Ser amigo é estar quando ninguém mais fica. É saber ler nos silêncios, o que as palavras não dão conta de contar. Há quem pense que amizade é só riso fácil, fotografias nas rede sociais, histórias partilhadas que se tornam grandes entre grupos. E é também tudo isso. Mas, sobretudo, ser amigo é abraçar a parte feia do outro, o mau humor, as crises, os dias em que a vida parece um quarto desarrumado que ninguém tem forças para arrumar.
Ser amigo é ouvir o mesmo desabafo cem vezes e ainda assim perguntar: “Queres falar de novo sobre isso?” É ter paciência para as repetições e carinho para as incoerências. Amigo é quem vê o teu lado mais frágil e não usa isso contra ti. Pelo contrário, usa isso para te proteger, para te lembrar que és humano, que não tens de ser perfeito.
Ser amigo é aparecer sem convite quando tudo desaba, e também saber desaparecer quando é preciso espaço. É reconhecer limites. É compreender sem julgar. É rir até doer a barriga, mas também chorar junto quando a vida aperta.
Na pressa dos dias, esquecemos o valor de uma amizade honesta. Achamos que amigos são garantidos, que estarão sempre ali. E, às vezes, só percebemos o quanto precisamos deles quando a solidão nos faz companhia.
Ser amigo é dizer a verdade que ninguém quer ouvir, mas fazê-lo com cuidado. É incentivar sonhos, mesmo quando parecem descabidos. É guardar segredos como quem guarda um pedaço do outro.
Ser amigo é, em última análise, um pacto silencioso de lealdade. Uma forma de amar que dispensa contratos. Uma promessa que se renova a cada abraço, cada conversa, cada silêncio partilhado.
E talvez seja isso: ser amigo é escolher o outro, todos os dias, mesmo quando a vida convida ao afastamento. É permanecer.
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