Da Areosa ao Hospital eu apanhava
um autocarro daqueles de primeiro andar e logo às 6:30 da manhã, depois do
pequeno-almoço tomado na pastelaria da esquina da Areosa, que se estava a
tornar vício ou necessidade. Todos os dias a mesma água cafeinada porque eu não
sabia pedir um Cimbalino, coisa que aprendi uma semana depois, farto de beber o
tal de café de saco. Aprendi no dia em que cheio de coragem eu disse hoje quero
um café como aquele senhor ali. O empregado soletrou e então eu compreendi a
pronuncia do norte a dizer Cim Bá Li No. Tanta silaba para um café. Um biju e
um cimbalino por favor, era o pedido diária na madrugada desta minha vida.
Mas a vida em casa não estava a
ser fácil. Porque demorava um pouco mais na casa de banho, porque ontem
a luz ficou acesa até tarde. Porque… na verdade, carregando cadernos e
incertezas, tentando entender como se vivia numa cidade que parecia perdida na
sua própria memória, incompreendendo a vida daquelas duas mulheres não estava a
ser fácil aguentar a monumentalidade do curso, o frio, a solidão temporal e
espacial que estava a cumprir por obrigação.
Foi num daqueles dias, ao entrar
numa das salas frias da Faculdade, que a conheci. Leonor. Cabelos caracolados
como ondas de mar revolto, sotaque que nem era do norte nem de nenhum sul que
eu conhecesse. Era do grupo da Madeira. Um grupo de gente rara, tal qual o
grupo que eu havia iniciado. Mas aquele era um grupo coeso e um pouco fechado,
contrariando o meu grupo de solitários perdidos e desachados, que aos poucos se
iam achando e a reduzir-nos…
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