14 de abril de 2025

a minha cidade de tormento

Sento-me à mesa, resignado. Coração partido, lágrima escondida no brilho do olhar, como se restasse alguma esperança que o tempo parasse e tu me olhasses como eu te olhava na minha remota adolescência. Obrigo-me a não pensar-te e a tentar que a tua memória se esfume. Tu és passado e no passado deves ficar. Mas no meu pensamento, no secreto momento de solidão, vens à tona, atormentar-me a mona. Cidade ruim de cheiro a mar, quadriculadamente colada a mim como que num abraço eterno. 
Não quero lembrar-me de ti mas cada vez que te esqueço é assim como uma morte súbita em que me agarro a farrapos de lembrança e ressuscito na solidão em que me transformaste.
Um dia, cidade, eu partirei e tu desaparecerás da memória de quem te gostou perdidamente e assim deixarás de existir.


Sanzalando

9 de abril de 2025

Para onde vão os Guarda-Chuvas - Afonso Cruz - Livro


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Esta Música tem uma História 04 - K'arranca às Quartas


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Tesourinhos Musicais 37 - José Assis - Programa K'arranca às Quartas


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Crónica 50 - K'arranca às Quartas


Sanzalando

Programa 62 - K'arranca às Quartas


Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 09 de Abril de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. A opção é sua.
Ouça com atenção e pense
Ler só faz mal à ignorância

Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Afonso Cruz e Para Onde Vão os Guarda-Chuvas com a colaboração divinal de Anabela Quelhas, tivemos o Fado Falado na voz de Victor de Sousa, tivemos as estórias da Música ou Música com história, em que contámos e cantámos Carmen Silva, Lindomar Castilho - História De Um Amor, preciosa colaboração de José Leite

Tivemos nos Tesourinhos Musicais  com José Assis e a música da lusofonia imprescindível nas tardes de Quarta-feira

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

8 de abril de 2025

O Detalhe

Era um botão. Só isso. Um botão da camisa, quase invisível, ali perto da gola. Faltava.

Ninguém percebeu - excepto eu. O detalhe. Pequeno, mínimo, mas gritava no meio da arrumação toda. A camisa era nova, tecido alinhado, meias a condizer e o sapato engraxado. Mas aquele botão ausente fazia o mundo inteiro parecer meio torto. O mundo falhou, pensei.

E é assim com os detalhes.

Há quem diga que são apenas minúcias, coisas para os obsessivos e perfeccionistas. Mas não é verdade. Os detalhes não são só partes do todo — muitas vezes, são eles que definem o todo. Aquele sorriso de canto que escapa no meio de uma conversa séria. A pausa entre duas palavras. O jeito como alguém segura uma caneca ou um copo ou como dobra um guardanapo. Um detalhe pode revelar intenções, sentimentos, histórias.

O detalhe é onde mora a realidade.

Lembro-me que o meu avô me dizia: "Quem olha só a roupa, vê a aparência. Quem olha a costura, entende a alma." Nunca vi o meu avô falhar. Ele era o detalhe. Pelo menos da família.

No amor também é assim — são os detalhes que nos capturam. O jeito como ela prende o cabelo distraída, como ele fala baixo quando está com sono. Não é sorriso enorme nem a declaração de cinema que marca, mas a lembrança de ter dividido um guarda-chuva num dia de chuva.

Vivemos numa época de exageros: gritos, flashes, sangue e sirenes. Mas é no detalhe que mora a beleza subtil, aquela que não precisa de holofotes, só de olhos atentos.

Talvez o segredo da vida boa seja esse: aprender a notar o botão que falta — e também os que estão firmemente costurados.

Tantas vezes me perdi nos detalhes da vida. A admirá-los, diga-se.


Sanzalando

7 de abril de 2025

por mais

Por mais esforços que faça não consigo esquecer. Se está sol lembro-me da praia e das garinas a me fazerem estremecer de amor. Se chove me lembro da esquina dos Fonsecas a transbordar de águas que até parece é lagoa em plena cidade. Se está cacimbo eu me recordo das manhãs preguiçosas que me faziam não ver o liceu e fugar às aulas. 
Por mais esforços que faça tudo me faz recordar que um dia eu fui adolescente e que os meus olhos viram coisas que nunca imaginaram iam ver, que as minhas mãos iriam tocar em corpos inertes e frios como tocaram.
Por mais que eu queira, por mais que eu tenha crescido, por mais coisas que eu tenha visto não tenho palavras para sarar um passado que aos olhos de hoje me parece ter sido apenas um pesadelo de imaginação.


Sanzalando

6 de abril de 2025

contrastes

Está um dia que tanto chove quanto faz sol. Me amarro em pensamentos e me embalo em sonhos. Não, as saudades não me entristecem nem os sonhos são fugas. As saudades são pedaços de mim, peças da minha existência e os sonhos são espaços que espero preencher. Eu me amarro em pensamentos porque tanto faz sol como chove. Contrastes da minha exitência.

Sanzalando

2 de abril de 2025

Óscar Ribas - Autor


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Tesourinhos Musicais 36 - Sónia Delfino


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Esta Música tem uma História 03 - Rui Veloso


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Crónica 49 - K'arranca às Quartas


Sanzalando

Programa 61 - K'arranca às Quartas


Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 02 de Abril de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. 
Ouça com ouvidos de pensar e olhos de ler
Ler só faz mal à ignorância
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. 
Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos Óscar Ribas, tivemos um poema de Alberto Caeiro dito por Mário Viegas
Tivemos ss estórias da Música ou Música com história, em que cantámos Rui Veloso - Paixão

Tivemos nos Tesourinhos Musicais  com Sónia Delfino, primeira vez que aqui fomos ao Brasil

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

1 de abril de 2025

do ontem ao amanhã

Olho à minha volta e vagueio. De pensamento em pensamento caminho fazendo uma estrada de vida. Na verdade, vivemos cercados de múltiplas razões para amar e por vezes passamos por elas sem as notar. Quem não se sente feliz ao ver um pôr-do-sol que nem em fotografia arranjada por artificialismos sofisticados? Quem não se sente agradado pelo sorriso inesperado de um estranho numa forma simples de agradecimento. Tantos pequenos gestos que são grandes afectos.
O amor está nas entrelinhas da vida, nos detalhes que deixamos escapar pela rapidez do passar do tempo e nós sem tempo para num instante olharmos com olhos de admirar e coração de amar.
Com tanto para amar, o que é que nos impede? Medos, orgulhos ou distrações?
Está na hora de soltar amarras e ver a vida como o tempo que intervala o ontem do amanhã.


Sanzalando

31 de março de 2025

falta palavras

Como tenho morrido de amores deu-me para pensar em quanto me custar levantar todas as manhã.
Mas na verdade eu gosto de morrer de amores porém faltam-me palavras para escrever

Sanzalando

27 de março de 2025

a ver se me vejo

Vou de passeio pelas ruas da minha cidade. É fim da tarde e os tristes vão passear. Digo assim porque ouvi a minha mãe dizer que era o passeio dos tristes. Nunca percebi, porque os via a rir ou pelo menos a sorrir quando se cruzavam comigo.
A minha cidade fica à beira-mar e é encantadora. Tanto na praia e na sua baía como nas costas do deserto a perder de vista. E o Pôr-do-Sol tem um encanto que me encanta. 
Mas hoje vou num passeio até na praia, relaxar ouvindo o marulhar e saboreando a maresia. Sentir a brisa do mar faz-me desacelerar e me torna especial. 
Vou só sentar aqui nos hexágonos a olhar para lá do infinito e ver se me vejo.



Sanzalando

26 de março de 2025

Crónica 48


Sanzalando

Amarelo Tango - Nicolau Santos - Livro


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Esta Música tem uma História 03


Sanzalando

Tesourinhos musicais 35 - Shegundo Galarza


Sanzalando

Programa 60 - K'arranca às Quartas


Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 26 de Março de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. 
Escolha e ouça com o pensamento. Ouça-nos com ouvidos de pensar
Ler só faz mal à ignorância
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. 
Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Amarelo Tango de Nicolau Santos, tivemos um poema de Oswaldo Montenegro dito pelo próprio - A minha Metade
Tivemos As estórias da Música ou Música com história em que cantámos em italiano com IO CHE AMO SOLO TE cantado por Chiara Civello e Chico Buarque de Holanda

Tivemos nos Tesourinhos Musicais  Shegundo Galarza e o seu Conjunto

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

25 de março de 2025

A dois amigos que partiram

Eram colegas no trabalho. Eram dois amigos fora dele.
O tempo ensina-nos que a vida é feita de encontros e despedidas. Hoje, com o coração apertado, dedico as minhas palavras a vocês, que partiram, mas deixaram a amizade, gargalhadas e algumas estórias para lembrar.
Cada conversa, cada gesto e cada memória construída ao lado de vocês segue no meu coração. Por aqui, hoje só consigo dizer Obrigado por terem sido parte da minha história. Sigam em paz, amigos.

Sanzalando

24 de março de 2025

Olha bem para mim e sorri.

Olha bem para mim e ouve-me atentamente. Atira os teus olhos carregados de rancor e ouve-me, porque eu não vou gritar e muito menos tenho pachorra para repetir. A dona da tua felicidade és tu. Não causes dores tridimensionais em ninguém nem atentes contra a minha paciência porque o problema teu é teu unicamente. Perdes a cabeça, doí-te o corpo e tens os olhos sem brilho. Refresca-te e retira essa pose de vingança. Canta-te e sorri, atira o drama borda fora que ele não precisa do teu corpo para dramatizar. Deixa o drama viver a vida dele e tu vive a tua. 
Olha bem para mim e sorri. 



Sanzalando

22 de março de 2025

Num Março de antigamente

O vento quente do deserto soprava pela marginal, levantando finas nuvens de areia que se misturavam ao cheiro salgado do Atlântico. Ela semicerrou os olhos contra o brilho dourado do fim de tarde e  segurou os cabelos, protegendo-se da brisa persistente.

Caminhava devagar, os pés quase não pisavam o passeio irregular. Ao longe, os barcos de pesca balançavam no porto, as suas sombras espelhavam na água do zulmarinho. A cidade, com suas ruas quadriculadas e prédios coloniais de cores desbotadas pelo tempo, parecia presa no tempo, entre a memória e o presente.

Ela sentou-se num banco próximo à praia das Miragens. De onde estava, podia ver as dunas estirando-se para o interior, como ondas congeladas de areia. Lembrou-se das histórias que a minha avó lhe contara, sobre os primeiros navegadores que chegaram ali, sobre os mistérios escondidos na terra árida e bela de Moçâmedes.

Parou. Olhou-me e disse-me:

- O deserto é um mar inerte;

- Não. O deserto pode ser a vida. Começas sem nada e se nada fizeres, terminas como começaste.

Olhou-me e partiu sem nada me devolver


Sanzalando