As luzes da cidade cintilavam, parecia fraca a energia que as alimentava. Eu dizia era como promessas que nunca se cumpriam. Vagabundei pelas ruas noite recente, onde os passos faziam mais barulho que os meus pensamentos. Carros, poucos, passavam como fantasmas apressados, e as caras que escutavam a noite nas janelas pareciam mais distantes que as estrelas.
Eu procurava algo — alguém — que nem sabia descrever. Um olhar que me reconhecesse sem palavras, um toque que dissesse “fica” sem pedir. Mas cada esquina trazia apenas silêncio, ou barulho demais. Entrei esplanadas e corações vazios encontrei. Sorri por educação. Beijei por educação as poucas senhoras que saiam à noite para um café na companhia dos seus maridos. E saí sempre com mais frio do que entrei, vazio de corpo e alma.
A cidade inteira parecia ter alguém. Menos eu. Ou talvez todos estivessem igualmente sós, fingindo companhia para não admitir o vazio.
Quando a noite começou a tingir o céu de preto mais escuro, sentei no banco de jardim, acendi um cigarro e vaguei por memórias. Um cachorro de rua deitou-se ao meu lado. Ele também vagueava, talvez à procura de algo que não sabia o nome. Éramos dois já.
Pensei, o amor que me falta não está nos outro, mas no meu jeito de olhar o mundo sem esperar que ele me preencha.
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