Há 69 anos, aí por volta das 16 horas, o Benfica ganhou por um a zero ao Sporting. Foi um jogo renhido, desses que ainda hoje se contam nas mesas de café, com as mãos a desenhar os lances no ar. Nesse tempo o jogo era desenhado através da voz dos relatos da rádio. Dizem que nesse dia o sol brilhou, pelo menos para o meu pai que era vermelho de sangue e tudo o mais.
Acho nesse dia não chovia como chove hoje. Mas como posso eu saber se eu nasci nesse dia?!
Estava longe, muito longe, guardado em algum canto deste mundo redondo. Quando finalmente nasci, foi com um valente berro, um choro que não precisou de palmada e foi um som tão decidido que a parteira disse: “Este vai fazer-se ouvir!”. E fez-se. Fiz-me.
Agora, tantos anos depois, gargalho com vontade. Gargalho da vida, dos dias de chuva e dos dias de sol, das vitórias do Benfica e das sua derrotas que também ensinam, porque não vou em futebóis nem de outras cores.
Gargalho porque aprendi que cada riso é um golo no tempo, um um-a-zero contra o silêncio e contra a solidão. Rir faz-me bem, faço-o bem porque contagio.
E enquanto a chuva cai lá fora, penso nesse jogo antigo, nesse choro primeiro, e neste riso que ainda me empurra para a frente, como quem corre pela ala até ao fim do campo e vejo quem perdeu um tempinho para rir comigo.
Sanzalando
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