A Minha Sanzala

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25 de dezembro de 2007

33 - Estórias no Sofá - te conto do Natal

Frio. Frio é mesmo mais que muito. Pela primeira vez na sua longa vida, Orfaneto, nome que não é dele mas só lhe resta agora esse porque os outros ele esqueceu faz muito tempo por falta de uso, decidiu passar o Natal na Aldeia. Não foi na Aldeia dele que ele é homem de cidade, mas que por ajuntamento lhe foi emprestada. Mais de metade da sua vida o Natal foi passado sob calor tropical, outra parte se podia dizer que sob temperatura sub-tropical que não era menos de 10 º C. Mas este ano ele decidiu que, Natal como sempre tinha aprendido, era com frio mesmo. Por azar dele não nevou nem está previsto nevar. Ainda não é hoje que passa o Natal de neve verdadeira. De diferente mesmo dos outros natais é só o frio que lhe faz doer as carnes, porque os músculos estão em trabalho invisível de lhe aquecer.
Mas ele é homem de palavra por isso ele mostra na cara um sorriso de quem está bem. Uma ou outra tossidela denuncia o frio que sente e tenta disfarçar com actividade de ajudante. Desajeitado por falta de vontade já esteve na cozinha, já arrumou coisas na mesa, já foi às compras de última hora. Não, não lhe apetece ajudar, mas para se aquecer ele faz mesmo o impossível se for possível.
A mesa está composta com fritos, caramelos e outros muitos doces. Hoje é dia do pecado da gula. Todos aguardam o bacalhau que ele teima que não gosta, por isso espera o polvo cozido. Diga-se que ele não é grande apreciador mas nesta quadra ele está pronto para quase todos os sacrifícios, depenicar um pedaço de polvo e enfardar-se nos doces fritos e nos doces que lhe fritam a saúde.
Não é nesta altura que se escondem os defeitos, se disfarçam os feitios, se arrumam num canto os ódios e outras coisas incompatíveis com esta data e se sacrificam orgulhos e comportamentos? Este é um dos sacrifício dele, comer polvo cozido que deseja não esteja assim parecido é chuinga. Outro é responder as mensagens colectivas que lhe enviam como que a lhe dizerem que não se esqueceram dele e lhe desejam tudo de bom e coisas parecidas. Ele manda uma a uma, mesmo que o texto seja igual e diga apenas BOAS FESTAS. Fez com antecedência. Agora é o recebimento das respostas. Uma atrás da outra. Umas simples como a dele, outras rebuscadas num humor que não lhe tiram do sério. Ele quer lá saber se não vai haver Natal porque o Pai Natal morreu a rir quando lhe disseram que ele se tinha portado bem. Olha, ao menos hoje Sicrano se lembrou eu existe, é o máximo dos comentários que ele pode esboçar. Uma ou outra vez toca o telefone. Ri com satisfação e se lhe consegue ver que está mesmo feliz. Dos quatro cantos do planeta lhe ligaram. Tá visto ele gosta do Natal ao vivo e cores. Ele fala e os olhos brilham. Todos os telefonemas lhe fizeram isso. Os esperados e os inesperados.
À meia noite, por impossibilidade da presença do Pai Natal um dos presente ia fazendo assim uma espécie de chamada e entregava o presente. O nome dele não saia. Ups! ele aí está… de rasgão se desembrulha o que ele sabia era um livro.
Se sentou no sofá depois de se embrulhar numa mana grossa, a pele da barriga se esticou em forma de pança depois de desapertar o botão e o cinto, mergulhou nas letras d'O terrorista de Berkeley, Califórnia, e o Natal continuou à volta dele.
Sanzalando

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