A Minha Sanzala

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15 de setembro de 2013

Velhice

Olha para mim Zé, diz o Ninguém como se falasse consigo mesmo.
Parece estou a conversar comigo a caminho dum passeio entre dois lugares nenhuns. 
Sabes, Zé, parece que todas essas coisas de Felicidade e de  Ser Feliz para Sempre estão cada vez mais longe como estão as estrelas que usam lux. 
Passado uma coisa que nunca aconteceu, diz-me o Ninguém como que não falasse com ninguém.
Sabes, Zé, o meu riso postiço, a minha cara parece pintada sobre máscara fúnebre, os meus olhos a desfazerem-se em liquidas lágrimas, não escondem mais a Velhice que trago sobre os costados marrecos do peso dos anos.
Quem está cego às vezes vê melhor a Vida, diz o Ninguém olhando para o céu.
De repente parece anoiteceu e a vida escureceu sem saber que aconteceu e o culpado ainda digo que fui eu.
Cabelos raros e brancos lembram que a Vida foi vivida e que a imperfeição é meio caminho de chegar à perfeição e que não preciso procurar o que nunca encontrarei. 
A Velhice foi o tempo que demorou a chegar aqui, diz o Ninguém como que se cambaleasse nas próprias palavras.
Sabes, Zé, era tão bom que as rugas fossem caminhos e as memórias lembranças. Mas as rugas são tristeza e a memória, acho esqueci. É, eu me perco e não me encontro. Acordo nos caminhos vazios e sou levado pelo vento mesmo que queira ir em sentido contrário e o vento uive ou silve ou apenas sopre, sempre parece está a pedir ajuda para me empurrar contra o destino desenhado na fraca imaginação. Daqui a pouco transbordo dores, o caminhar é pouco prático porque afogado no reumático e todos os miles corações que tive não sobrará um apenas que bata certo para me levar a alma
É a Velhice, diz Ninguém, sem papas na língua.
É aqui, na Velhice, que olho para mim e digo que a minha vida parece um monte papelinhos e que houve quem tivesse ligado a ventoinha...
Interrompe Ninguém, como se fosse alma do outro mundo e diz para eu arranjar alguém que me arrume novamente.



Sanzalando

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