Eu tinha apenas 16 anos, mas sentia como se carregasse dentro de mim um segredo maior do que o mundo. Desde o primeiro dia em que eu a vira, na sala de aula, tudo à minha volta parecia ter mudado de cor. O barulho dos colegas, a rotina cansativa da escola e até o som da campainha do liceu pareciam perder importância quando ela estava por perto. Acho ela vinha do Colégio das Madres ou então fui eu que acordei assim naquele dia, pois nunca lhe tinha olhado na forma de ver como a passei a ver.
Não sei nem explicar. Não era apenas o sorriso que me fazia perder o ar, nem os olhos que brilhavam quando ela falava de algo que eu gostava ou assunto de interesse. Era a sensação de querer estar ali, ao lado dela, todos os dias, como se o tempo só tivesse sentido quando compartilhado com ela.
Nos corredores, inventava desculpas para cruzar o seu caminho, para ter conversa. Na cantina, preferia esperar só para ter a chance de sentar-me ao lado dela na mesa que ela escolhia. À noite, quando já deveria estar a estudar ou dormir, ficava a olhar o tecto, torcendo para que uma mensagem dela surgisse assim projectada como no cinema.
Era um amor puro, desses que nascem na adolescência, cheio de sonhos e exageros. Não pensava no futuro distante, mas sim no próximo recreio, na próxima conversa, no próximo olhar. Queria vê-la sempre, como se a vida fosse mais bonita apenas quando ela estava presente. Um dia ela disse que o pai ia comprar a casa ao lado da minha. Acho houve um terramoto dentro de mim ou simplesmente foi uma festa de fogo de artifício na minha alma, pois se o meu corpo não deu pulos de alegria eu todo saltei de contente.
Os dias deixaram de ser iguais. As notas escolares subiram até parece eu era outro. Minha mãe desconfiava eu estava a fazer batota ou a lhe enganar. Mas era a realidade. Eu tinha-me renascido naquele primeiro dia de aulas no mesmo corpo mas outro eu lá dentro.
Um dia ela mudou. Ficava mesmo ao alcance do meu olhar. Eu até que passei a ser caseiro. Masi desconfiada estava a Dona Minha Mãe. Ela perguntava a mim, no Liceu, nos amigos e ninguém sabia dizer nada. Era o maior segredo do mundo guardado em mim.
E, no fundo, eu ainda acredito que aquele sentimento, mesmo simples, foi tão verdadeiro. O tipo de amor que marca para sempre, justamente porque foi o primeiro e a memória nunca lhe vai apagar por mais poeira que lhe ponham em cima.
Pena mesmo que ficou um segredo guardado por mim até num hoje qualquer.
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