A Minha Sanzala

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17 de março de 2015

63 - Estórias no Sofá - Uma garrafa pela pensão de viuvez

É tão bom ganhar assim um presente inesperado, ouvir uma coisa que nunca nos pensou na cabeça ouvir, receber um abraço assim como sem motivo, trocar um sorriso a dar ao desconcertante. Viver assim uma coisa simples numa complexa vida que mesmo depois de morto deve continuar a dar prazer. 
Assim num repente alguém desmaiou ao pensar que eu louquei de loucura irreversível.
Explico. 
Eu, Cipriano Acácio de nome registado no registo, já não me lembro nem de onde, assim fez o tempo que passou, casado com mulher mais jovem, de boas parecenças e saúde de ferro novo, faleci de natural morte, com vidas gastas em boa vida vivida, gargalhadas e outros prazeres sentidos na alma, sem dívidas à vida e sem lágrimas de missão incompleta. Em resumo, morri de bem feito, deixando viúva de bom gosto e gosto da vida.
Alegre meia idade, três amigas se juntam na praia, discutem decotes de outras eras, gargalham estórias escondidas que nunca haviam ousado falar em voz alta e algumas escondidas nos pensamentos noturnos, bebem uma garrafa de vinho marcado em boas cepas e pedigree. 
Uma a uma contam tostões, discutem preços, sobra para mais uma. Esta é paga pela pensão de viuvez por mim, Cipriano Acácio, deixada a mulher mais nova de boas parecenças e saúde de ferro  para que elas possam rir e de mim continuar a dizer as coisas bonitas que vou ouvindo desde o miradouro que um dia ganhei no céu.


Sanzalando

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