Um dia, um alguém parecido comigo, porém mais velho, no cabelo e na ausência dele, nas rugas não disfarçadas que o tempo esculpiu, te vai aparecer e te vai prometer cuidar como nunca foi capaz de te cuidar. Te vai dar conselhos, de mais velho, te vai abraçar em abraços de calor e protecção. Não te vai dar lições de moral, nem de história e nem vai te estórias de embalar ou enganar. Te vai segurar a tua mão na sua tremula mão e se calhar te vai perguntar tantas coisas e nem vai te dar tempo de responderes. Perguntas atiradas porque estiveram reprimidas dentro dele e num acto de liberdade vão sair em turbilhão.
Algum dia, o mais velho, vai beber contigo um café amargo para evitar doces, te vai fazer rir para evitar lágrimas e te vai cantar canções de amor feliz para não adormeceres.
Vais ver que esse mais velho vai te dizer que sempre esteve contigo, mesmo quando era impossível o veres, porque ele estava longe do corpo físico, a pensar no seu modo de viver, encastelado na sua forma de servir os outros e se esqueceu dele mesmo.
Ele vai-te dizer que nunca mais vai deixar o corpo vagabundear longe do espírito e nem o vice-versa irá acontecer
Depois, de tudo este tremor de terra, esse mais velho vai repousar, sentar ao teu lado só para te ouvir, sem te interromper e até que os olhos se fechem te vai sussurrar que sempre foste a vida dele..
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