Ela nunca soube.
Nem quando eu a esperava no portão da escola, disfarçado de
coincidência. Nem quando rabiscava o seu nome no caderno, escondido entre
fórmulas de física e poemas sem destinatário.
Naquelas tardes dos tempos antigos, ela passou por mim com o
vento nos cabelos e um sorriso nos lábios. O mundo parou o seu movimento de
rotação ou pelo menos o meu acelerou. Ela afinal acenou para alguém que estava atrás
de mim, e empalideci quando vi que eu não estava na equação. Mas não era para
mim aquele olhar.
Eu lhe amei em silêncio. Por meses. Talvez anos considerados
eternos.
Nunca soube se ela namorou outros. Se casou. Mudei de cidade.
Tive filhos e cheguei a netos. Ela? Nunca imaginei nem fiz adivinhação. Guardei
aquele amor como se guarda uma carta nunca enviada: com cuidado demais, até o
papel amarelar. Aquele amor cimentou, murou-me a vida, mas não me prendeu.
Em cinquenta anos ele nunca a viu de novo.
Hoje imagino-a. Os cabelos grisalhos, o andar calmo, mantenho-lhe o mesmo sorriso, na esperança que ela nunca o tivesse perdido, costas direitas, uma princesa.
Ela nunca soube do ele que eu era.
Mas havia algo bonito naquela ignorância. O segredo era só
dele. Um relicário íntimo, imaculado pelo tempo.
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