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26 de novembro de 2025

Uma Estória de Fazer Rádio


Desde pequeno, eu gostava de falar sozinho. Conversava com o travesseiro, entrevistava o cão e fazia o relato do café da manhã. A família achava engraçado, mas só eu sabia o que aquilo significava. Um dia, sentei-me na sala e tinha nas mãos um radiozinho velho, daqueles que ainda tinham antena de metal que desaparecia dentro do rádio e um botão que fazia estática quando girava para sintonizar. Eu procurava nas três ondas a rádio que eu fazia e não encontrava. Não tinha a mínima noção que era preciso um emissor. Para onde ia o som da minha voz quando eu falava ao meu microfone que mais não era que o cartão velho de um rolo de papel higiénico?

- O rádio é magia - dizia-me. - A gente fala baixinho num canto… e chega no ouvido de alguém lá do outro lado da cidade. Pensava eu

Nunca esqueci. Cresci com essa ideia na cabeça: fazer rádio era conversar com o mundo e por isso logo que tive oportunidade lá fui pedir uma. E deram.

Consegui um estágio no RCM. Era pequeno, edifício inacabado, gente simpática. Mas, para mim, era como entrar num castelo, num palácio e aqueles eram os artistas que eu conhecia de voz. Três estúdios, sendo um minúsculo, outro médio e o grande; sala técnica comum aos três mas com seus gravadores de fita e consola independentes. O locutor punha discos e falava aos microfones, com fones enormes nos ouvido  e uma janela de vidro que separava o locutor da área técnica, quase como portal para outra dimensão.

No primeiro dia ao vivo, a voz tremeu. O microfone parecia um monstro à espera para devorar-me. Mas respirei fundo, lembrando-me das conversas com o cão e o travesseiro.

- Boa tarde, ouvintes! Eu , disse o meu nome e este é o Programa a Nossa Voz é o Mar e passou um bailinho da Madeira. Depois Tristão da Silva, Roberto Carlos e de quando em vez eu dizia uma frase para os pescadores que estavam no mar, em casa ou só a arranjar as redes.

A meio perguntei

- Alô… alguém está-me a ouvir?

Até hoje ainda não tive resposta




Sanzalando

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