A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de julho de 2007

Uma ponte

Sento-me em palavras simples num caminhar ligeiro. Às vezes silêncios.
Está calor. Bebo uma birra estupidamente gelada e te falo. Me embalo no marulhar do zulmarinho assim ele fosse musica que me vem desde o inicio dele, assim ele me trás as vozes que lhe tenho na memória e nas saudades do coração
Na verdade construí uma ponte para que as minhas palavras te possam chegar sem ruídos nem interferências. Não precisa ser uma ponte larga nem grande, porque o carinho não quer distância e os sussurros não se perdem nos silêncios. É só mesmo uma ponte que nos una.
É uma ponte flexível para que se possa moldar nos gestos de um beijo, no afago duma carícia, no olhar cúmplice de um gostar..
É verdade, construí uma ponte que vai desde minha boca até a ti, onde quer que tu me ouças.

Sanzalando

"Medusas" de Angola



Sanzalando

30 de julho de 2007

O meu silêncio

Me sento na beira do zulmarinho para ouvir o meu silêncio através das palavras que te digo. Se lhe olho bem, lhe vejo que tem cor de violeta com rasgos de azul celeste. Se lhe toco, lhe sinto o aveludado macio do sonho da noite passada de outras luas.
O meu silêncio não é escuro porque lhe ilumina a saudade de ti e ele não tem o significado de saudade cinzenta ou negra porque onde quer que eu esteja tu estás comigo.
Tu fazes parte do meu silêncio assim como das minhas palavras.


Sanzalando

"Medusas" de Angola

28 de julho de 2007

Pesadelo


Me acordo sobressaltado e transpirado. Um sonho angustiante sonhei enquanto dormia sob o efeito do marulhar das ondas deste zulmarinho a se espraiar na areia, quase me tocando nos pés como a querer que eu acordasse.
Neste sonho eu ouvia nitidamente a sua voz como que a pedir auxílio, essa voz que se ouve assim na alma e que os ouvidos não sabem nem como definir se rouca e quente, se doce e meiga. Mas eu ouvi num nítido que até parecia estava dentro do meu ouvido para que não houvesse nem uma dúvida.
No tempo necessário para passar a fronteira entre o mundo do sonho e a realidade, olhei e lhe vi no zulmarinho tons que nem pareciam era ele aqui no seu final.
Transpirei mais.
Acho mesmo foi pesadelo extramatrimonial o que eu tive.


Sanzalando

"Medusas" de Angola



27 de julho de 2007

Um beijo

Me sento por aqui e me olho num interior de me ver em todos os cantos e perfis.

Eu sei te vais ficar que nem aborrecida comigo mas eu mesmo assim te vou dizer que amigo não é que nem planta que precisa de ser regada, mas lhe faz falta, que nem de raramente em raramente, uma carícia, um mimo, uma lembrança. Eu sei que não te tenho regado, que até parece eu esqueci e coisa e tal, mas na verdade e num resumo sumário te digo que não é nem de perto coisa de esquecimento.

Nas minhas palavras que te dirijo quase num dia a dia de toda a hora, eu te entrego um mimo, uma rosa sem os espinhos, mesmo que tu não lhas vejas.

Eu sei que te pareço uma nave lunática pousada num canto dentro de mim. Mas vamos ficar só mesmo no pareço porque a realidade é que nem mais que outra.

Olha só, mesmo com olhos de ouvir, se eu não te aparecer não quer dizer que eu esqueci, que morri no mundo e me vivo em mim. É mesmo só mesmo um jeito de estar. O teu retrato, o teu perfume, o teu calor, tu, estás mesmo à frente dos meus olhos e lhe vejo numa constância que se eu lhos fechar, eu lhe continuo a ver.

Te beijo com carinho!



Sanzalando

Porque hoje ainda não é sábado!


Sanzalando

26 de julho de 2007

Mas há sempre outras estações

Me sento por aí numa mesa de desejos e vou vertendo umas palavras ao deus dará. Umas são levadas pelo vento, outras te entram no ouvido e outras tantas são caladas na timidez do silêncio ensurdecedor.
Ouço o marulhar do zulmarinho, sinto os salpicos de sabor a lágrima, me embalo na sonolência do vai e vem das ondas.
Me sento aqui como se estivesse ali, porém o vazio de dentro permanece ocamente vazio.
Eu sei que aqui sentado te possa parecer o rei à espera de ser servido assim numa bandeja de prata nas iguarias do desejo. Mas é mesmo só um parecer, ilusão de óptica.
Eu aqui sentado caminho nas palavras, num vai e vem interminável de afogamento de dores, labirinto de emoções que transporto das acções.
Me sento num verão de desejos, inverno de realizações.
Mas há sempre outras estações!

Sanzalando

"Medusas"de Angola

25 de julho de 2007

Carta à Lua

Nestas folhas de mar te escrevo esta carta que eu sei vais ler e lhe vais usar.
Lua, tu que és testemunha do meu amor diz-lhe só que eu preciso dela ao meu lado, em todo o lado. Diz-lhe por favor que me perdoe se alguma vez eu lhe errei, porque eu sou humano e cometo erros.
Porque ela me põe tantos travões e me causa tanta dor, se eu lhe trago dentro do meu coração em cada segundo do meu respirar?
Lua, diz-lhe se faz favor, que as minhas noites são noites destreladas, sem brilhos, noites escuras sem a luz dela.
Lua, diz-lhe ainda que me custa aguentar esta agonia, esta ausência, estas feridas que não cicatrizam e me matam num devagar de dor surda.
Lua, diz-lhe com a tua luz de poema, que sem ela eu sou um nada embrutecido de forma.
Lua fala-lhe de mim porque eu já vi que ela a mim não dá nem ouvidos quanto mais coração.


Sanzalando

"Medusas" de Angola


24 de julho de 2007

Sorte

Me sento por aqui ou caminho por ali. Interessa mesmo é que eu esteja comigo. Pode até eu ser num pensamento, num gesto, num perfume, num sabor, eu estou comigo e logo isso quer dizer que eu estou com ela. Desconsegues perceber?

Acho eu já te falei que a porta de entrada da alma está no olhar. É por isso que eu lhe preciso ver assim num de vez, enquanto não for num definitivamente para sempre. Assim ela me entra na alma enquanto eu lhe olho, porque lhe abro a porta da alma. Ela é o meu estado de alma.

Se tu encontrares por aí a minha alma faz-lhe as perguntas que quiseres, joga jogos com ela, lhe acaricia, lhe ouve os suspiros ou os gritos, lhe ouve o gargalhar e lhe vê nos seus olhos o brilho.

Se encontrares por aí a minha alma, é porque tiveste sorte e podes sonhar à vontade. Igual que nem eu.



Sanzalando

"Medusas" de Angola


23 de julho de 2007

Vento

Me sento algures por aqui, na mota da vida e de cabelos ao vento vou caminhando por palavras e tropeções. Se assim não fosse nem tinha piada fazer as caminhadas circulares. A gente nasce deitado, viveria deitado à espera de ir deitado até na escuridão vazia da outra vida que não se vive. Assim, na mota da vida, a gente vai apanhando com o vento a refrescar a mente. Vê montes e vales, horizontes verticais, cambalhotas e acrobacias, altos e baixos, tangas de fio dental, hot pants, sobretudos e sobre nadas, se esquecendo que a vista vai rareando e que as nódoas negras se vão acumular num canto qualquer da memória para num mais tarde recordar em forma de estória para os netos e afins.
Hoje, não esperando nenhuma queda, caminho na minha mota sobre palavras e nódoas negras amarelecidas.
Já fui uma milésima de segundo, já desacreditei-me nos olhos, já balbuciei palavras de silencio, agora é tempo de voar contra o vento e sorrir num esticar de pele enrugada da velocidade branqueadora de cabelos.
Hoje só te vou dizer mesmo uma só palavra: vento.

Sanzalando

"Medusas" de Angola

22 de julho de 2007

Ao Domingo me confesso, ou não

Passeando dentro de mim encontrei uma frase que dizia, mais coisa menos coisa, que devo continuar a falar assim para mim, porque quando começar a falar para os outros, deixarei de ser eu mesmo.
Me pareceu uma frase feita e sem graça. Assim uma coisa para me agradar a mim mesmo. Na verdade eu não a entendo de outra maneira. Porque alguém falaria da sua vida, da vida que lhe rodeia ou contaria estórias assim num público areal de final de zulmarinho? É sem dúvida para que os outros ouçam. E quantos mais melhor.
É! Afinal de contas eu vou falando e vou vendo quem é que está a ouvir ou pelo menos está ali em pé com cara de quem ouve.
Toda esta actividade de vaidade inconfessável é um exercício são.
Por isso me passeio e te falo as coisas da alma, delírios e pesadelos. Rasgo as palavras ao vento porque gosto, fantasio ideias, sonhos e estórias porque lhes quero dar vida e lhes transmitir calor. Desejo que mas ouçam. Em resumo, falo para mim e para os outros mas me exijo gostar-me.
Na verdade não falo para os outros, para os agradar e nem por ser vaidoso. Falo sem desvirtuar o meu caminho que percorro com palavras, luz e sombras, lágrimas e sorrisos, carícias e amuos.

Sanzalando

"Medusas" de Angola




21 de julho de 2007

Construção

Me sento aqui. Bebo uma birra estupidamente gelada e reflito.
Verdade que às vezes me olho por dentro e dou de contas a falar-me.
Não me vejo no zulmarinho que hoje está encrespado vais ver é da brisa forte que lhe vem de leste ou doutro canto cardinal qualquer. Por isso ele não me serve de espelho nem me pode mostrar o reflexo do que lhe penso e ficciono.
Por isso mesmo, protegido no meu canto reflito ao som duma sinfonia marítima.
Palavra depois de palavra e crio um sonho.
Sonho atrás de sonho e construo uma ilusão.
Ilusão depois de ilusão, formo uma vida.
De vida em vida e o mesmo dono.


Sanzalando

"Medusas" de Angola



20 de julho de 2007

Ser imortal

Me sento por aqui e vou caminhando nas palavras doces, amargas, choradas, gargalhadas, azedas, sorridas, lagrimadas. São palavras que são levadas pela brisa que sopra desde lá do início do zulmarinho e trazidas na minha boca através da alma. Não é como na boca escancarada no dentista que lhas aspira de forma mecânica que nem deixa de ser ensurdecedor de não lhas poder ouvir. São mesmo palavras ditas em falas que sentem, voz real de ficção
Na verdade eu te digo que não gostava de ser imortal. Nenhuma força do universo que me desse a imortalidade me poderia mudar a mente. Já imaginaste olhar-me no espelho de água do zulmarinho manso que nem lago e ver o corpo se mirrar e a nada mudar lá dentro? Eu não consegui aguentar ver os meus pensamentos, meus gostos, caprichos e desejos continuarem os mesmos, adolescentemente irresponsáveis. Era peso pesado ver o tempo detido assim no dentro de mim, como se tudo fosse fresco e recente e me olhar e não me reconhecer.
Mas isso nem que era o pior. O pior mais do mesmo era ver as mortes e a dor que seriam os meus actos sociais de aparecer em funerais. E só de pensar no dia de Centenário em cada cem anos. Ser imortal seria ser triste.
Acho mesmo é melhor continuar aqui vagueando palavras e odiando a saudade que carrego voluntariamente.

Sanzalando

Porque hoje ainda não é sábado!



19 de julho de 2007

Interludio

Bebo a minha cerveja, olho a linha recta que é curva e penso nas palavras que te queria dizer mas desconsigo ter uma lógica. Eu me sinto no intermédio, o que não é o mesmo que dizer que me encontro na metade. Simplesmente digo que cheguei a um ponto em que as coisas chegam de uma maneira que o que se segue são resoluções inevitáveis.
É, as situações da vida se falam como uma novela, não uma novela cor de rosa como as que se costuma ler com final feliz, porque o final feliz não é aquele que se espera.
Melhor mesmo é continuar a beber a minha birra estupidamente gelada e divagar os olhos nesse areal e ver se existe algum biquini azul perdido sem corpo.

Sanzalando

"Medusas" de Angola



18 de julho de 2007

Me sento com o silêncio

Me sento só por aqui. Olho e fico na atenção do silêncio.
Ocorre às vezes ser visitado assim pela tristeza e sem ser avisado. Se eu não lhe convidei nem tão pouco lhe ouvi chegar porque ela veio aqui me visitar?
Me inquieta e acho até é mau presságio e me pode levar ao descontrolo e ao improviso. Acho mesmo melhor ir procurar nos abismos da minha consciência e lhe ver a origem.
Talvez se deva à minha ausência de mim, ao abandono em que me abandonei, às palavras que não disse, às rugas que não disfarcei, às frases que me tropeçaram num enrolar de lábios. Talvez seja porque hoje é dia de silêncio e o melhor mesmo é pôr o capacete e dar uns mergulhos no final do zulmarinho e com o seu ar gelado me curar dos hematomas pensamentais.
Me sento só por aqui, na opacidade da minha lágrima.

Sanzalando

"Medusas" de Angola




Sanzalando

17 de julho de 2007

Se fosse noite falava-te de estrelas

Caminho devagar para me poderes acompanhar nestes delírios de palavras e silêncios, neste caminhar dentro de mim, andar à deriva na areia onde termina o zulmarinho.
Se fosse noite sentava-me a ouvir o marulhar e a contar as estrelas, sabendo que cada uma delas representa um sonho que sonhei, ver as que estão mais próximas e com esforço olhar para as que estão assim tão distantes que só com esforço lhes conseguia vr a cintilar lá no breu do céu.
Eu te podia falar da Cassiopeia, Ursas menor e maior, mas desconseguia mostrar-te o Cruzeiro do Sul.
Mas como é dia não tas posso mostrar que a imaginação não se projecta com tanta luminosidade esse universo que é meu, por isso não te falarei de estrelas, nem da esperança que tenho de lhes poder viajar, nem que seja apenas com o olhar por todas essas constelações. Não poderei viajar só por uma, tem mesmo de ser por todas essas que à noite se projectam nesse infinito tecto que me resguarda dos pesadelos e as segura na intensidade do meu sonho. Já sei que estás a pensar que nem todos os anos da minha vida, já vivida e por viver, eu conseguia visitá-las todas porque estão distantes umas das outras, mas seria impossível escolher só uma, mesmo que por nenhuma tenha viajado.
Mas como é dia nem com os olhos lhes posso caminhar e te contar as estórias que cada uma representa.
E neste momento lágrimas me caiem pela cara e nem para o ondular do zulmarinho consigo lhe olhar. Choro lágrimas negras de saudade de amanhã.

Sanzalando

"Medusas" de Angola



16 de julho de 2007

As palavras do silêncio

Me sento por aqui e me banho nos raios de sol. O marulhar do zulmarinho me embala em navegações, viagens carregadas de magia, lágrimas de futuro, sorrisos de cores claras e gargalhadas de cores garridas. Me deixo levar na escada das palavras que falo. Juntas poderão ter sentido, soltas têm-no de certeza uma vez que são palavras que saem da alma e sem filtros.
Te falo as minhas palavras, te carrego das minhas emoções e juntos vagueamos ao sabor da brisa que vem desde lá do depois da linha recta que é curva.
Olha mesmo que eu te digo que a vida é assim como uma garrafa de bom vinho. Alguns se limitam a olhar e ler o rótulo enquanto outros preferem provar e saborear o seu conteúdo, enquanto outros mais vertem-no dentro do corpo sem darem tempo à degustação.
Também de te digo que essa mesma vida é assim que nem uma flor. Se pode fazer uma conferência sobre ela, se pode fazer poemas sobre ela, parábolas e canções. Mas também se pode olhar a flor, sorrir para ela e nada dizer.
Assim mais ou menos que nem eu: provo o vinho, olho a flor e me calo no silencio das palavras que te digo.

Sanzalando

"Medusas" de Angola

14 de julho de 2007

A vida, a música e eu

Caminho em passo curtos na borda do final o zulmarinho. Vou numa ida e volta repetitiva, caminhando palavras que nascem no pensamento assim num sem querer. E tu segues me ouvindo com a tua paciência sombrada de me seguir ou de ir na minha frente agarrada no teu silêncio. Contornas acariciando as irregularidades da areia que piso, umas vezes deformando-te, outras vezes intacta nos contornos.

Nas palavras soltas que te falo eu te digo que a música é a melhor criação do mundo. Cada um de nós tem a sua música, todos a querem e todos se identificam numa qualquer música como se ele fosse dele mesmo. Doce adaptação aos ouvidos criada por todos e para todos. Cada um encontra mesmo a sua canção. Uns escolhem pelo tema, outros o ritmo, horas do dia e coisas assim mais ou menos que qualquer motivo.

A música é como as pessoas, diferentes no ritmo e nos acordes, no estilo e na personalidade. Umas são fortes, outras suaves e nostálgicas, umas outras não têm sentido outras são poemas.

Com a música se dança, com ela se ri ou se chora, se vive e se ama. A música é vida, é ritmo no sangue, teletransportadora para outras dimensões.

Há tantas músicas por descobrir, medicina gratuita e reconfortante.

Neste caminhar vou ouvindo o silêncio da música que me trazem as ondas desde lá do início dele, danço no pensar, me animo, me inspiro como uma chama que me queima de ideias, me escondo das coisas aborrecidas e da longa espera, viajo num subir e descer pelo mundo, me encontro e me perco.

Viva a música. Pena mesmo é eu às vezes ser surdo.



Sanzalando

"Medusas" de Angola

13 de julho de 2007

Apetece-me dormir e acordar um dia destes

Encadernando letras em palavras aqui te vou falando a alma. Umas vezes cheia, outras nem se dá por ela. Umas vezes em bamboleantes ilusões, outras em sensações ao acaso. Umas vezes um crepúsculo pôr de sol, outras num cacimbo cerrado de lágrimas. Umas vezes adormecido em paixões, outras acordo em sonhos.
Às vezes me apetece deixar de lado por uns tempos a capacidade de falar e perder-me na luz que se abre na imaginação para decifrar sombras nas lendas caladas de um novo dia qualquer. Outras vezes parece que ouço um grito como que a querer acordar-me para vir dizer-te as palavras que me afogam.
O nascer de um novo dia é o começo de uma nova ideia como se tudo fosse feito vento, tudo fosse um novo sonho que me envolve na madrugada de abrir os olhos e me olhar e ver que existo ainda numa montanha coberta de paixão. Os meus dedos bordeiam o limite imaginário do teu corpo, inalo o perfume que é só teu, como se ele fosse o último grito da moda e me elevo nos céus numa alucinação de lascívia carnal.
Á noite me envolvo nos teus mapas desenhados na pele como tatuagens de paixões ocultas, ilusões que se desvanecem na manhã e em que me vejo como um reflexo na penumbra da existência.Apetece-me dormir e acordar um dia destes
Sanzalando

"Medusas" de Angola



Sanzalando

12 de julho de 2007

Calema

Devido a calema 'hoje' não foi possivel colocar aqui as palavras que vagabudeavam da minha boca e não te chegaram aos ouvidos

Sanzalando

11 de julho de 2007

Eu e a Solidão

Sentado no meu canto, olho o mundo como quem está de guarda, vigilante porem calado para não perder pitada do que vê.
Deixaste a janela entreaberta o suficiente para que a luz te colasse no corpo um vestido de sombras, construísse um caminho por onde eu possa percorrer com as minhas mãos num trânsito suave de carícias, rotas para um beijo.
Sei que estou só. Dormes profundamente para me deixares na solidão. Eu e a tua silhueta. Eu e o desejo. Eu e o teu respirar de sono profundo.
Sentado no meu canto, olho-te. Calado para te ouvir, se calhar até fecho os olhos para te ver melhor na concentração da imagem gravada.
Sentado no meu canto, eu e a solidão.
Até quando?


Sanzalando

"Medusas" de Angola



Sanzalando

10 de julho de 2007

Obsessão

Me sento por aqui num canto qualquer neste círculo da vida e tento me esquecer das obsessões e entro no deserto da minha realidade.
Pairam sobre a minha cabeça, neste deserto de sol e areia, as aves de rapina, voando em círculos como se fossem manadas. Lhes pensei serem fantasmas da minha desintegração anímica, alucinações de desidratação do tempo, fruto desta prisão em que me enclausurei obsessivamente ou frutos dalguma qualquer cobardia. Como não lhes conclui em nada deixei apenas de olhar para cima da cabeça com esperança que ao não lhes olhar elas se afastavam e se desinteressavam de mim. Assim, mais ou menos, como quando era criança em que fechava os olhos para não ver a escuridão dos pesadelos e eles desapareciam misteriosamente, assim parecia era magia. Simplesmente que agora não fecho os olhos pois eles iam pensar que eu lhes ia servia de pasto. Não lhes olho e lhes ignoro.
Me sento neste canto circular e me refresco num oásis de ilusão, por entre dunas de evidência e aparento viver a vida. Era suposto que neste oásis eu ia deixar esta prisão obsessiva e passaria a tomar mais conta de mim, desnrugar-me, rir-me e ter olhos brilhantes de felicidade. Mas parece as aves de rapina estão cada vez mais perto, assim como que a me anunciar um ataque. As minhas pernas se afundam na areia solta das convicções e me fazem pensar nas obsessões.
Sentado neste canto, sem ter tempo que sobra porque o que está gasto foi gasto e não se fala mais nele, tento tomar uma decisão. Acho mesmo lhes vou enfrentar, pelo que giro a cabeça e lhes olho com olhos desafiantes, tentando esconder o medo que sejam elas a me atacar, entrarem no meu sangues e lhes esvaziarem num trago. Meus olhos se derem com os olhos do mais forte, eu acho, e desanco-lhe com um deserto de realidade feito vida. Os outros, assim como se fossem uma manada se eclipsa no sol e eu descortinei uma sombra de palmeira onde repouso o meu pensamento.

Sanzalando

"Medusas" de Angola


9 de julho de 2007

Falta

Me escutas? Não? Quê?
É verdade que hoje eu estou quase no silêncio da falta de tempo. Te digo mesmo que hoje foi dia comprido de correr que até parece é formiga num vai e vem que ainda não acabou. E quando chegar a hora de ir na horizontal recuperar as forças eu vou pensar:
" As Calorias são pequenos animais que vivem nos roupeiros e que durante a noite apertam a roupa das pessoas."

Jota Cê com falta de tempo para falar




Sanzalando

"Medusas" de Angola


8 de julho de 2007

Sentado no tempo

Me sento no tempo e descanso.
Olho e lá estou eu vagueando em palavras como quem procura o norte, ou o sul ou outro ponto cardeal qualquer que eu não sou ligado a essas coisas de fixações directivas ou organográficas hierarquias terrenas ou celestiais.
Até fiquei cansado de tanta correria oratória.
Mas estava eu vagueando nas palavras, sentado no tempo, dizia eu, quando me lembrei que faz muito tempo que plantei uma flor dentro de mim. Quando lhe plantei não sabia mesmo que flor estava ali naquela semente. Podia ser a mais linda das rosas como o mais espinhoso dos cactos. Queria transformar-me num jardim, de espécies vulgares, raras e até silvestres, pelo que outras sementes fui plantando, ao longo do tempo que o tempo permitiu. Umas flores foram crescendo, outras nem deram sinal e outras ainda depois dum início verdejante até parece lhes deu praga e se foram num secar quase instantâneo.
Umas vezes eu próprio esquecia o jardim e me só lembrava dele quando algo de estranho eu lhe detectava ou nas horas da reunião interior eu lhe sentia o perfume das flores.
Uma das vezes, as coisas que me lembro quando me sento no tempo, eu vi um cacto, desamparado e como que esquecido porque estava isolado das outras flores. É, o cacto não precisa cuidados, quase não lhes é preciso alimentar, não se podam e apenas necessitam de terra abandonada para se desenvolverem fortes e sãos. Me pensei livrar dele, arrancá-lo e deitar fora bem longe de mim, não lhe arranjando um lugar ainda mais isolado. Esse cacto não devia fazer parte deste meu interno jardim, muitos picos lhe saíam do seu verde tronco, assim numa espécie de ouriço caixeiro verde e vertical. Sem mais nenhum adorno, sem ponta por onde lhe pegar. Só me picava, mesmo sem lhe tocar ficava logo com um arrepio que até parecia tremor de terra na escala máxima dessas coisas escaladas.
Mas lhe deixar estar ali, desamparado no seu isolamento social vegetativo. Me fui esquecendo dele, cada vez mais distante de mim. Mas em cada verão, ano após ano, ele me chamava a atenção. Se não me fazia falta eu lhe notar durante tanto tempo porque me fazia esta surpresa de todos os anos lhe regalar horas de olhar e espanto? Eu sei que nesta altura ele dá uma flor lindíssima, harmoniosa, que contrasta com a sua feiura de vertical verde porco espinho e que dura pouco mais do que uma dúzia de horas.
Sentado sobre o tempo, me sinto curioso nas transformações que nos mostram as plantas e as suas flores, a beleza efémera que pode vir duma planta horrorosamente feia e que me faz todos os anos lhe acarinhar numa relação assim tão próxima, quando durante um ano eu não lhe ligo mesmo nenhum segundo.
São as flores e são os sonhos.

Sanzalando

"Medusas" de Angola


Sanzalando

7 de julho de 2007

"Medusas" de Angola


Um abraço de palavras

Hoje me apetecia mesmo dar-te um abraço de palavras escritas no famoso papel de carta. Faz tanto tempo que não recebo uma carta assim, escrita em letra de mão, carregada de carinho umas vezes, nódoada de lágrima outras, corrida ou lentamente desenhada, suave e doce quase não deixando tinta no papel, outras de força que até era capaz de escrever na página seguinte.
Hoje me apetecia ler uma carta escrita na tua caligrafia desenhada.
'Te escrevo para te dizer que aqui estamos todos bem, mesmo carregando nos ombros a tua ausência. Esperamos que também tu estas de boa saúde e continues a sentir saudades nossas...'

Mas hoje não recebi uma carta tua para me fechar no quarto e ler, reler tantas vezes que quase gastasse a tinta de tanto lhe passar os olhos.

Sanzalando

6 de julho de 2007

Hoje sou memória

Caminho sentado sobre palavras e pensamentos, numa salada de coisas boas que o tempo me foi deixando como reserva. Viajo na memória, de memória. Desnecessito cábula, sebenta amarelecida no tempo, ponto soprando em voz ciciada. É essa reserva mesmo que me ajuda a dar os passos que dou, a olhar o amanhã com um sorriso, a me sentir uma sombra embebido de sol.
Já houve tempo que eu pensei era uma cidade sem nome, uma rua deserta, uma porta perdida. Já houve tempos que eu suspeitava que era portador de passos cegos, mãos vazias de promessas secas. Já houve tempo que eu pensei era um coração perdido assim como uma flor sem jarra.
Hoje assim de memória sei que sou uma chave. Não me lembro mesmo é de qual é que é porta.
Mas eu sei, também de memória, que a porta está mais ou menos aqui, no labirinto da vida, num sinal luminoso que se calhar ainda não acendeu, na curva duma estrada que se calhar ainda não foi feita. Mas está que eu sei, de memória, que está.
Assim como eu sei, de memória, as estórias que eu contava-me ao pé das gazelas de bronze, das horas a que o boca de sapo dourado passava e eu me mostrava para que fosse visto, dos amigos que em troca de um café ficávamos horas a falar de coisas e tantas assim de coisas nenhumas.
Por isso eu sei, de memória, que o teu sorriso se abriu agora quando me ouviste falar as palavras que me saem da memória.
De memória eu sei que te vou voltar a encontrar, mais dia menos ano que o tempo não apaga a memória.



Sanzalando

Porque hoje ainda não é sábado!


5 de julho de 2007

Hoje sou um sol


Me ponho ao caminho. Num final de zulmarinho qualquer, numa tarde quente. Eu, o zulmarinho e o céu. Só existe este universo. Por acaso até pode estar cheio de outras coisas, mas o que os meus olhos sentem é só este triângulo equilátero.
Caminho aéreo fora de mim como a que me olhar e estudar a pose com que o meu pensamento caminha. Mão estendida para acariciar os raios do sol que me vestem cada canto de cor, contornam-me de sombras calaras e escuras, escondem pormenores e realçam defeitos. Sigo adiante e vejo o que sou e o que significo.
Como é bom saborear a minha invisibilidade enquanto o meu corpo caminha por pensamentos e palavras.
Hoje sinto que sou o sol, mesmo aquele que já não irradia a luz dum antigamente. Mas me sinto luz como se o sol morasse dentro de mim, mesmo não sendo o sol de outras horas. Só ilumino partes específicas de mim porque quero manter na penumbra outras partes, não porque me assustem ou me inquietem, mas apenas porque já lhes passou o tempo.
Hoje sou o sol porque sou livre de ser louco em beijos frescos e ternuras quentes.
Hoje sou o sol porque lhe trago a luz desde o cruzeiro do sul.
Hoje sou!


Sanzalando

"Medusas" de Angola

4 de julho de 2007

Palavras em estado líquido

Penosamente calo palavras. Não é porque não apetece falar. É mesmo porque está calor para dizer as palavras em estado sólido. Elas saem arrastadas, assim fundidas, ebriadas na destilação forçada.
Mas, depois duma ou de mais outras tantas birras estupidamente geladas, elas se vão arrastando até entrar no teu ouvido e se transformam em ideias. E caladamente te vou falando as minhas verdades absolutamente certas embrulhadas em flores de duvidas.
Olho nos olhos e te vejo sorridente, resposta rápida, acordada na vida. Me pergunto no meu silêncio se mostras aquilo que te vai na alma ou te representas? É, como posso eu saber como digeres as minhas palavras se eu não sei se as ouves, nem como as filtras? Olhas-me sorrindo.
Se calhar o teu olhar é um sorriso e mesmo quando choras me parece que estás a sorrir.
Se calhar nunca te vi com lágrimas. Te escondes na fachada desse sorriso, acenas que sim ou que não sem te transpareceres.
Se calhar na tua solidão vociferas, gritas e saltas como quem desembrulha abacaxi debaixo da torreira do sol queimando ideias, fritando ódios, pelando queimadas peles do dorso desprotegido.
Se calhar o que eu tenho mesmo é saudade de olhar o teu sorriso, experimentar o teu perfume e me humedecer no teu suor feito cacimbo, e nunca de te ter entrado na alma.
Ficas cá ou vais para lá? Alucino-me nesta pergunta que ouço sem saber donde vem. Vem e é só isso que me importa. Vais ver é o meu fantasma que está na dúvida do caminho que deve seguir, se me acompanha ou me larga aí num substituto qualquer. Desrespondo porque as palavras não têm a fluidez duma miragem, o brilho duma noite de luar nem o cintilar das estrelas que pinto na minha alma. Seriam palavras liquefeitas levadas pelo vento.
Afinal de contas é mesmo só o calor que cala a minha saudade no instante em que te penso.

Sanzalando

"Medusas" de Angola


Sanzalando

3 de julho de 2007

Transparente silêncio


Fico para aqui a olhar o meu silêncio através das palavras que já falei. Já as pintei de cores garridas, já as falei de cor cinzenta, já as disse com sabor a lágrimas, já as calei com textura agreste.
Hoje falo sem cor porque não sei que cor dar ao pedido que te faço para que não saias da minha alma, para que não deixes de ser o meu sangue.
Será que hoje as palavras são douradas como a areia do meu deserto, verdes como as cores do meu planalto, azuis como as cores do meu zulmarinho?
Não sei de que cor são as palavras que falo hoje, porque não sei que cor dar à suplica. Não devo dar cor escura porque quando me olhas, ou te vivo, me iluminas de luz clara, me transludes de sorriso.
Não sei que cor dar hoje porque não é um cinzento de saudade, não é cor de nuvem carregada de tempestade nostálgica, não é negro de medo de te perder para uma eternidade ilimitada de tempo.
Hoje falo-te de transparente silêncio.


Sanzalando

"Medusas" de Angola


2 de julho de 2007

Caminhos (6) - descaminho-me hoje

Me sento por aqui, saboreando o doce perfume salgado do zulmarinho que me vem bater aos pés como carícias.
Olho em frente e ponho-me ao caminho das palavras. Cansar-me-ei um dia, mas até esse dia eu dou os meus passos em frases feitas e faladas.
Como que palavra mesmo é que hoje vou começar?
Charmoso! É um começo sim senhor.
Elegante, inteligente, instruído, gentil, atractivo, prudente, fascinante, carinhoso, alegre, nostálgico, arrogante, simpático, amável, e outras tantas coisas que me vêem assim à cabeça. Não. Não me apetece começar por nenhuma dessas.
Vulgar, ignorante, irreflectido, inconsciente, triste, grosseiro, insignificante, repulsivo, desagradável, inaguentável, anónimo.
Desculpa-me, a sério, não ser um campeão e não começar por nenhuma destas palavras. Sinto muito. Sou humano e tenho limites.
Morte!
Mesmo sendo um fim é um começo. É pelo fim que hoje te começo a caminhar pelas palavras. Estamos sempre a ouvir que a morte é injusta e assumimos isso como uma verdade absoluta. Me desculpa que te diga que a morte é o único acto da vida em que a justiça existe. A Morte é a única que a todos trata por igual, sem importância do sexo, religião, raça, ou dinheiro. E falando em justiça me lembro que a morte é muito mais justa que a vida. A Vida não nos quer por igual.
Afinal de contas onde está a arbitrariedade, na vida que nos é infiel ou na morte que nos iguala?É mesmo melhor hoje descaminhar aqui sentado sem abrir a boca

Sanzalando

"Medusas" de Angola




1 de julho de 2007

Caminhos (5) - quero ser criança

Quando eu era criança achava que todas as casas era grandes, que todas as ruas eram avenidas e que todos os prédios eram assim arranhacéus. Mas mais importante que tudo isto, era que eu tinha a certeza que todos os adultos eram pessoas responsáveis.
Na caminhada para crescer fui vendo que tudo ia mudando e eu pensava era uma questão de relatividade.
Agora vou vendo que as casas grandes são as casas dos ricos, que as avenidas são apenas ruas difíceis de cruzar e os arranhacéus meros prédios de fachada. E os adultos são assim pessoas que vistas de bem perto e durante muito tempo ficamos sem saber se lhes encontramos alguma coisa parecida com responsabilidade.
Quando era criança acho tinha os olhos de inocência, conseguia ver para além do que eles me mostravam. Agora olho e vejo os plásticos uniformes de contornos pouco nítidos e imperfeitos rabiscos.
Quando era criança não pensava que um dia ia perder a capacidade de apagar as emoções. Hoje choro sem que ninguém veja.
Quando era criança não imaginava que um dia eu ia olhar para um prédio e não lhe ia ver um sinal de presença humana, não lhe ia sentir um claustrofóbico arrepio de estar sozinho.
Por isso continuo a caminhada em busca da minha liberdade de ser criança.

Sanzalando

"Medusas" de Angola





recomeça o futuro sem esquecer o passado