A Minha Sanzala

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24 de abril de 2008

36 - Estórias no Sofá - Amor doi (2 de 2)

Lis faz tempo deixou os estudos. Conseguiu que lhe arranjassem trabalho na Fazenda. Menos tempo sobrava para Combo Salu satisfazer o seu olhar. Era difícil ele aguentar tanta pressão. Tantas vezes ele lhe falou em silêncio que ela não lhe ouviu nem uma unica vez. Assim mesmo ela lhe ia ver no seu arder. Havia de se imolar quando aquilo estivesse cheio e ela a ver num primeiro e verdadeiro frente a frente.

Por baixo da roupa se forrou de jornais que embebeu em gasolina. Mentiria se não dissesse que Combo Salu estava com medo, assustado quase até ao pavor. Mas decidido, arrancou na direcção da Fazenda.

Respirava o ar fresco dos 22ºC que devia estar nesta tarde de depois do almoço assim misturado com o feedor da gasolina. Foi caminhando e pensava que era a última vez que fazia ambas as coisas: caminhar e respirar.

Uma carga de água caiu assim num repente que o deixou muito mais molhado do que estava e com a virtude de não estar com odor a derivado do petróleo.

Salu estava indeciso entre o chorar ou rir, pois era evidente que assim, nem que gastasse todos os fósforos que trouxera e ainda pedisse alguns emprestados, jamais conseguiria virar uma tocha viva. Mas nem estes pensamentos nem a chuva que não parava de cair impediam de o caminhar até à Fazenda.
Abrigado na esquina, tirou o telemóvel do bolso e com a rapidez habitual nesta geração teclou uma mensagem. Já que não consegui satisfazer o seu propósito ela iria ficar a conhece-lo na determinação. Ia aproveitar este molhado destino para lhe dizer pela primeira vez que estava perdida e incondicionalmente apaixonado. Fez através do teclado aquilo que ao longo dos anos não tinha conseguido fazer. Nesse mesmo instante o sol voltou a brilhar com a intensidade de ser 2.30 desta tarde de Março.
Já não havia condições para ser hoje o espectáculo do amor flamejante. Mas ela também não respondia ao SMS.

Vai haver outra tarde sem chuva. Ela verá o arder e o fumo subir aos céus em forma de coração. Ser-lhe-ia impossível voltar a cruzar-se com ela, suportar a indiferença. Estava atabalhoada e perdidamente apaixonado para tanto desinteresse.
Passou em frente da porta da Fazenda sem ter dado conta, assim como não dava conta que estava praticamente seco, excepto a sua cara que mostrava dois rios que desaguavam em cascata para o chão. Muita gente, como habitualmente, entrava e saia.
Um toque no seu telemóvel despertou-o desde pesadelo com que caminhava.
Clicou na tecla e leu: TE AMO MUITO E DESDE SEMPRE!









Sanzalando

1 comentário:

  1. Já que estava perdidamente apaixonado para... ou seria por??? gosto mais de "por tanto desinteresse", podia ao menos fazer o número do cospe chamas! Os contribuintes não dariam como perdida a ida à Fazenda.
    SJB

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