25 de outubro de 2025

e ela disse que não

Eu tinha se calhar uns 15 anos e a autoconfiança de um pão duro e seco. Estou a falar de memória porque os anos que atropelaram o acontecimento são mais que uma tonelada deles.
Mas um dia, decidi que iria me declarar a ela, a garota mais linda que o meus olhos tinham visto e o meu coração borboletara que nem ataque de amor súbito e dona do sorriso que fazia que fazia lembrar o famoso quadro guardado lá no Louvre de Paris, que fica em França e não a do Texas que eu vim num cinema.

Como era no século passado eu resolvi fazer do jeito moderno: serenata cantada com o fervor da balada, que só por mero acaso era protestativa mas eu não sabia. Nem o dono da viola nem os donos da voz. Era só linda e ela merecia, aos meus olhos pelo menos.
Eu achei que foi perfeito.

Tudo decorria como o que tinha sido planeado. Primeira música eram os Vampiros, segunda o venham, mais cinco. A terceira não houve porque o pai dela veio na janela e correu com a gente.

Eu tinha a certeza que com esta cena toda ela se apaixonaria instantaneamente, se é que já não estava.

Passaram-se alguns dias, as minhas mãos suavam, o meu coração batia a mil, ou pouco menos que não parei para contar, e lhe comecei a falar, primeiro da serenata que mais parecia ter sido um Concerto de baladeiros de tantos que nós éramos, depois falei-lhe do meu amor. Mas acho aquilo parecia um plágio de qualquer aula de português com os versos de Camões.

E ela disse que não. Redondo e taxativo. O teto veio a baixo, o chão fugiu dos pés e o piano mental desafinou de tal forma que nunca mais foi a nenhum concerto. Desencantei-me até que ao dia que fiz um backup, coisa moderna de dizer que esqueci numa pen drive dum canto do cérebro.


Sanzalando

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