O sol do Namibe batia seco e direto, como se me quisesse arrancar a pele queimando-a. O velho quartel português ainda resistia, encardido de tempo e no silêncio. As paredes estaladas, cobertas de poeira vermelha, guardavam mais do que tijolos — guardavam ecos. Que estórias ali terão acontecido? Que nomes por ali passaram.
Fui entrando devagar, como quem pisa solo sagrado. O cheiro de ferrugem e terra quente trouxe-me ao pensamento um nome apenas, Joaquim, soldado da metrópole, enviado para Angola num ano qualquer. Podia ser Manuel, Silva ou tro qualquer mas eu fiquei no Joaquim. Nas paredes do refeitório abandonado, o tempo estava congelado e imaginei vê-lo ali sentado. Numa parede, rabiscado a carvão, li ou imaginei que li qualquer coisas assim "Joaquim 14/03 Se eu morrer, digam à Rosa que sorri até ao fim". Quis confirmar mas desencontrei as letras. Acho foi só a minha imaginação que fez ler uma frase que ali não estava. Ou terá sido uma insolação que me fez delirar? Parei no meio da parada. O mesmo nome não me saia da cabeça. As paredes falaram comigo de certeza quase absoluta. Não com som, mas com presenças. Ali, no silêncio estalado do quartel, encontrei algo mais profundo que qualquer fotografia: o rastro da esperança no meio da guerra.
Sorri. Sai do quartel com o coração mais cheio do que quando entrei. E, no céu do Namibe, uma brisa quente pareceu dizer:
— A Rosa soube.
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