A Minha Sanzala
Rádio Portimão
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14 de abril de 2025
a minha cidade de tormento
9 de abril de 2025
Programa 62 - K'arranca às Quartas
Programa de Rádio com palavras, livros e música - 09 de Abril de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. A opção é sua.
8 de abril de 2025
O Detalhe
Era um botão. Só isso. Um botão da camisa, quase invisível, ali perto da gola. Faltava.
Ninguém percebeu - excepto eu. O detalhe. Pequeno, mínimo, mas gritava no meio da arrumação toda. A camisa era nova, tecido alinhado, meias a condizer e o sapato engraxado. Mas aquele botão ausente fazia o mundo inteiro parecer meio torto. O mundo falhou, pensei.
E é assim com os detalhes.
Há quem diga que são apenas minúcias, coisas para os obsessivos e perfeccionistas. Mas não é verdade. Os detalhes não são só partes do todo — muitas vezes, são eles que definem o todo. Aquele sorriso de canto que escapa no meio de uma conversa séria. A pausa entre duas palavras. O jeito como alguém segura uma caneca ou um copo ou como dobra um guardanapo. Um detalhe pode revelar intenções, sentimentos, histórias.
O detalhe é onde mora a realidade.
Lembro-me que o meu avô me dizia: "Quem olha só a roupa, vê a aparência. Quem olha a costura, entende a alma." Nunca vi o meu avô falhar. Ele era o detalhe. Pelo menos da família.
No amor também é assim — são os detalhes que nos capturam. O jeito como ela prende o cabelo distraída, como ele fala baixo quando está com sono. Não é sorriso enorme nem a declaração de cinema que marca, mas a lembrança de ter dividido um guarda-chuva num dia de chuva.
Vivemos numa época de exageros: gritos, flashes, sangue e sirenes. Mas é no detalhe que mora a beleza subtil, aquela que não precisa de holofotes, só de olhos atentos.
Talvez o segredo da vida boa seja esse: aprender a notar o botão que falta — e também os que estão firmemente costurados.
Tantas vezes me perdi nos detalhes da vida. A admirá-los, diga-se.
7 de abril de 2025
por mais
6 de abril de 2025
contrastes
2 de abril de 2025
Programa 61 - K'arranca às Quartas
Programa de Rádio com palavras, livros e música - 02 de Abril de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida.
1 de abril de 2025
do ontem ao amanhã
31 de março de 2025
falta palavras
27 de março de 2025
a ver se me vejo
26 de março de 2025
Programa 60 - K'arranca às Quartas
Programa de Rádio com palavras, livros e música - 26 de Março de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida.
25 de março de 2025
A dois amigos que partiram
24 de março de 2025
Olha bem para mim e sorri.
22 de março de 2025
Num Março de antigamente
O vento quente do deserto soprava pela marginal, levantando
finas nuvens de areia que se misturavam ao cheiro salgado do Atlântico. Ela semicerrou
os olhos contra o brilho dourado do fim de tarde e segurou os cabelos, protegendo-se da brisa
persistente.
Caminhava devagar, os pés quase não pisavam o passeio irregular.
Ao longe, os barcos de pesca balançavam no porto, as suas sombras espelhavam na
água do zulmarinho. A cidade, com suas ruas quadriculadas e prédios coloniais
de cores desbotadas pelo tempo, parecia presa no tempo, entre a memória e o
presente.
Ela sentou-se num banco próximo à praia das Miragens. De
onde estava, podia ver as dunas estirando-se para o interior, como ondas
congeladas de areia. Lembrou-se das histórias que a minha avó lhe contara,
sobre os primeiros navegadores que chegaram ali, sobre os mistérios escondidos
na terra árida e bela de Moçâmedes.
Parou. Olhou-me e disse-me:
- O deserto é um mar inerte;
- Não. O deserto pode ser a vida. Começas sem nada e se nada
fizeres, terminas como começaste.
Olhou-me e partiu sem nada me devolver