Talvez não a reconhecesse. Ou talvez a reconhecesse antes mesmo de terminar de lhe olhar. Um gesto da cabeça, o modo solto do cabelo, a pausa entre palavras ou outra coisa qualquer.
Há coisas que o tempo não apaga, apenas cobre com poeira fina, assim parece penugem de tempo.
Lembro dela na luz do fim da tarde, o sol a atravessar o quintalão que nos separava, o ar distraído da varanda onde nos víamos diariamente. Disse que voltava logo. Nunca mais voltou.
Durante anos, sonhei. Depois, aprendi a esquecer o tempo. Ou pensei que tinha aprendido.
Hoje, ao atravessar a rua, vi uma mulher de cabelos prateados, sentada no banco do passeio, a olhar os pombos. Senti o coração tropeçar numa pirueta seguida de estatelado e admiração conjunta..
E se fosse ela?
Não fui até lá.
Há encontros que só fazem sentido enquanto permanecem possíveis.
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