A Minha Sanzala

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3 de dezembro de 2013

60 - Estórias no Sofá - ressuscitar amores mortos

Jotajota, amigo de longa data, daqueles que basta a gente pensar ele aparece, lhe encontrei de olhar falecido quase morto, de voz calada quase abandonado dele mesmo. Quase eu ia chorar de lhe ver assim. Eu sabia a vida lhe estava a ser madrasta má como nos contos de fadas da minha infância.
- Mermão, a vida não acabou e o que é que está a acabar contigo? lhe perguntei sem mesmo saber se eu queria saber a resposta que ele me ia dar.
Me olhou sem brilho, sem face e quase parecia era fantasma dele mesmo.
- Lhe vi numa fotografia! me afirmou seco como se isso fosse o fim do mundo dele e devia ser do meu.
- Mermão, fotografias há muitas como tem gente bué por aqui e por ali. Acorda que isso é só pesadelo. disse como que a tentar limpar o pó da alma dele.
- Lhe vi e ela não estava a sorrir. Ela tinha desânimo na cara, misturado com saudade e morte nos olhos. me disse ele com todas as certezas mais certas deste mundo e do outro se é que há.
- Lá estás tu a ver fantasmas. Lá estás tu a matar a torto e a direito e a matar-te em simultâneo. até parecia eu era doutorado na matéria de ajuda. - Ela já te esqueceu como esqueceu todo o mundo que te rodeava. Faz tempo isso acabou. Não me obrigues a fingir que eu acredito que tu consigas ver por uma fotografia que ela tem saudades tuas quando eu sei faz tempo ela não pergunta tu és vivo ou falecido, como parece que estás agora. rematei tudo num fôlego não me fosse faltar zanga para juntas nas palavras.
- Não se pode dizer-te as coisas. Eu vi que ela está triste ou pelo menos não está bem! afincou-me como se estivesse a dar-me um murro.
- Mermão...  eu acho tu não consegues deixar de pensar nela nem um segundo faz anos. Tenho vontade louca de esmurrar-te até sangrares do nariz e veres o que é a realidade e a tua fantasia imaginária. Não entro no teu filme. Não entro nessa piada porque lhe sinto ódio do que te fez e te faz sem saber.
- Não... eu tenho é ódio de mim porque eu devia lhe ajudar agora ela parece precisa e eu eu estou aqui a gastar o tempo a te contar e tu ainda refilas parece tens razão. acho lhe ia começar a sair fogo dos olhos.
- Jota, intervala desse pesadelo e me ouve. É bom que sintas ódio porque antes ódio que indiferença. Tu tens cada recaída que até parece cais do abismo.
- Não, não. Eu vivo bem sem ela. Me custa é lhe ver sofrer.
- Numa fotografia que nem sabes quando foi tirada consegues saber que ela está a sofrer agora? Vai-te catar! disse eu já sem a paciência que me caracteriza na matéria de ajudar e ouvir os amigos.
- Eu não voltei atrás. Eu estou bem. Mas na foto ela não está. Lhe conheço bem. 
- Te mete num avião e vai lá e lhe diz tudo.
- Tás doido? Nunca! O que ela me fez?
- Tás a ver. Agora estás a dar-me razão! disse eu no meu jeitinho de lhe criar uma nova explosão.
- Ela sofre e eu tenho de lhe ajudar. Me ajuda a arranjar uma maneira de ajudar sem parecer que eu estou a ajudar. me disse ele como se eu fosse o rei do problema.
Olhei em redor, procurei migalhas de carinho pelo chão, procurei bolas de amor, sorrisos de simpatia e arranjei qualquer coisa que lhe atirei na cara:
- Ela é a actriz principal dum filme que nunca foi filmado e que só existe na tua cabeça, ela é o bicho que te consome devagar, o fado triste que vives. filosofei do alto da minha cátedra, como ouvi à dias um mais velho falar.
Ele me atirou outro olhar de raiva, momento em que pensei é agora que vou levar porrada que nunca mais me endireito.
- Mermão Jotajota, leva com calma, ela te destruiu, ela é a dona das tuas curvas inclinadas, do teu olhar pesado, da tua boca sem sorriso e tu agora te viras contra mim?
- Camba, desculpa mesmo, é que às vezes a vontade de ressuscitar às vezes é maior que a verdade real.
Me calei, demos um abraço, e fomos beber umas e outras.
- Mermão, estávamos a falar mesmo de quê?
- Deixa para lá que já nem me lembro.
- Mas te pergunto então agora o que é que tu tens?
- Nada. resposta pronta, rápida que até parecia estava a pedir para sair.
- Desculpa há alguma coisa de errado. Para a gente vir para os copos é porque tinha qualquer coisa.
- Não tenho nada e é isso que está errado. O nada que eu tenho me machuca mais que qualquer coisa
Foi então que eu decidi ir para casa, tomar uns sais de frutos, ouvir um semba e quem sabe à noite eu ia ser rei



Sanzalando

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