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12 de maio de 2025

Primavera e frio na praia

A primavera chegou, mas esqueceu-se de avisar o vento. No calendário, flores desabrocham, os dias alongam-se e os guarda-sóis deviam começar a espreguiçar-se na areia. Mas na praia, tudo parece ainda suspenso no inverno. O mar continua azul esquisito, espumoso, ameaçador, como se quisesse lembrar que há coisas que o tempo não manda.

Mesmo assim, há sempre um ou outro teimoso. Um casal enrolado em mantas, de mãos dadas, olhando o horizonte como se o frio fosse apenas um detalhe menor. Uma senhora caminha descalça, desafiando o gelo da maré-vazia com a dignidade de quem já viu muitas primaveras. Um cão corre atrás de gaivotas, indiferente à estação, à temperatura, à filosofia da vida.

As esplanadas estão meio-vazias, mas abertas. O empregado serve café com um sorriso que treme um pouco ao vento. Os óculos de sol convivem com cachecóis, e os casacos de lã contrastam com os ténis leves de quem ainda acredita que abril é sinónimo de calor. Não é. Não ainda.

Na primavera fria da praia, há uma beleza discreta, quase melancólica. É uma estação em transição, como nós tantas vezes estamos. Não é o inverno, mas também não é verão e muito menos a primavera que eu estava a pensar. É um tempo que pede paciência. Que nos lembra que nem tudo floresce à primeira tentativa e que a ansiedade parece ter lugar cativo nesta incerteza temporal.

Talvez seja por isso que não gosto destes dias. Porque são sinceramente tristes. Porque não mentem com promessas de calor. Porque nos obrigam a encontrar conforto no desconforto de malhas e camadas que nos envolvem como correntes, porém, leva-nos a reconhecer que há beleza até no arrepio.


Sanzalando

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