No lar da Álvares Cabral, Reino
das Águias Carecas, para subsidiar o mês mais longo que a bolsa ou mesada,
tinha gente que fazia encadernações de sebentas. Todos os cursos solicitavam os
serviços do Cavacas e do Lajoso. Impecável trabalho e bom cheiro a cola nas
horas de maior labuta. Tinha ping-pong e grandes campeonatos. Namoradas? Deu-me
assim uma amnésia útil neste instante. Não me lembro e nem vou falar disso que
eu sou muito leal à minha palavra e muito desapegado à memória.
E com mais ou menos coisas, Junho
chegou e com ele os exames. Eu era rígido comigo, sempre depois da novela
brasileira que dava depois do telejornal, eu ia estudar. Mas a novela era
imperdível. Jantava na Cantina de Engenharia que estava sempre com ar de quem
estava em obras, bebia café no Cristal e depois sentava-me na sala do lar a ver
o Telejornal que começava às 20 horas em ponto e a seguir era hora sagrada. Gabriela,
Cravo e Canela e Senhorzinho Malta era imperdível. Na minha terra não havia
televisão e eu estava apaixonado por aquilo. Depois sentava-me e estudava sem
hora marcada. Ritual cumprido à letra mesmo nos dias de festa. Excepto a
cantina que feriados e Domingos não havia. Estudante faz jejum ou inventa.
E por falar em festa cometi a
proeza de recusar sair do lar no primeiro S. João que lá passei. Leonor e
companhia usaram e abusaram de argumentos, mas eu não estava virado para festas
que não tinham um significado para mim. A verdade que o barulho era tanto que
mesmo tendo ficado em casa desconsegui dormir. Todos invadiram o lar perto das
6 da manhã. Alguns com um pouco de bebida a mais no corpo, mas com o quarto
grande e o soalho a servir de colchão, ninguém reclamou. Não se nega um poiso a
ninguém. Apesar de ser manhã, dormiram a noite toda pois o mais cedo a acordar
deve tê-lo feito às 2 da tarde. Eles estavam felizes e contentes e eu com a
birra amarrada dentro de mim por não ter ido na folia.
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