobre palavras

Vamos caminhando nos nossos passos compassados, sincronia da palavra e ouvidos, interrompidos aqui e ali pelo marulhar mais forte de uma onda se atirando num suicídio contra a areia de mil cores. O zulmarinho nos serve de pano de fundo, fonte de inspiração, elo de ligação, corrente de afastamento, aconchego de mimos.
Lhe olho e os meus olhos enxergam a realidade e descubro que as montanhas de sal se desfazem com o vento ou com a água. Convenço-me que as palavras são como setas que uma vez disparadas não voltam ao ponto de partida. Lhe sinto nas suas lágrimas salpicadas e empurradas pela brisa que a luz me atormenta e que os risos estejam abafados.
Caminhamos no teu passo que a passagem se vai encurtando e chego quando chegar ao destino não predestinado Somente caminho no teu caminho para que tu possas ouvir as minhas palavras, os meus silêncios, os meus gritos, o meu choro, minhas gargalhadas. Tu és a razão de eu estar onde estou, mesmo que eu queira estar onde estou a pensar em estar onde não estou
Caminho deixando pegadas na areia fofa desta praia, final de zulmarinho que começa para lá da linha recta que é curva.
Caminho nas palavras porque nada é certo na certeza de ter sempre razão.

Sanzalando

As faces da liberdade


recomeça o futuro sem esquecer o passado