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Programas K'arranca às Quartas no Blog

7 de janeiro de 2025

vagabundo-me herege

Vagabundo-me por ruas e vielas vazias de gente, porem carregadas de estória. Invento a cada passo uma estória referente àquela casa, aquele beiral, aquele quintal, aquele buraco. Dizendo de outra forma, eu dou vida à minha vagabundagem.  O silêncio que me envolve deixa-me a pensar que aquelas estórias que acabei de inventar são verdadeiras. Eu acredito nelas porque elas são a minha imaginação e a minha imaginação sou eu. Eu acredito em mim. 
No inverno do lado norte tem dias assim, vazios de gente e abarrotar de silêncios. Não há ruído de gerador, de farra, de copos e de corpos em movimento. Sou eu e a minha vagabundagem por estas ruas desertas de gente e carregadas de estória.
Paro numa casa em que está escrito que ali é a Igreja dos Pobres e Desavindos. A porta está fechada. Se eu sentisse frio ou estivesse desavindo comigo ficava na rua, pensei. E comecei logo a magicar que todos os deus são demasiado vaidosos e convencidos. Eles desejam o amor, a veneração, pedem sacrifícios, uns pedem música e dança, outros ladainhas infindáveis, uns o dízimo, outros fazem colecta. A vaidade dos deuses é coisa para ser explorada por mortais. 
Não tem deus nenhum que diga que não ouve as rezas? Que não responde aos pedidos?
Senti-me herege e segui caminho fora sem antes olhar  para dentro de mim, à porta duma Igreja fechada, pobre e desamparado sem nada para fazer ou falar.



Sanzalando

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