A Minha Sanzala

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19 de setembro de 2010

tem horas?

Me sento com a pontualidade de quem não tem horas, mas vê que elas passam num voar de rapidez que qualquer dia vão até faltar. Mas se faltarem eu não vou poder dizer que não tentei chegar a horas. Tem vidas assim, em que o relógio não tem pontualidades, horários que não têm regularidades e momentos que não existem habitualmente. Azares.
Tem horas que não vejo a esquina que devo dobrar, a subida que devo subir e a descida que devo repousar. Mas lhes procuro com avidez e teimosamente no dia a dia. Tem horas que eu penso a vida tem ouvidos e se me escuta faz mesmo o contrário só para me arreliar. Me atrasa a vida num atraso de vida que me parece irremediável. Me enervo, me ansioliticamente desespero e transpiro de raiva contra o mundo que não é mais o que eu queria ter como meu mundo.
Tem horas que eu gostava de ser sapo e esperar a bela princesa, de ser rei e ter um império a meus pés. Mas essas horas são mais breves que muitos segundos que eu tenho permanentemente.
Tem horas que pego as fotografia a preto e branco e não me revejo no passado que intensamente lhe vivi.
Tem horas? Então me diga apenas que horas são! Estou a ficar com medo de não chegar a tempo!


Sanzalando

1 comentário:

  1. Na hora, li ávida e emocionadamente. Ando chorona, mas se não fosse fácil chorar, agora sairia rápido lágrimas de emoção. pela beleza poética e pela inteligência emocional reveladas.
    Ultimamente não sei comentar, mas é problema meu, me faltam palavras ou compreensão. Ou jeito, neste pouco jeito para ser oportuna.
    Mas neste poema de beleza inteligente suprema, como não lia há algum tempo, sim, que tem feito folgas de horário, nas horas da escrita aqui, a minha mente desperta há poucas horas neste domingo solarengo, disse assim numa precipitação anormal, ( porque a palavra sempre sai antes do pensamento ): maria clara, tens de dizer nesta hora mesmo,como se o relógio parasse,e não houvesse amanhã, que é LINDO o que está escrito aqui.
    Tão bonito que me emocionou, não de pele de galinha, não rã, não sapo, não gente. Coisa de alma.
    Parabéns, poeta. Você escreve que eu sei lá!
    Foi muito bom o que eu li aqui.
    Que bela inspiração!
    Se eu fosse capaz de escrever assim, as horas que faltam seriam poucas para eu me orgulhar numa vaidade sem tempo, sempre fora de hora.
    Isto de facto é assim, ou se nasce...ou se nasce.Ou se merece...ou se merece.
    Vale a pena sentir o sol em domingos que deixam o bom tempo para trás, se a poesia está aí ao dobrar da esquina, descendo a ladeira, na hora adiantada ou tardia da vida.
    Obrigada.
    kandandu

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