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5 de setembro de 2025

O meu sol ou de quem o apanhar

O sol de Moçâmedes parecia maior do que em qualquer outro lugar quando eu era criança ou adolescente. Numa trigésima mão comprei uma bicicleta que nem travões tinha. Eu queria era passear, andar por lá só assim feito explorador sem nada a explorar. Eu pedalava sem rumo, o vento quente na cara, a estrada dissolvendo-se no horizonte como uma miragem. Cada pedalada me afastava da certeza e me aproximava do silêncio do deserto. Faz conta eu pedalava para o fim de um qualquer princípio.

As dunas, douradas e imóveis, eram como guardiãs de um segredo antigo. De vez em quando, um lagarto cruzava rápido o caminho, lembrando-me de que até na imensidão árida há vida escondida. As carochas nem fugiam que até parece nos conhecíamos faz muito tempo. O cheiro salgado do mar vinha e ia, como se o Atlântico respirasse comigo quando eu me metia na estrada da Praia Amélia.

Foi quando percebi que estava perdido, não no medo, não na vida, mas numa estranha liberdade. Não havia placas, nem vozes, nem relógio. Só o som das rodas no asfalto quente e o sol, ardente, dominando o céu inteiro.

Ali, no meio do nada, entendi que me perder era também me encontrar.


Sanzalando

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