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7 de julho de 2025

Milagrei um sonho

Na praia das miragens, olhei-a como quem olha algo que talvez nunca tenha existido. Era fim de manhã, a luz era intensa e brisa espalhava areias que pareciam pó de um outro tempo. Nem mesmo eu sabia muito bem onde começava o mar e acabava a imaginação, naquela praia tudo se confundia.

Ela estava ali, parada, tão real que chegava a doer. Talvez fosse só uma projeção de saudade. Talvez fosse apenas o reflexo do que eu precisava ver. Dizem que a praia das miragens devolve ao visitante aquilo que ele mais teme ou mais deseja. Eu não tinha decidido em qual desses extremos me encontrava.

O silêncio era tão pesado quanto a nostalgia. Havia gaivotas, mas não havia som. O horizonte tremeluzia como se fosse feito de vidro quente. E ali, entre a espuma e o vazio, estava ela, a menina que tantas vezes me visitou em sonhos e que, agora, parecia querer ganhar carne e voz.

Fiquei parado, sem coragem de avançar. Às vezes, é mais seguro contemplar de longe aquilo que nos arde no peito. Porque, se chegarmos perto demais, corremos o risco de descobrir que não passa de miragem.

E talvez seja melhor assim: deixar que a praia guarde os seus fantasmas e que cada um de nós conserve o consolo da ilusão. Foi assim que passeei na Praia das Miragens e milagrei um sonho que até neste agora não sei se foi real. 


Sanzalando

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