A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de março de 2014

podia ser eu

Podia ser eu o único sobrevivente dum qualquer acidente e pelo facto de eu ser tantos, com a minha imensidão, encheria o mundo de desencantos e quem sabe de solidão. Até parece versejei à volta de tamanho umbigo que se não sou eu que digo mais ninguém ousaria falar.
Podia ser eu, dançando à chuva, a festa do tempo a destempo, descendo a minha rua à luz da lua e cantando baladas de silêncio.
Podia ser eu, rebolando na areia da praia, abraçado a ti e gargalhando feliz com sabor a mar.
Podia ser eu, nas minhas palavras, confundir-me na minha confusão e feliz passear por sonhos e desejos.
Podia ser eu, mas não estava lá e soube mais tarde, que ser feliz é possível desde que a gente sinta com os sentimentos da gente e dia após dia vim a aprender trovas de amor.


Sanzalando

30 de março de 2014

tempos

Não sei quanto tempo passou. O tempo sobre mim não muda. 
Muda-me o teu sorriso. Transforma-me o teu olhar. Cala-me a tua voz.
O tempo é de chuva e o tempo sem tempo de perder-se.
Não sei do tempo mas brindo-lhe, ao que não deu certo e que me fez ser como sou e nem lhe notei a falta.
Faz tempo que o tempo não é estável enquanto o tempo decresce.
Um sorriso, um olhar, uma voz e tempos tempo novo.


Sanzalando

29 de março de 2014

olha para mim

Olha para mim de cabelos ao vento, olhos semi-cerrados como que a proteger dalguma areia perdida, a olhar o horizonte de parte incerta.
Olha para mim nesta vida desarrumada de casa alugada a termo certo.
Olha para mim a não fazer nada mas a imaginar tanto.
Olha para mim de vida estragada ou eu a estragá-la.
Olha para mim e eu sou mesmo esse, de olhos semi-cerrados a proteger-me do vento que sopra a favor desse meu horizonte incerto e eu quase perto.
Olha para mim e me diz gostiiiiiiiii, com o teu sorriso malandro de quem está para fazer alguma que me faça feliz.



Sanzalando

28 de março de 2014

silêncio para arrumar

Caminhamos lado a lado, silenciosamente como que a não queremos incomodar um ao outro. No teu rosto, de relance, pareceu-me ver uma lágrima a escorrer pela cara. Perguntei, sem te olhar, porque choravas e respondeste-me secamente porque sim, não alongando a conversa que deverias estar a ter contigo mesmo.
Continuamos à beira mar interrompendo a caminhada monocórdica apenas com uma ou outra onda mais agressiva.
Matutave eu que não era pessoa interessante, primeiro porque não queria e segundo porque dava muito trabalho, ao mesmo tempo que tentava ler o turbilhão de pensamentos que te atormentavam. 
Querias um espaço sossegado e eu não to dava. Estava demais preocupado em não reviver a solidão.
Silenciosamente continuámos e ainda agora me pergunto porque não tenho capacidade de te ajudar a arrumar esse tormento.


Sanzalando

27 de março de 2014

eu queria de quero

Eu queria fazer as minhas palavras flutuarem nesse mar de vida, encherem páginas de ternura e transbordarem nesse sorriso de gente gira.
Eu queria que as minhas palavras de amor fossem mais fortes que todas as opiniões juntas.
Eu queria que todas as minhas frases fossem um equilíbrio que não me desequilibrassem nunca.
Eu queria ter palavras que falassem dos meus erros como se eles fossem apenas passagens.
Eu queria que as minhas palavras te chegassem ao ouvido como doce música.
Eu queria tanto tanta coisa
Mas eu quero apenas a continuar a ser eu, com defeitos e virtudes, amores e desamores e ter palavras para te dizer sempre.


Sanzalando

26 de março de 2014

soletro certezas

Soletrei palavras em silêncio como que a contar-me uma estória para mais tarde me lembrar das coisas, das pessoas e das épocas. Escolhi palavras fáceis de decorar em estórias fáceis de contar. 
Por agora  me lembro dos velhos chinelos feitos de pneu, da menina que conheci parece foi ontem, da paixão que me bateu quando, eu acho, estava distraído a sofrer da vida e sem dar conta sorri o sorriso que trago.
Soletrei palavras simples de silêncio calado para me lembrar mais tarde que na vida tudo passa mas duas certezas ficam: o tempo pode atropelar o coração e eu não terei tempo para ver quem me atropelou,  ao mesmo tempo que sei que a vida continua mesmo que eu esteja apenas a sobreviver.
Soletrando palavras caladas eu decorei todos os momentos em que o meu coração foi trucidado, doeu ou sangrou de lágrimas choradas. 
Hoje eu apenas recordo todas essas palavras, transpirando sorrisos como que a ler a segunda certeza, com a certeza que hoje vivo.


Sanzalando

25 de março de 2014

Ninguém

Ninguém se vai lembrar daquele bom dia cheio de amor que eu disse na semana passada. Ninguém se vai lembrar daquele favor que fiz no mês passado. Ninguém se vai lembrar do presente que dei o ano passado.
Ninguém se vai lembrar nem de mim nem das vezes que vesti a camisa do avesso, que esqueci de fazer a barba ou pentear.
Ninguém se vai esquecer daquela vez que eu me esqueci de dizer olá, daquele dia que eu estava de cabeça cheia e não respondi a uma pergunta formulada ao acaso, daquele mês que estive sem falar incluindo comigo mesmo nem daquele ano que tudo deu errado na vida.
Ninguém se vai lembrar que falo apenas das coisas ruins e das coisas que ninguém se orgulha.
Ninguém se vai lembrar que o amor se faz de escadas, escaladas escarpadas e escancaradas dores de tanta coisa escarrapachada no dia a dia.
Ninguém se lembra que eu sou gente que às vezes tem comportamento de gente.
Ninguém se vai esquecer que chorei até sorrir quando te encontrei.
Ninguém vai querer nem saber que fui eu quem rascunhou palavras de silêncio em cada pensamento sobre ti.
Ninguém vai correndo saltitando para os meus braços se não tu.
Ninguém vai saber que estas palavras já não são minhas porque te as dei.

Sanzalando

24 de março de 2014

dancei kizomba

Deixei tocar no rádio uma kizomba e quando dei por mim gingava parecia era cobra, usando as palavras exageradas para esquecer que as curvas já não são assim como que eram antes. Dancei de corpo e alma, sendo que esta ultima foi quem mais dançou.
Embalado neste espírito dancei mesmo para lá da kizomba e me lembrei que tem gente que vira memória, assim como tem gente que vira passado e outra gente se vira para estar só assim num lado qualquer.
Embalado pela kizomba me lembrei que carícia é falar com as mãos doces de quem gosta.
Embalado na dança me lembrei que tornei lei a decisão de ser feliz, sempre.
Dançando mentalmente te pisco o olho rebolando na kizomba.


Sanzalando

23 de março de 2014

A verdade não pode ser calada mesmo que dita em silêncio

Tem dias eu me digo que vou calar as palavras que só as gasto. Mas depois parece acordo e ouço a tua voz a me dizer para te falar. Uso então as palavras e mostro o meu estado de alma, de calma e na parte lisa duma folha de papel eu escrevo os sons do meu pensamento. Converso no meu silêncio contigo e tu tantas vezes me pedes mais que eu até tenho medo de te cansar. Mas a verdade é que perco as palavras que poderia guardar para falar de ti, de nós e não me sentir que repito vezes sem conta esse estado. Às vezes dou comigo a falar de qualquer coisa que não tu mas na verdade é de ti que falo. Ocupas um lugar em mim. Melhor diria se usasse as palavras para dizer tu ocupas-me no todo. Era mais verdadeiro. Mas na verdade eu não quero que saibas isso. Mesmo se com silêncio eu te diga que é verdade.
Uso as palavras confusas, como se a minha mente fosse uma confusão de pensamentos. Mas linearmente tu estás no meu coração, na minha mente na minha existência. Me completas, em resumo e eu posso fazer mais o quê?
Usar as palavras como até aqui! A verdade não pode ser calada mesmo que dita em silêncio


Sanzalando

22 de março de 2014

qualquer coisa

Assim mais ou menos qualquer coisa. Que não seja deprimente, acrescento eu. 
Procuro a minha voz mais limpa, os acentos circunflexos, agudos e graves bem polidos, e tento dizer que não sou assim que nem um carro que se dá à chave e já está. Na verdade se não estás com a mão no guiador eu não consigo andar direito.
Assim mais ou menos qualquer coisa do estilo os anjos cantam a minha música. Não faz sentido! Lá fora está vento, sente-se frio e eu aqui a olhar para as paredes. Deprimente. Rasgo as palavras que disse e as atiro para o balde do silêncio.
Penso mais um pouco em qualquer coisa.
Na verdade eu não sou colecionador de erros e até nem me posso queixar a não ser da hora tardia que te olhei. 
Assim mais ou menos qualquer coisa optei por ficar em silêncio a ver os pássaros voarem e a olhar-te de memória com a certeza de não te amar erradamente mesmo que platónicamente por debaixo duma árvore que me dê sombra, mesmo que eu tenha que esperar ela cresça.


Sanzalando

21 de março de 2014

Me

Me escreveram a dizer que quem escreve constrói castelos e quem lê mora nele e eu disse que sim.
Me disseram que hoje, faz 25 anos, nasceste e eu confirmei.
Me mostraram que se pode sorrir sempre e eu acenei com a cabeça afirmativamente.
Me deram um papel a dizer que o amor é capaz de transformar um inimigo em amigo e eu sublinhei.
Me disse eu mesmo que eu era um porto seguro e eu respondi que era.
Tantas formas de eu ser que cruzo os dedos, fecho os olhos e peço para dar certo. É que com tanta água que já correu, já não sei se era o céu que chorava se era eu que chovia.
Acho é difícil recordar depois de tanto tempo depois.
Vos gosto.

Sanzalando

20 de março de 2014

metido na minha pele

Metido na minha pele é que consigo saber quem eu sou, de contrário, penso ser um gajo por ali sentado ao deus dará, que se chora é porque exagera, se ri é porque é louco.
Metido na minha pele é que sei de deveria ter dado ou não ouvidos a todos, a algum ou a nenhum dos conselhos que me deram.
Metido na minha pele é que eu sei que experiência fiz é que deram certas ou erradas.
Metido na minha pele é que sei que faz tempo eu devia ter olhado para o meu horizonte com que tipo de olhos.
Metido na minha pele eu é que sou eu e não um fruto da minha imaginação.


Sanzalando

19 de março de 2014

a vida de pai, da amigo e namorado

Não me importam as dores, as angustias, as decepções porque ainda tenho de passar. Escolhi ser verdadeiro. O meu caminho é o abraço apertado, o aperto de mão verdadeiro, o beijo saboreado. Não estranhes a minha maneira de rir nem de te fazer sorrir. É assim que eu passei a ver a vida e é assim acho que lha vou viver.
Tantas vezes procurei a aventura e me perdi na selva das ideias. Quantas vezes deixei de ver porque tinha os óculos no bolso? Tantas vezes fiz o filme em câmara lenta e a preto e branco. Quantas vezes chorei lágrimas evaporadas para ninguém ver só porque tinha vergonha?
Não me importa mais outra que não a minha opinião.
Vou por este caminho, que escolhi ou fui-me escolhido... gosti, coração e não digas que falo de amor. Falo mesmo de vida. A escolhida, desejada e não perdida, mesmo que ainda me faltem dores, angustias ou decepções.
Falo de pai. Falo de namorado. Falo de amigo. Falo de mim, sem invejas nem gaguejos, sem soletrar ou sucalcos temporais.
De cadeira, feita na faculdade do tempo, te digo, ainda bem que sou assim como que nem eu mesmo.


Sanzalando

18 de março de 2014

delirando

Vou tirar férias de mim, vou dar um tempo às minhas preocupações e caminhar a teu lado sorrindo como se o meu mundo fosse um mundo aberto e tu o meu eixo. Vou partir por aí, levando-te, para sarar as minhas feridas e aproveitar cada segundo como se fosse o último. Vou seguir sem medos, sem prisões e sem olhar para quem me olhar de lado, olhando para ti, seguro, sorrindo, chorando, bebido ou emocionado, mas vivo.
Vou tirar férias de mim e entrar numa viagem pela vida, sem paragens, sem saber de passageiros nem de final feliz, desde que segures a minha mão e de vez em quando me sussures, porque o bom é estar feliz.
É, vou seguir viagem tendo a certeza que vou ter muitos momentos de felicidade porque é bom estar junto de mim e de ti.


Sanzalando

17 de março de 2014

Eu sei, sorrindo

Sorri à vida, coração. Me dizes tu ao ouvido.
Na verdade não posso dizer que não fui avisado, que não li os filósofos e que não ouvi os mais velhos falarem-me sobre o tempo perdido. Até os poetas se cansam de falar nele. 
E eu que perco tempo pagando para o tempo passar...
E eu que perdi tempo chorando, aninhado num canto como que a fingir que o tempo não se gasta.
E eu que fugi do tempo como se ele me gastasse e ele me desgastou.
E eu que gostava de crescer para não gastar o tempo que tenho para gastar, olhando-te feliz a sorrir-me e a dizer-me para sorrir à vida.


Sanzalando

15 de março de 2014

Levo as palavras ao mar para as lavar

Levo ao mar as palavras para as lavar. Aproveito o sal para limpar os parágrafos que têm palavras que mostram obstáculos, que criam barreiras no meu olhar, que me levam ansiedades aos meus silêncios.
É assim que o mar leva as palavras que desperdiço porque não têm sentido, não reflectem sentimento, não acariciam o gosto, não emitem sons, não cintilam como estrelas, não perfumam como cheiros, não sopram como brisas, não balouçam como redes de repousar nem chegam a horizontes de olhar.
Levo ao mar as palavras que não são beijos e misturo-as com as lágrimas que às vezes apetecem chorar.
Levo as palavras ao mar para as lavar.


Sanzalando

14 de março de 2014

hoje

Hoje me apetecia desligar e ficar apenas a olhar o céu, esperar anoitecesse e olhar as estrelas e quem sabe assim adormecer.
Hoje dirias-me: benvindo ao meu delíro!
É. Hoje me apetecia o silêncio do teu colo. Uma ou outra carícia apenas para me tirar o cabelo dos olhos ou afugentar algum pensamento menos bom que pudesse aparecer.
Hoje me apetecia falar menos e olhar mais a vida, recordar um ontem, um beijo e quem sabe um olhar.
Hoje acho vou ficar a olhar-te estrelas


Sanzalando

13 de março de 2014

Fecho os olhos

Fecho os olhos para te encontrar. Deves estar no local mais que provável, porém não estás agora a meu lado. Com os olhos fechados estás junto a mim. Assim é-me fácil sonhar.
Fecho os olhos e lembro o teu sorriso, aquele capaz de acabar com qualquer guerra, qualquer zanga ou amuo.
De olhos fechados te encontro e me sinto num porto seguro. Fossem tantas da madrugada e eu te ligava para dizer te gosto. Assim, num recanto da tarde, me encosto a um sonho e te acaricio como se tivesse todo o tempo do mundo.
Fecho os olhos e me levo até mais logo quando te reencontrar a meu lado e depositar palavras num diálogo de gente séria que sorri por tudo e nada.
Fecho os olhos para deixar fluir o tempo.


Sanzalando

12 de março de 2014

o que sei

Só de te ver sorrir eu consigo chegar ao céu e a saudade me abraça se não te vejo. 
Eu sei que uso as palavras sem pedir licença, desculpas ou por favor. Sei que as uso sem dizer obrigado e sem as polir. Sei que as não protejo do sol, vento ou chuva. 
Só saber que podes estar a sorrir eu sinto saudade sorrindo.
Eu sei que prefiro as palavras de mãos dadas às palavras caladas nos silêncios de medo ou apenas receio. Eu sei que as uso como carícias, massagens ou tantas vezes como lágrimas.
Só saber que que te conheci pelas palavras choradas e vazias de alma me faz sentir saudade de te olhar nos olhos e respirar fundo na calma dos céus inacreditáveis, descruzar os braços e não me esconder na máscara da rudeza que não tenho.
Eu sei que sorriste e disseste muito no silêncio do teu canto.


Sanzalando

11 de março de 2014

atleta de alta compenetração

Armado em atleta caminho subida acima. Subo pensamento em pensamento como se fosse uma aula do ginásio. Por vezes o pulso sobe, outras entra em modo repouso. Olho para o lado e lá vens tu sorrindo a meu lado, tal atleta que nem eu.
Na fase de descontracção te digo:
- faz-me um favor
Sorrindo me respondes:
- Tudo!
Gargalhando remato:
- quero que sejas muito feliz!
entreolhamo-nos, entrelaçamos os dedos e continuamos subida acima como se fosse modo repouso.

Sanzalando

10 de março de 2014

Sentado à beira mar

Sentado na beira mar, vestido de inverno imaginando verão, dou comigo a sonhar que já não quero ter lembranças, quero é ter-te aqui a meu lado, ouvir-te respirar, responderes aos meus silêncios e quem sabe saborear um ou outro abraço de coração.
Sentado à beira mar, com tudo para poder esquecer, só me apetece lembrar-me cada vez mais de ti e ter-te aqui a meu lado ouvindo o marulhar.
Sentado à beira mar, tentando pensar a preto e branco, cada vez que me recordo de ti, pinto de cores garridas todos os meus pensamentos.
Assim não vale. Sentado à beira mar sem ti, é complicado esquecer o teu sorriso.

Sanzalando

9 de março de 2014

foi ontem ou será amanhã

Ontem fez sol e me lagartei na praia abrigado do vento forte que suestou, só mesmo para me irritar, despentear e quem sabe ver se eu me arrependia de lagartar.
Aproveitei e da poesia fiz aventura, fotossíntese de equilíbrio do meu ser físico e do que existe para lá da minha vagabundagem mental.
Reflecti. A minha sombra se compridou na calçada, rumo ao desconhecido, ignorado do tempo mas crescendo com ele.
Pensei e recheei-me de saudades mesmo estando ao teu lado pelo que falámos a tarde toda e acho resolvemos o problema do mundo mesmo que ninguém tenha sabido.
Fiz-te um poema que debitei enquanto dormitavas e absorvias o sol:

Às palavras desperdiçadas
juntei olhos esbugalhados, 
ondas do mar que não se desfizeram na praia,
carícias que não dei,
sons que não emiti, 
constelações que não conhecia
e beijos que não dei.

Às palavras caladas
juntei ventos fortes, 
cantei o bem me quer, 
misturei o meu temer
e soletrei amor.

A todos os silêncios
juntei amor, 
embrulhei
ofereci-te
e sussurrei:
com amor!


Sanzalando

7 de março de 2014

lembro-me de tudo

Caminho na areia da praia e dou comigo a pensar que não sei quando comecei a achar o teu sorriso bonito. Nem me lembro quando comecei a desviar o meu olhar para os teus olhos. Já nem me lembro quando foi que comecei a olhar para o meu telemóvel a ver se ele tinha alguma chamada que eu tenha deixado passar em claro, distraidamente.
Já não sei quando foi que comecei a dar importância ao teu tímido falar-me.
Raios que me molhei nesta onda que quase percorreu rasteiramente toda a praia e me apanhou distraído.
Raios que com isto me perdi e já não me lembro quando foi que comecei a pensar em ti o tempo todo.
Na verdade não me lembro quando me deixar de preocupar de te esconder os meus defeitos, te passei a contar os meus sonhos e fiquei sem medo de te perder.
Já não sei quando a minha mão deixou de ser tão minha e passou a ser também tua.
Já não sei quando passei a fingir tanto esquecimento só para não te dar trunfos


Sanzalando

6 de março de 2014

esse meu sol

Olha só como é que hoje o sol até parece que brilha. 
Não estivesse muito ocupado até lhe ligava. Me entendo. 
Se ele só brilha hoje e amanhã não brilhar até que lhe entendo. 
Se esse sol esquecer de me iluminar num depois de amanhã, acho que ainda lhe vou entender. 
Se ele se esquecer de me usar para fazer sombra, até que eu lhe entenderei.
Mas se eu deixar de olhar para esse sol, desculpa lá, não vou entender mesmo.
É que nada funciona se não estiver abraçado ao que eu gosto.


Sanzalando

5 de março de 2014

até às lágrimas

Com ar de quem quer rir me dizes para escrever nostalgia, dor e sofrimento. Mas eu esqueci essas palavras e acho foste tu quem me disse como soletrar outras bem diferentes. Assim, no meio de reticências, franzindo o sobrolho, assobiando para o lado, perscrutando a alma, reconheço que ser feliz é reconhecer que vale a pena estar vivo mesmo no equilíbrio instável, com o esqueleto com espírito de ser o autor da própria estória, atravessando desertos e vendo oásis para lá das miragens, acreditar no milagre de acordar, de sentir os sentimentos e saber que a crítica pode existir mesmo que injusta.
Com ar de quem me faz rir me pedes lágrimas e eu só me lembro que a solidão só me era benéfica porque me afastava dos problemas, não os acabando, das decepções, escondendo-as e das pessoas, afastando-as e que mesmo assim não sequei as lágrimas, apenas calei palavras de silêncio. 
Fiz-te chorar até às pedras da calçada? Mas a verdade é que não podes dizer que não tentei, porque tentar eu tentei, mas já não sei.


Sanzalando

4 de março de 2014

coração gigante

Desenho na areia da praia um coração do tamanho grande, num acho eu, e rabisco por dentro um gosto de ti. Me sento do lado de fora a lhe olhar e à espera que esse grande amor que escrevi se transforme em fogo que me clareie os pensamentos e me continue a trazer um sentido, uma paixão, um desejo, um abraço, um beijo. Que seja assim mesmo grande tanto quanto lhe imagino.
Lhe olho de fora e me ouço dizer que a minha vida vazia se foi embora com a agonia e me trouxe luz cintilante no coração, borboletas na barriga e quem sabe um sorriso novo na cara.
Olho para areia da praia onde desenhei um coração do tamanho gigante, acho eu, e com escrita inteligente, penso eu, te mando dizer gosti.
Eu amo, tu amas e o verbo continua por aí fora. Não sei quem foi que pensou que o verbo amar se conjuga só na primeira pessoa do singular num presente quase ido.
Olho para o coração gigante e escrevo na alma o que fica na memória.


Sanzalando

3 de março de 2014

caminhando

Caminhando à beira mar vou saltitando ideias, desfazendo preconceitos, erguendo teias de dúvidas e por vezes verificando óbito de medos e de falta de confiança.
Tem momentos que exagero na intensidade do querer que parece não paro de correr até morrer num quase tanto sufocar. A questão até não está no não tentar, no lutar no que quero, mas mais sim no deixar fluir como que deve ser. Faz conta é mergulho, a gente mergulha só até onde pode e nunca até onde quer.
Caminhando à beira mar eu fiquei a saber que havia estrelas no céu, mesmo nas noites de tempestade.
Caminhando à beira mar fiz as pazes com o o meu espelho e segurei-te na mão para caminharmos lado a lado mesmo sabendo que temos lados frágeis

Sanzalando

2 de março de 2014

escrever

Se eu me escrevesse uma carta ao futuro ela seria sem nexo, não teria anexo e não sei como seria a parte sobre sexo.
Na verdade eu teria que escrever sobre passado, o actual e o passado propriamente dito, o que me poderia deixar em estado de quase loucura. Teria que escrever sobre os tempos desocupados e o incansável tempo sem tempo de respirar, teria de escrever sobre o intolerável, desejável e o frustável.
Mas porque escreveria eu uma carta ao meu futuro se estou bem neste presente de agora?
Aqui estou eu, salvo erro, a escrever-me no presentemente


Sanzalando

1 de março de 2014

Tem dias são assim.

Sopra vento forte com gotas de água parece é chuveiro avariado. e eu sigo à beira mar como naufrago em busca de lugar seguro. Tem dias assim.
Olho o relógio e sigo à risca o horário. Vou atrasado para lado nenhum e por isso acelero o passo e quase piso a areia sem lhe tocar.
Tropeço palavras e troco pensamentos.
Não é morrer que deve ser ruim. Ruim é mesmo estar assim só, perdido.
Seguro na tua mão. Aperto-a com força como que a me segurar para ter a certeza que não me deixo levar na solidão. 
Contra ventos e marés caminho ao teu lado, me digo.
Tem dias são assim, até parece eu colecciono lágrimas.


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado