7 de outubro de 2025

na noite que amanheceu

Havia, numa cidade perdida entre o deserto e o mar, escondida por uma enorme baía, onde as raras nuvens pareciam descansar nos meus ombros. Nessa cidade vivia eu e mais uma dezena de milhar de gente, nunca contei, mas havia uma menina de olhos curiosos e passos silenciosos que eu amava perdidamente. Todos diziam que ela tinha nascido durante o último nascer do sol que houvera, pois, desde aquele dia, o Sol nunca mais amanhecera ali. Pelo menos para mim.

As noites eram eternas, silenciosas, doridas. Eu vivia à luz das trevas, outros viviam à luz das lanternas e das estrelas, que pareciam se cansar de brilhar nas noites longas da insónia.

Mas eu acreditava que o amanhecer não tinha desaparecido, apenas se tinha escondido na paixão da minha existência..

Certa noite, subi a falésia, no seu ponto mais alto mais alto, levando comigo uma lanterna feita com vidro e carregada de esperança. Lá no topo, encontrei uma pedra onde me sentei e não sei de onde veio uma voz que me disse:

- O amanhecer dorme no coração de quem ainda acredita nele.

Então destapei a lanterna e ela não tinha luz, mas estava carregada de coragem. Como se fosse um sopro,  saiu um fio dourado que subiu ao céu e se espalhou entre as poucas nuvens e despertou o primeiro amanhecer em muitos anos.

Desde então, digo que, quando o Sol nasce muito bonito, é porque ela se lembrou de mim, mesmo contra a sua vontade férrea


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Sanzalando

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