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20 de maio de 2025

sonhando realmente

Me sento e descanso na escadaria do Tribunal. A minha vista não consegue ver o fim da avenida. Já não tem o brilho de outrora. Os meus olhos já não são nem metade do eram. 
Eu sei que não vais passar por aqui. Faz muitos anos que não passas aqui. Olha que eu de andarilho ainda vou por aqui passando. Devagar, porque pressa tem a morte, eu lá só quero chegar tarde e contrariado.
Mas aqui sentado vou sonhando. Isso mesmo, sonhando. Não tem realidade mais amarga que a real. As pessoas que passam não sorriem e muito menos acenam. Acho vão todos com pressa de gastar o tempo até a morte lhes pegar. Eu deixo-as ir nas suas corridas apesar de lhes dizer boa tarde bem alto para os surdos ouvirem. Mas ninguém ouve. Se calhar vão a rezar. Se calhar vão só para lado nenhum e têm medo de se perder. Sabes que quando éramos criança eu me sentava aqui as pessoas, novas e velhas diga-se, diziam adeus, sorriam, paravam e falavam. Será que têm medo agora dos meus cabelos brancos? Nós os mais velhos temos a sabedoria do tempo e eles nem sabem bem o que é que isso é. O tempo?! Vais ver eles pensam é calor de queimar ou cacimbo de arrepiar. Mas eu tenho tempo de lhes ensinar, mesmo aqui sentado na escadaria do tribunal e sem ver o velho matadouro que a minha vista já não deixa olhar para lá da capitania.


Sanzalando

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