A Minha Sanzala

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30 de maio de 2012

sentir sentido

Me esqueci se vinha da praia ou se estava na praia. Apenas sei que caminho a ouvir ainda o marulhar e a sentir a maresia. 
Me embrulho em pensamentos, me ato em sonhos e me embaraço nas figuras tristes que imagino faço em espécie de representação do que me passa na cabeça.
A verdadeira verdade de tudo é que tento me esquecer dum abrigo na estrada escura, sombria e poeirenta onde escondi a realidade. Essa estrada leva sempre no mesmo lugar, quer eu suba ou desça, quer eu venha, quer eu vá, quer eu me sente num passeio dela.
Me apetece gritar socorro, mas a praia vazia não me ouve o silêncio da minha voz calada. Se eu acender uma luz mental será que vou ficar melhor? Não, a estrada escura, sombria e poeirenta me ensinou a caminhar mesmo de olhos fechados. 
Me pergunto mais uma centena de vezes, como foi possível eu ter deixado o teu sorriso, o teu perfume, o teu calor e a tua essência que me brilhava nos olhos, abandonar-me assim numa tarde qualquer dum outro qualquer dia que eu penso nunca esquecerei.
Percorri longos caminhos, estradas rectas e outras tantas muitas curvas, galguei quarteirões alguns vazios e outros carregados de multidões, para tentar esquecer a realidade que escondi na estrada escura, sombria e poeirenta.
Sinto falta das cores, do teu zulmarinho, areiadourada e vento agreste. 
Sinto saudade de não te sentir esquecida na minha alma.

Sanzalando

29 de maio de 2012

baralhar para dar de novo

Levo o meu corpo pela beira-mar, num arrastar pesado de consciência tranquila, sonhos lembrados para mais tarde viver. 
Pé na areia bem marcado é como o sinal que existe no meu passado. Se está lá é porque não tinha motivo de continuar no meu presente. 
E eu caminho, passada larga, passada curta, marcando a areia da beira-mar onde me passeio e me digo que não me odeio, que não tenho piedade de mim e nem sou idiota, mesmo que o valor não seja assim por aí além porque ainda me recordo duns tantos papeis amarrotados, deitados num lixo qualquer dum dia de vida passada, em que eu me lembram que sou quase ninguém.
Num qualquer instante alguém se cruza comigo, quando eu cabisbaixo não vejo a existência do resto do mundo, e me pergunta como é que eu estou ou me afirma para não pensar nisso que tudo tem um final feliz, eu resmungo silenciosamente que não lhes interessa como estou ou como vou ou como termino, porque eles também passaram por mim arrastando o corpo num pesadelo de tempo que se gasta a passar.
Eu hoje juntei letras à beira-mar, para não sentir aquela dor que dói e não se sente, para me suportar no precioso tempo de dizer aos amigos um até já, que a preguiça é muita e a roleta do carrossel da feira já não toca as músicas de antigamente.



Sanzalando

23 de maio de 2012

Provocadoramente Árthemis

Sanzalando

regresso ao zulmarinho

Olho o zulmarinho como se fosse a última vez. Faz muitos anos que lhe olho como se fosse a última vez. E tenho voltado sempre a lhe olhar.
Tenho medo de persistir no erro e agarro-me a qualquer coisa como se fosse a minha bóia de salvação e reparo que é a minha dose de burrice. Não me lamento depois de fazer tudo errado. Lamento-me é de não ser perfeito e de pensar que não sou capaz. A vida não é um romance nem um filme de cowboys e eu não estou para fugir com o cavalo e deixar a donzela no bordel da vida. Estou insatisfeito e não me poupo a problemas. Complexidade da vida.
Por tudo isto olho o zulmarinho e busco a tranquilidade para além do mar, para onde múltiplas vezes viajo abraçado à memória.
Tenho medo de persistir no erro e de não me entender numa dor que dói sem machucar. 
Tenho de procurar a chave para a solução do meu problema. A única coisa que sei é que ela se chama auto-estima e deve andar algures por algum lugar da minha imaginação.
Olho o zulmarinho e me embalo na beleza dum marulhar bonito de se ouvir e numa maresia de se cheirar


Sanzalando

22 de maio de 2012

silêncios

Eu poderia dizer muitas coisas, mas hoje o silêncio fala melhor por mim. Já sorri, gargalhei até. Mas agora me apeteceu calar, embalar no silêncio, navegar nas ondas da memória recordar portos antigos. Hoje me calo atrás dum sorriso que me apetece sorrir por aí.


Sanzalando

21 de maio de 2012

vaguearei

Vaguei por ruas sem nome em cidades que não me lembro. Misturei ideias com memórias e raspas de pensamentos. Eu quero ter asas. Decidi assim num sem mais nem menos que eu quero voar. Sem medos, quero ser livre como um pássaro, não ter direcção nem lugar certo como destino. Assim, quando vir que não está certo mudo de rumo sobre um céu azul, cinzento ou negro, longe da tristeza, da dor, de todos os males que não fazem bem a ninguém.
Vou voar tão alto de modo que as pessoas lá em baixo me vão parecer formigas e eu vou poder saborear o gosto de algodão doce das nuvens que atravessar.
Vagueando por ruas sem nome serei perfeito porque livre.

Sanzalando

Bicicleta 32

Sanzalando

Tira 44

Sanzalando

20 de maio de 2012

as minhas palavras

Apesar de todos os pesares ainda continuo a falar mais do mesmo. Fixação, chatice, embirração ou falta de saber mais, porque não. Mas é sempre um falar de nós, as lágrimas que te chorei, as palavras que não te disse, as vidas que não te tive. 
Bater sempre na mesma tecla como se fosse uma música monocórdica, uma ferida crónica por sarar. Queria aprender a falar de outras coisas, dizer coisas ao mundo, em forma de livro, caderno ou sei lá, mas mal começo e tu estás ali, entrelinhas, nas linhas ou na página branca da minha memória.
Fiz tantas promessas que não passaram de palavras atiradas a abismos de memória como se eu ainda atirasse pedras da falésia a ver se chegavam ao mar e nem à estrada alguma chegou.
Juro que eu tento não falar de ti nem de nós. Juro que pedi vezes sem conta a minha independência mas as estâncias superiores da minha fixação não me a deram. Quis ser tantas coisas diferentes de ti mas o mais longe que consegui estar foi estares dentro do meu pensamento.
Ando para a frente e para trás, o meu quarto tornou-se pequeno porque a minha inquietude engrandeceu. Todos sabem o que quero falar e eu não sei nem como começar nem como acabar. Tu, sempre!
Da janela vejo os pássaros, alguns sei são beija-flôr e outros lhes baptizei de pardal porque nomes não sei, mas nem eles me conseguem distrair as palavras que falam de ti. O meu mundo pelos vistos não tem opção.
Monocordicamente escrevo uma canção e ouço um piano nostálgico vezes sem conta nas palavras que te falo.
Não é um drama, é somente uma vontade de gritar que quero ser eu, mais nada.
Queria apenas um abraço. Dos infindáveis, entenda-se. Adia-se.
Onde deixei o cigarro?
Já não fumo, é verdade. Mas as palavras continuam a ser as mesmas.



Sanzalando

16 de maio de 2012

presentemente de agora

Te podia dizer que estava no baloiço. No grande, daquele conjunto de três que parece é escadinha. Mas não baloiço com força de quem parece vai girar toda a volta como parece é um circo. É mesmo só na força necessária para balançar os pensamentos numa cadeia de parece terem continuidade uns com os outros. Te podia dizer mas não te vou dizer porque estou em todo o lugar que eu queria estar. Não espero ninguém, espero apenas o futuro.
Nesse futuro, em que deixei de lado as boas intenções para as juntar um dia a um final feliz, calcei uns quedes, vesti roupa leve de quase deitar fora e me ponho a correr atrás dos meus objectivos e deixar este presente com jeito de criança de que um dia o por acaso vai acontecer. É óbvio, obviamente. Cresço antes que necessite de levar uns tabefes para acordar a caminho desse futuro presentemente.
Eu sei que o mundo cobra as mudanças e os ingénuos ficam para trás soluçando lágrimas de faz favor obrigado mas fico por aqui. 
Não tem almoço grátis, não tem eu vou te levar não tem vento que te empurre.
Mas te lembra de me lembrar que antes desse futuro tem uma coisa muito importante:
- o presentemente de agora, onde ainda não estou no baloiço grande do conjunto de três que eram amarelos e que parecia faziam escadinha.


Sanzalando

Umbrelamente Árthemis

Sanzalando

15 de maio de 2012

sonhos meus

Me deixo pedalar pelos segundos da vida. Umas vezes sentado na falésia e olhando com olhos de fantasia para longes que não vejo, outras sentado num qualquer lancil dum passeio de juventude fazendo o que melhor sei fazer: sonhar. O sonho é a única coisa que ainda me resta, para além de todas as memórias e recordações, de todas as esperanças e vivências, de todos as decepções e alegrias. Afinal o riso espontâneo, o sonho, a esperança e tantas outras coisas são a única coisa que me resta. Tenho tanto que não sei porque choro.
A minha rua será sempre a minha rua. 
Os meus amigos serão sempre os meus amigos. 
Os meus sonhos nem sempre o serão. Podem ser mudados, transladados de urna em urna como que gastos pela vida.
Não finjo sorrisos, não invento ruas, não aldrabo episódios.
Está tudo nos meus sonhos. Escrito em letras garrafais, para que eu, mesmo com olhos enevoados de lágrimas, os consiga ver.
Hoje passo sorrindo pelas ruas da minha infância, as que me fizeram rir, chorar e outras que foram apenas ruas de passagem não marcada.
A mina rua, essa será sempre a minha rua, a dos meus sonhos, passados e futuros, mesmo que não tenha um presentemente existente.
Eu, tenho sonhos, AMIGOS, tantas coisas que cabem para lá da minha rua. Ficam nos meus sonhos.

Sanzalando

Bicicleta 30

Sanzalando

14 de maio de 2012

poema de amor sem poesia

Por aqui, por ali, tantos poemas de amor que fiquei de escrever que não sei por onde começar mais um. É verdade que nunca fui bom de letra e as palavras me faltam quando as sinto na ponta da língua. De verdade verdadeira que tu me fazes sentir inspirado. Cada vez que te penso, cada vez que te vejo em fotografia ou em letra escrita por outros sinto um arrepio e me apetece desenhar poema de amor como se eu soubesse todas as palavras que sinto por ti.
Não me canso cada vez que me repito porque eu quero que tu saibas que o amor verdadeiro não é aquele que chega primeiro, mas apenasmente o que existe de verdade.
Como eu tenho medo de ver desmoronar a falésia de sonhos que criei à tua volta.
Um dia, sem palavras, te direi cara na cara que te amo.


Sanzalando

13 de maio de 2012

o tempo

Olho no relógio e o tempo passa. Não sei se está a passar com a rapidez que eu lhe desejava. Me parece ele se arrasta no tempo que demora a passar. Aquela agonia, aquele desejo de ir embora, sumir para um lugar de inexistência em cuja a existência só eu sei onde fica, não adianta negar, me custa e não me ajuda. Parece já nada me importa mesmo que o tempo teime em passar no tempo que lhe demora.
Nuns sítios já derreteu a neve e noutros vai começar a cair. Nuns tem parece é tempo de verão, noutros parece vai ser noite longa de inverno.
Eu me escondo no tempo que passou no presente momento, porque eu sei ele não me vai revelar porque ele caiu no tempo esquecido.
Eu me mudo e o tempo parece também. O meu sofrimento me come, me modifica mas não me deixa ficar frio como o tempo que vou ter para um dia ficar.
É a vida e por isso nem todo o dia é dia de sorrir assim como também não é dia de todo o dia chorar.
É o tempo a passar no tempo que demora.
Me falta o tempo de reserva. Acho!


Sanzalando

11 de maio de 2012

tatuadamente

Me sentei num dos bancos de madeira da velha avenida ainda de chão de areia vermelha que não faz lama quando chove, antes parece fica mais dura. Não sei onde lhe foram buscar, mas acho foi boa ideia. Mas também não estou aqui para engenheirar ou filosofar sobre a chuva na falta dela. Estou mesmo aqui, no banco de madeira da velha avenida para te dizer que qualquer dia eu saio sem destino, páro num sítio qualquer, onde eu me vá sentir bem, agradavelmente bem e desato a escrever sobre ti, sobre nós, sobre  os tantos significados que me apresentas. Num resumo, eu te vou gravar em mim. Assim eu vou ter a certeza que em altura nenhuma eu me vou esquecer de ti e do quanto tu me fazes falta, de tudo o que aprendi em ti, dos sorrisos que dei em ti, dos amores perfeitos que me apaixonei por ti.
Aqui sentado num banco de madeira da velha avenida de chão de areia vermelha, eu lamento que não tenha gravado em lado nenhum o meu nome em ti, como se fosse a tua tatuagem de mim e que fosse o elo para não me deixares partir as vezes que parti.


Sanzalando

bicicleta 29


aproveitarei o dia de hoje que o de amanhã pode não chegar
Sanzalando

9 de maio de 2012

tenho dias


Tenho dias que prefiro ficar só. Isolado. Não quero que me vejam o quanto sou fraco, quando choro e porque choro. 
Tenho dias que prefiro ficar só. Isolado. Não quero que vejam o quanto sou normal, o quanto sofro com os meus problemas.
Tenho dias que prefiro ficar só. Isolado. Não quero que percam a imagem do forte, firme e feliz homem de vida.
Tenho dias isolados até de esperança.


Sanzalando

Tira 41

Sanzalando

6 de maio de 2012

Dia da Mãe.

Sentado na varanda que dá para lado nenhum, dou comigo a magicar ideias, sonhos e arrependimentos. Na verdade, mãe, é que eu não comprei nenhuma prenda para ti. Me esqueci, tal como faz mais de meio século que não compro no dia do pai, achei não era justo comprar com atraso de dois anos uma para ti.
Mas isso não é a parte mais importante. Importa mesmo é que não vou passar a hora do almoço contigo, gargalhando tu com as minhas parvoíces e falsas imitações, com as minhas estórias inventadas e perguntas que te levam ao rubor. Essa é a parte mais importante deste dia da mãe que eu não vou ter.
Afinal de contas eramos tão diferentes mas ao mesmo tempo tão iguais. Diferentes porque eras forte e não havia contrariedade que te derrubasse, mesmo quando este teu filho esquecia que uma palavra dita mesmo de longe podia valer mais de mil prendas.
Una coisa que hoje me lembro de te dizer, mãe, é que te agradeço do fundo do meu coração teres sido minha mãe.


Sanzalando

5 de maio de 2012

amor de cidade

Caminho para cima e para baixo, já estive na praia, me sentei na avenida, vim na rotunda do aeroporto e electricamente me pergunto porque é que eu gosto de ti. Não sei a resposta. Posso arriscar qualquer coisa, desde dizer que a tua geometria me enche as medidas, que o teu ar terreno é do meu jeito ou que a tua quase não existência é a minha implicância no assunto. Irrequietamente sigo pela junta das estradas até no benfica e continuo sem ter resposta para me dar. Entro na areia do deserto que começava aqui e tento acarinhar-te mentalmente com pegadas que o vento apagará e mantenho-me sem resposta.
Se calhar são as noites de silêncio com que me abraças todas as noites e por isso durante o dia me electrizo por estas ruas quadradas e quase planas num perguntar sem ver respostas.
Afinal de contas deve ter sido a coisa mais simples que é o amor à primeira vista.


Sanzalando

2 de maio de 2012

a mar com amar

Caminho desde a ponte até no estaleiro. Cabeça a olhar na areia como que a procurar algum tesouro ou apenas para esconder o meu olhar de quase morto. Nem eu sei porque caminho assim escondendo os meus olhos que têm sabor a mar. É só uma questão de tempo. Eu te esquecerei como te esqueci já tantas outras vezes. Lembro-me apenas porque me mostram fotos tuas e aí, como um despertador, me lembro de todos os abraços, todas as carícias, todas as palavras, tudo o que tínhamos para fazer e não foi feito.
Caminho me lembrando de todas as ilusões que ainda vão aparecer no meu caminho e eu solitáriamente direi para mim que eu sou apenas mais um para ti. Defendendo-me.
São tantos os que dizem ser teus que eu até da minha sombra me despego por ciúme.
Não sei quando sentirei o teu perfume, quando respirarei o teu ar ou quando me abrigarei dos teus ventos. 
Caminho desde a ponte até ao estaleiro de cabeça baixa procurando um tesouro, dentro de mim.
Na verdade este meu amor é bem maior que eu. Se não o fosse eu já te tinha esquecido, tinha caminhado noutra direcção, tinha visto outras fotos e não tinha acordado para ti.
Te amo mais que ninguém, não existe maior amor que nem o meu. Quantas vezes já ouviste isto noutras vozes e em surdina?
Caminho com olhos a saberem a mar, ou será amar?

Sanzalando

Bicicleta 27

Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado