A Minha Sanzala

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31 de maio de 2017

dia de irmãos, me disseram


Olho no tempo e faz tempo que o tempo passa. Umas vezes parece é devagar outras vezes ele corre que nem lebre. Acho mesmo ele às vezes voa.
Hoje ele parou. Um bocado que foi pouco. Senti e procurei o tempo parado nele mesmo. E o tempo tem anjos que não têm asas, tem abraços que nos fazem ter tempo para com o tempo voar. Para lugar seguro. Para os abraços de irmãos.




Sanzalando

30 de maio de 2017

e caiu da cadeira

Ela falou e dizia coisas bonitas que lhe estava a deixar embevecido. Irmã e cunhado ali na plateia que nem cinema ouviam. Ela já lhe brilhavam os olhos. Falta mais uma ou duas palavras e as lágrimas lhe escorrem na face. E as pessoas ouviam num silêncio de muita atenção. Embevecido ele olhava para lá de muito longe assim num se esconder que não estou nem a ouvir. A irmã e o cunhado iam se enchendo de orgulho. 
Truz pumba e mais ruído que nem tremor de terra.
Foi o cunhado que, com o peso da emoção, fez a cadeira de plástico tipo esplanada duma calçada, se esparramar no silêncio que se fez.
A irmã limpou os olhos e riu que parecia não ia parar mais. Ela, a oradora, depois de ser certificar que não havia danos materiais para além dos orgulhos combalidos dum espalhanço auditor comovido, continuou as suas falas e, ele o ouvinte especial, desceu à terra e tudo continuou alegremente com é que é.


Sanzalando

24 de maio de 2017

Eu sou eu que nem eu mesmo

Alô. Aqui estou eu novamente a conversar comigo mesmo. Olhei para trás, assim num modo de olhar pela vida vivida, escrita, sonhada ou simplesmente calada que passei ao longo dos tempos. Sei que parece não é saudável olhar assim para trás e ter medo de dar nostalgia ou saudade, tristeza ou depressão. Sei que não é de mim que eu gosto de ver. Mas tem dias que apetece e a gente deve fazer isso que nos apetece. Sei que andei a fazer mudanças radicais, principalmente nos radicais livres e nos outros quaisquer também. Fiquei a saber que consegui encontrar-me. Afinal de contas eu consegui continuar a ser eu. 
Pode ser que eu esteja a ver mal e que esteja a olhar para alguém parecido comigo. Assim tão parecido acho impossível. Olhei mesmo foi para mim. Não me importo de me ter enganado. Acontece ou pode acontecer. Imagina que já não olhava para mim faz assim muito tempo e me tinha esquecido que era assim que nem sou. Podia olhar e me enganar. Voz parecida? Igual direi. Olhar alegre? Que nem o meu, digo.
Já sei. Não tenho piada. Eu disse que era para ter?.
Tudo normal. Eu sou eu que nem eu mesmo.
Sou tão parecido comigo. Acho preciso de auto ajuda de mim mesmo.


Sanzalando

19 de maio de 2017

Palavras e Estórias


Nem melhor nem pior. Especial. Assim me sinto na véspera de apresentar o livro que me fizeram. Reapresentar. Momento único que vivi há 6 meses. Amanhã vai ser diferente. Nem melhor nem pior. Diferente. Mas não sou escritor. Sou pessoa comum que se sente especial hoje. Os meus olhos captaram momentos como se uma máquina fotográfica fossem. O tempo desfocou rostos, porém avivou contornos e uma simples rua duma cidade quadrangular poderá ter virado cenário especial dum enredo. Alterados ângulos, encomendadas frases ouvidas num qualquer lugar, palavras simples de simple gente, desejos, cores e amores, caligrafia corrigida num qualquer computador, transpostas numa resma de papel imaginário, com vibração da emoção, com lágrima de sentir, com saudade de amanhã, com quilómetros de distância, com abraços e desembaraços, coligiste um livro ao que te digo obrigado.


Sanzalando

17 de maio de 2017

calmo mar

Olha só as ondas como se desmoronam ritmadas na areia. Ouve esse marulhar. Sente este perfume de maresia. 
Essa calma que esta linha recta que é curva, que se vê lá ao longe neste zulmarinho, nos transmite faz com que me esqueça das rasteiras, me tranquilize a consciência e me solidifique os sentimentos. Faz com que eu seja mais eu em cada momento.
Consegues ver o sorriso desenhado na minha cara? É de tranquilidade feliz.


Sanzalando

15 de maio de 2017

com um tempo assim

Nem sol, nem vento, nem chuva, nem nada. Tempo assim de estar sentado a ver o nada. É assim um dia que nem o hoje de agora. É assim num olhar e ver-me, na praia, no cinema ou em casa. Até parece eu virei caçador de mim. Emesmei-me é o que eu penso com este tempo.
Com este tempo assim eu achei-me era saudade. Saudade de não saber quem eu sou. 
É, um tempo assim de fantasmas e duendes, de bruxas e bruxedos. De interessante nada de novo.
Com o tempo assim eu me motivo a meditar um silêncios imperfeitos, em aceitação do eu desajustado de mim e em palavras de conveniência

Sanzalando

10 de maio de 2017

Palavras em livro

Ao longo da vida tenho amealhado palavras. Umas melhores que outras, umas mais bem conseguidas que outras. A finalidade tem sido sempre a mesma: satisfazer-me, mesmo que eu não me releia, mesmo que eu não consiga ser portador da mensagem, mesmo que o ritmo da minha cabeça seja diferente do ritmo dos significados, verbos e adjectivos.
Ao longo da vida juntei palavras. Muitas. Com lágrimas, gargalhadas, com direcção ou à toa. Apenas palavras, poéticas, filosóficas ou doidamente legíveis por interpretações irreais. 
Às vezes são palavras escritas em falas dialogantes de solilóquios absurdos, outras vezes nada comparáveis a nada. As minhas palavras, sei, são verdadeiras mesmo que sejam verdades que ainda não aconteceram, ainda que não correspondam ao tempo presente ou passado imemorável.
Nas minhas palavras o dia seguinte chega sempre depois duma noite, pouco importa a fase da lua, reflectem dias menos bons para que os dias bons sejam reluzentes.
As minhas palavras podem parecer saudade, tristeza, nostalgia, porque, um dia, de mim só vai restar a saudade.
Assim, por caprichos da natureza, por amor e surpresa, alguém, que muito me gosta e eu gosto muito, um dia resolveu meter mãos à obra e nasceu Estórias Soltas e Palavras Vadias, comemorando o aniversário deste aprendiz de palavras. Nesse dia houve festa num dos clubes mais antigos da cidade Portimão. Gente, muita gente amiga. Uma solidariedade de todo inesperada.
Agora chegou a vez de alargar horizontes e ir até Lisboa. Braço dado com a minha amiga Ana Quelhas, que arregaçou as mangas e escreveu para memória futura O Fato Que Nunca Vestimos, aí vamos nós passar um fim de tarde na Casa de Angola em Lisboa e um jantarzinho à maneira para aqueles que nos quiserem acompanhar.

Sanzalando

6 de maio de 2017

Poesia em noite de primavera

Hoje me apetece ser poeta. Caneta de aparo, tinta permanente. Sebenta vermelha. Olhos de paixão. A paixão é boa para se escrever. É boa para se ser poeta. Hoje me apetece ser poeta.

Não me ensinaram a  apaixonar,
nem me disseram que é bom ter paz,
só me dizem para amor dar
com toda a energia que for capaz.

Querem-me porto seguro,
seja a bóia de salvação,
que dê amor puro
mesmo que seja de perdição.

Não me deram chave de porta,
não me tiraram os medos,
nem fantasmas de gente morta
das memórias dos meus segredos.

Não me acenderam a luz,
não me deram um quarto claro,
ensinaram-me o sinal da cruz
não fosse eu ser um ser raro.

Não me ensinaram nada
do tanto que aprendi,
de livros, quase nada,
de música, apenas a que ouvi.

Ai os meus livros arrumados,
tantos de auto-estima
por ali deixados
à espera duma rima.

Sem bem saber fui chegando,
me salvando de armadilhas,
umas vezes tropeçando
entre metros, polegadas ou milhas.

E lá me fiz poeta,
dos versos ditos
com a rima certa
e ideias aos gritos.

Acordei. Me apeteceu rasgar a folha que estava escrita com tinta permanente e assim mantive a permanência do que escrevi


Sanzalando

5 de maio de 2017

futuro presentemente

Olhei o mar. Uma vez. Duas vezes. Olhos de ver e não com olhos de querer ver o que se imagina ser o alvo da visão. O mar lá estava, batido pela brisa sueste, quente e despenteante deste cabelo fino e grisalho, já sem a força e segurança doutros tempos.
Lá estava o mar a dizer-me que o futuro que me estava reservado não era este. A minha imagem não era esta, a minha maneira de ser e estar deveriam ter dado uma cambalhota algures numa qualquer porta da vida passada, quando entrei na fase de ser gente. Esta realidade actual só podia ser um sonho que eu estava a sonhar no futuro que me estava reservado. Não é ruim, pesadelo nem conto de fadas. Mas daqui a pouco eu vou acordar, na minha velha cama de solteiro numa casa distante deste mar, olhar o velho gira-discos que já faz tempo deixou de o ser para ser mera ornamentação, ouvir Maria Bethania ou Chico Buarque num rádio a valvulas e ainda não transistorizado, e dizer que o meu futuro vai começar.
Olhei novamente o mar. Olhos de ver ao perto e testa franzida de ver ao longe.
Se isto não é sonho, eu também não vou pedir para mudar tudo o que fiz, não vou pedir para esquecer tudo o que já vivi. Seguro esta realidade sonhada e sigo a vida feliz esperando chegar ao futuro desenhado.


Sanzalando

2 de maio de 2017

hoje foi primavera

Hoje o sol me sorriu, me acariciou a cara e me devolveu um brilhozinho aos olhos. Hoje foi primavera que me deixou tocar com a ponta dos pés no azul do mar, esse zulmarinho que me carrega a imaginação, me transporta para lá da minha presença, que me transborda a ausência com a saudade de ser feliz.
Soubesse eu antes o que sei hoje e teria ouvido o meu próprio conselho, ter-te-ia conhecido antes e seria sempre primavera, mesmo quando o frio gelasse a alma, mesmo que o pensamento sofresse de esquecimento, mesmo que a ira substituísse a esperança e a saudade de ser triste substituísse a de ser feliz.
Hoje foi primavera outra vez.


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado