Todos os dias, ao nascer do sol, ele se sentava na falésia, olhava para o horizonte. Diziam que esperava alguém.
As crianças perguntavam:
— Avô Chuinga, quem o senhor espera?
Ele sorria, mostrando dentes brancos, gastos como pedras antigas, e respondia:
— Espero o mar que me prometeu voltar e substituir esse que está ai quase a morrer de saudade.
As crianças riam, pois o mar estava ali, diante deles, a bater forte contra as pedras da marginal. Mas o velho falava de outro mar, o mar de areia, que uma vez se movera como se fosse água, engolindo casas, cabras e até um homem que jurava ser mais rápido que o vento.
Numa noite de luar cheio, o vento soprou diferente, mais grosso, mais pesado. As dunas começaram a dançar. As crianças correram para casa, assustadas. Mas Chuinga ficou, de pé, os olhos brilhantes como se visse um velho amigo.
Na manhã seguinte, apenas pegadas iam até o meio do deserto — e paravam. Ninguém mais encontrou o velho.
Alguns dizem que ele foi levado pelo mar de areia. Outros acreditam que, encontrou o que esperava.
Desde então, quando o vento sopra forte no Namibe, as crianças escutam vozes que parecem risadas antigas, misturadas ao som das dunas que se movem como ondas. O velho Chuinga não envelheceu mais no deserto mais antigo do mundo, parou porque hoje tem a mesma idade que tinha quando era o velho que olhava o mar do alto da falésia.
Sem comentários:
Enviar um comentário