Eu em menino, que morava à beira do mar cheio de peixes, não sabia pescar. Todos os dias via os homens da terra regressarem a casa com os baldes cheios e as mulheres a sorrirem ao ver o jantar assegurado.
Um dia, cheio de coragem, peguei numa cana de caniço, um barbante comprido amarrado na ponta, um anzol semi torto e já com muitas idas ao mar e que tinha apanhado na velha ponte e corri até à marginal. Arranjei um dos hexágonos que faziam de barreira para não entrar cidade dentro. Atirei o anzol à água… e esperei. Esperou uma hora, depois duas. Nada de peixes mas muitas ideias me passaram na cabeça. Muitos retratos fiz, muitas estórias me lembrei. Apenas as ondas que batiam na muralha hexagonal parecia riam de mim como se se gozassem da minha impaciência.
- “Não sei pescar…” — murmurei desanimado, olhando para o anzol vazio. Cabeça rica e anzol vazio.
Ao cair da tarde, quando o sol já pintava o céu com cores de fogo, senti finalmente um puxão. O coração bateu forte. Puxei a linha devagar, cada braçada uns centímetros de fio que vinha, como o velho me tinha ensinado, e lá vinha o peixe, pequeno mas brilhante, a saltar de alegria, porque acho ele sabia era o primeiro peixe que eu apanhava.
Sorriu como nunca antes o tinha feito. No passeio o peixe pulava e com ele pulava eu. O velho se aproximou mais um bocado, tirou o anzol da boca do peixe e deu-mo. Alegre lhe olhei, olhei para o velho e atirei o peixe na água.
O velho sorriu-me, não por causa do peixe, mas porque tinha visto que percebera algo maior: aprender é como pescar, precisa de paciência, humildade e de alguém que nos ensine.
Naquela noite, ao chegar a casa contei a estória do meu primeiro peixe, fui aplaudido, acarinhado e deixei de ser o menino que não sabia pescar. Era o menino que aprendera a esperar, a tentar, e a acreditar. Nunca mais fui pescar na marginal mas sempre olhei com magia para aquele lugar mágico
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