Eu queria ser escritor. Desses que dominam o silêncio e o transformam em frases, desses que fazem o papel respirar. Desses que nos levam ao céu ou nos atrapalham na terra.
Mas de todas as vezes que tento, o texto me escapa, como se as palavras tivessem vergonha de mim. Como se elas entupissem de nevoeiro o meu cérebro
Começo bonito: Era uma vez... Mas já tentei de mil outras formas
E logo depois, nada. Um deserto de ideias, seco e branco como a página, como o deserto da minha adolescência que era dourado mas muito seco de verdes ideais.
Eu olho para ela, a folha, o écran, tanto faz, e sinto que ela me encara de volta, esperando algo que nunca vai lá chegar.
Mas eu não tenho nada a oferecer além de vontade. E vontade, descobri, não é tinta, não é palavra nem frase.
Já tentei imitar os grandes. Copiei estilos, ritmos, até a pontuação.
Mas o que saía era um eco, um espelho rachado do que não sou.
Porque, talvez, ser escritor não seja saber escrever, seja não conseguir viver sem tentar.
Então continuo.
Escrevo torto, errado, confuso. Escrevo a minha biografia diária, mesmo sem palavras.
Escrevo com medo, com raiva, com esperança, com alegria ou só palavras sem sentido
E quando releio, ainda acho mau.
Mas há um instante — pequeno, invisível — em que alguma frase parece me entender.
E nesse instante, sou escritor.
Mesmo que ninguém leia.
Mesmo que eu não o saiba ser.
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