Eu fazia rádio quando era adolescente. Mas não era dessas transmissões clandestinas de fundo de quintal ou fingir fazia, era rádio de verdade. Frequência FM e AM, antena no alto para lá da Escola Industrial. Claro que era uma rádio citadina, ou do mato, como me dirá um amigo meu um dia destes. Eu fazia programa com tudo, daquelas em que metade da audiência era feita de parentes forçados a ouvir, mas ainda assim… era oficial. Acho nunca vi estatística. Mas era o melhor programa, pelo menos para mim
Meu programa ia para o ar aos domingos de manhã, no horário em que todos os adolescentes normais estavam a dormir ou já tinham ido para a praia. Chamava-se "Camaradagem!", e ninguém sabia porquê. Acho só eu sabia e sei. E vou ficar assim.
Fui locutor, sonoplasta, editor e, às vezes, produtor musical, nas noites clandestinas de gravação de música. Uma vez, liguei o microfone por engano enquanto cantava o António Mourão o seu Ó tempo Volta para trás e eu cantarolei. Recebi duas ligações de ouvintes elogiando minha “voz de estar calado” de directores que, pelos vistos, não gostaram.
A cereja do bolo foi quando o Sr. Velin, 'dono' do emissor, porque todos os dias era ele que ligava e desligava, virou meu comentadora fixo sem querer. Toda vez que ele passava pelo estúdio, eu puxava conversa e durante uns cinco minutos aquilo ia para o ar. E ele não sabia. Ele tinha opiniões fortes sobre tudo: política, futebol, e até do tempo ele falava. Não se zangou comigo e continuou a fazer de que não sabia. Até que aquilo deu torto e me calaram dos Domingos de manhã.
No fim das contas, eu aprendi mais sobre gente e improviso ali do que em qualquer outro sítio. E mesmo que a audiência fosse pequena, pelo menos era fiel. Minha avó nunca perdia um programa e acho que a minha mãe também não, porque ela me ligava para lá logo que o programa acabava.
E eu gostava mesmo daquilo.
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