Tinha para aí uns 16 anos e passava todos os dias no mesmo trajeto para a escola. No caminho, sempre esperava ver a, que vou chamar de Clara, porque claramente não poderei nunca revelar seu nove de verdade. Às vezes vi-a rindo com as amigas, outras vezes ia no carro do levada pelo pai, distraída olhando o céu. Para mim, cada detalhe dela parecia digno de um filme que filmava com a memória.
Só que Clara nunca soube. Nunca poderia saber
Conversávamos pouco — “oi”, “até amanhã”, "como estás?", "e a família?", às vezes uma ajuda em matemática ou em ciências, quanto mais não seja era só para ela me explicar o que às vezes eu também já sabia.. Clara , acho, nunca percebeu o brilho nos meus olhos quando falava com ela, nem os silêncios em que queria dizer tudo, mas não dizia nada.
Eu sonhava que, um dia, ela descobriria, obra do acaso, palavra de um deus maior, milagre. Qualquer coisa lhe chegasse ao ouvido. Talvez no intervalo, talvez em uma carta anônima, ou talvez no último dia de aulas. Até lá, continuava apaixonado em segredo, vivendo cada olhar escondido como se fosse suficiente.
O tempo passou, uns dias a voar e outros lentamente e daquele tempo apenas ficou o filme que um dia foi feito com películas de memória
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