A Minha Sanzala

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30 de novembro de 2008

Construo pontes de outono


Olhei para um ponto do infinito. Atravessei chuvas, ventos e cacimbos apenas com o olhar para ver as tuas palavras, sentir o teu perfume. Guardei os meus gestos para esconder tanto desejo de te abraçar. Gastei apenas o tempo dum olhar, mas ficou a sombra do pensamento petrificada na minha vontade, constantemente martelada como se construísse uma mental estátua da minha vontade.
Um dia, assim num depois dum Outono construo mil pontes simétricas e caminho, se necessário, interminavelmente, até sentir o teu desejo, até ver-te reflectidas nos meus olhos, até sentir-me leve pela pulverização da sombra petrificada.
E eu neste Outono desejo-te tanto!


Sanzalando

28 de novembro de 2008

Zulmarinho de Outono


Faz frio que me dizem que é de Outono. Não preciso vê-lo, mas que o sinto isso sinto. Mas o que eu preciso de ver é mesmo esse de zulmarinho. É impossível evitar, como é impossível evitar de lhe andar mesmo que não lhe toque porque ele parece tem raiva e quer destruir tudo neste Outono. Mas mesmo assim ele me dá calma, uma calma que eu preciso, que me tire desta letargia, introspecção vazia de mim. Fui vê-lo e pareceu-me que ele ainda se recordava de mim. Tentei falar-lhe. Acho que nem eu me conseguia ouvir. O gelo do tempo congelou-me as palavras. Atirei-lhe um beijo. Replicou-me com gotas dum onda mais feroz.
A vida do zulmarinho também tem Outono.


Sanzalando

27 de novembro de 2008

Outono é saudade


Silêncio que me dizem é de Outono. As sombras são pardas. Os olhos vêem azuis nos cinzentos dourados do frio vento que teima em despentear-me as ideias numa congelação de factos.
As árvores não nascem ao contrário mesmo que eu ao contrário as veja.
Faz tempo que não me ouves na troca de palavras e dizes-me o quanto eu cresci.
É Outono mesmo que as palavras que eu te diga não tenham sombra. O silêncio escuro como sombra não tem rasto. Vais ver que eu sou sombra enrugada no peso das minhas próprias palavras.
É Outono porque eu tenho saudade. Apenas!


Sanzalando

26 de novembro de 2008

Procurando no Outono


Olho. Por acaso olho para o horizonte. Poderia estar a olhar para o céu, para o chão, para um dos quaisquer lados que o que eu veria era o mesmo. Olho apenas por acaso sem ver nada ao acaso. Afinal de contas eu só estou a olhar com o coração para ver se consigo ver o final duma estória que comecei. Não me apetece reescrevê-la inteira, não me apetece revivê-la outra vez. Afinal de contas só me falta escrever a parte final. E já me disseram que as coisas costumam estar mesmo à nossa frente e por isso eu olho. E olho para o horizonte que é o lugar mais longe que consigo ver. Já vi as luzes da memória, vasculhei curvas de tempo, pintei tracejados de presente e continuo a não ver o final da minha estória.
Deve ser do cacimbo mesmo estando um dia lindo de céu azul deste incerto Outono.


Sanzalando

25 de novembro de 2008

Outono em ponte

Caminho por este Outono incerto como quem procura a saída, uma porta para poder falar-te, um holograma onde me apareças sem nuvens, ventos ou rachando-me de frio. Deambulo neste labirinto de cores cinzas e dourados, fugindo das sombras falsas, das recordações que se tornaram pesadelos, das feridas cicatrizadas no vazio da alma. Caminho procurando não me perder num vagar, não me dobrar numa dor nem lacrimejar por fraqueza.
Caminho pelos caminhos do Outono como quem procura um raio de sol onde se possa aquecer.



Sanzalando

24 de novembro de 2008

Quem sou neste Outono


Só porque é um Outono carregado de melancolia eu me pergunto quem sou.
Às vezes me parece que sou a sombra parda que me acompanha pensativamente, aquela que escuta os meus silêncios e desnuda as minhas tristezas. Outras vezes penso que sou quem te acaricia quando te me apresentas irada, magoada ou triste. Eu sou quem te beija no silencio da solidão, quem quer entrar nos teus sonhos.
Tu não me podes perguntar quem sou porque apenas sempre me perguntas porque te quero!


Sanzalando

23 de novembro de 2008

Azul de Outono

É Outono mas o céu está azul que até me faz pensar está o teu calor. Eu sei que os olhos me estão a enganar. Sinto-o no corpo, misturado com o desejo que me aceites sem ser apenas como mais um meu abrigo para este e outros Outonos. Eu sei que as minhas palavras te possam parecer um pedido de urgência, mas sabes que o não são, como também não são palavras vãs, porque o são palavras claras que te soletro em voz alta despindo-me em liberdade.
É Outono e eu não quero que as coisas continuem tal e qual estão. Ajuda-me a dar mais um passo. Tantos os que eu tenha que dar.



Sanzalando

22 de novembro de 2008

Outono de outono


Sigo a linha do Outono, debruada em tons de ouro sob seu fundo cinzento. Com voz firme, umas vezes, gaguejando outras, vou manipulando palavras, circunscrevendo ideias, abrilhantando conceitos, opulentando frases, engrandecendo conceitos, suposições, entendimentos, silêncios. Tanto as vou esticando que muitas vezes já não sei assimilar o que resta do meu corpo e sobra da minha alma.

Além de ser Outono é também o meu Outono, parte do meu Outono. Sei lá o que sei para além do que sou.


Sanzalando

21 de novembro de 2008

Regressado ao Outono

Abri a janela e desconsegui de ver mais alguma coisa para além da ponta do meu nariz. Eu sei eram os primeiros raios de sol que chegavam aqui, naquela madrugada fresca. Mas os raios vinham tão foscos que eu até disse num assim para mim:
- Não se vê nada! esquecendo que além do nevoeiro, era ainda madrugada.
Na verdade eu é que não consegui ver. Estava assim como que cego de ideias, desmemorizado de imagem. Optei então por ir para férias, pensar como era há uns anos, ir atrás da memória, procurar a nitidez das coisas na certeza da vida. Afinal só consegui recordar recordações sem ter a certeza se era eu. As recordações deformaram-me, deram-me um tom imaginativo sem ter certezas absolutas. As recordações se deformam cada vez que são chamadas à memória e já descompreendi de saber quem sou, donde vim e para onde vou.
Já só sei que sou.
Mas ainda não foi desta que me atirei na dúvida da desistência.
Afinal é Outono.





Sanzalando

11 de novembro de 2008

11- NOV.-2008



Sanzalando

Muitos «Obrigados»

Interrompendo as férias para dar uma ar da minha graçaRogério Freitas Sousa: Obrigado pelo convite mas dia 13 é-me totalmente impossível estar na FNAC de Alfragide

Salucombu: Obrigado por teres feito chegar-me as fotografias tão saborosas e as palavras da 'Sebenta'... Um grande de enorme abraço

São Branca: como vou ter mais palavras para responder à carta? Faz tempo não recebia uma carta assim via CTT e com palavras que deixaram um tremer à volta da alma. Vou ler o livro e mal possa vou ver 'Navalha na Carne'

Muito Obrigado a todos os que se lembraram de me 'e-mailar'. Vai ser duro rever os 231 que aqui estão. Mas com tempo eu vou conseguir.

Um dia destes eu volto.
Sanzalando

3 de novembro de 2008

43 - Estórias no Sofá – ao telefone

Pouco me importam as mentiras que eu já te contei. Usei-as como desculpa de alguma culpa que eu tinha. Sabes que desconsigo viver sem ti. Mas também sabes que não consigo viver só contigo. É mais forte que eu. Vou fazer mais como? Machismo? Chama lá o que quizeres, mas foi assim que eu sempre fui e não é agora que vou ficar diferente. Homem que é homem é assim. Olha bem à tua volta.
É Outono aqui, quase verão aí.
Tentei mudar de assunto e quando assim é, o melhor mesmo, é falar do tempo. A cara ensopada dele não mudava.
Vou telefonar para o México, para um (inventado) parente que por lá tenho. (Enquanto estiver ao telefone não me incomodarão). Penso eu, que às vezes também penso mal.
Não funcionou. Toca o telefone que eu fingia estar a usar. Olho para o visor e fico com uma chamada em espera que eu atenda. Desconheço o número que aparece.
Será alguém do governo? disse eu como que a fazer-me de importante e ela continuava ali sem me dar imprtância nenhuma.
Atendo? Não atendo! Ele insiste. Por esta insistência deve ser mesmo do governo. Vou atender com uma máscara na voz.
- Alô, disse eu com voz grave carregado de agudos. Digo eu, que não percebo nada de música e não me dá para investigar a esta hora da quase madrugada, pouco falta para o almoço.
- Fala o sr…. ? omito o nome porque não quero desvendar a fonte, ao mesmo tempo que saboreio a doce voz feminina que me chega do outro lado do telefone. Como pode aquele aparelhinho minúsculo ter capacidade de reproduzir tão doce voz?
- Sim, sim, o próprio! Sem mais delongas respondi na voz mascarada de locutor de rádio, doce, quase de açúcar derretido.
- Estamos a fazer uma promoção…
- Quê?!!!! Já num outro tom que mais parecia ter saído dum ataque de mil mosquitos.
- Sim, somos da Empresa … (não digo porque não me apetece fazer-lhes publicidade) e na assinatura de uma… tentou ela continuar
- Espere lá. Quanto é que pagam?
- Desculpe?
- Claro que sempre ouvi que tempo é dinheiro…
e foi aqui que fiquei com um piiiiiiiiiiiiiii colado à orelha.

Sanzalando

1 de novembro de 2008

para o meu dia de finados

Todo o mundo acaba por morrer. Tu vais morrer. Eu vou morrer. Ele já morreu. Ah, e ele que nunca fumou, nunca bebeu outra coisa que não água, que sempre olhou para os dois lados ao atravessar uma rua, mesmo que a rua fosse de sentido unico tambéma acabou morto.
Por causa disso eu já escrevi o meu epitáfio, é só escolherem, quem estiver mais próximo, um. É que eu não sei data, não sei a hora e nem sei o local. É mesmo uma surpresa estas coisas assim. Mas para não ser apanhado de surpresa aqui estão:

1 - Eu nunca gostei da minha vida e acho que a vida também não foi muito à bola comigo. Assim separados estamos bem.

2 - Aqui jaz o que a terra há-de comer. Espero ser indigesto.

3 - Se eu pudesse começar tudo de novo eu desistia já.

4 - A julgar pelo que não dormi agora terei muito tempo.

Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado