A Minha Sanzala

no fim desta página

4 de novembro de 2013

58 - Estórias no Sofá - poeta erótico licenciado em lágrimas

Sentado num canto da sala do café, onde me sento sempre que me aperta o coração e desejo estar sozinho. Sempre que a confusão dos meus pensamentos toma total conta de mim e a atenção que tenho que me prestar é pouca, solitáriamente desapareço do corpo neste canto do café.
Peço sempre um café expresso. Normal. Isto é, nem a derramar nem só fundo da chávena. Lhe adoço levemente para contrabalançar com o amargo que me sinto. Nesse parece é muito tempo, em que peço e sou servido, dá para pensar em como não consigo dar-me com ninguém, em que tudo o que escolho é sempre o lado errado. Na verdade não é assim. Eu vejo o meu lado, aquele que me apetece ler porque me aperta o coração, aquele que faz chorar porque estou triste, aquele tipo diabólico porque correu mal. Amanhã, num qualquer dia de outro futuro, eu verei as mesmas coisas com outros brilhos e tudo não passou de boas sensações que um dia correram mal.
Já com o café entre mãos, procuro disfarçar o interesse que sinto pelas coisas que me interessam, esquecer que só procuro pessoas quando me interessa e mais não sou que um humano que teria tanto que pensar na atabalhoada vida que o café teria que não fechar durante dias.
Eu, Alberto Sebastião, interesseiro e trapaceiro de vida, diplomado nas lágrimas e outras cantorias que levam às ditas, sentindo um ligeiro aperto no coração, refugiado num café, seguro uma caneta e num pedaço de papel feito parvo rabisco um poema de rimas eróticas em que recordo que, por sermos tão parecidos, um dia, no recente passado, nos perdemos.
Afinal de contas acabo por me levantar e vou à procura de companhia. De boa companhia e já dentro do meu corpo.


Sanzalando

Sem comentários:

Enviar um comentário

recomeça o futuro sem esquecer o passado