Era uma vez um menino, que por acaso até que era eu, que adorava aventuras, desde que não fosse longe de casa nem metesse matos e coisas complicadas de fazer medo.
Morava numa cidadezinha de poucas subidas e ruas quadriculadas. Um dia, sem dinheiro para mais, comprou uma bicicleta vermelha que se calhar quando era nova era brilhante, porém agora era um vermelho morto. Fora essa cor, fora não ter travões eu achara ter feito um belíssimo negócio. Acho foi o primeiro e único da vida. Assim sem consultar nem pedir conselho. Mas na verdade eu ficara tão feliz que nem nunca mais se lembrou dum detalhe muito importante… a bicicleta não tinha travões!
No começo, pedalava devagar, só para sentir o vento bater na cara e receber o vento da liberdade de movimento, mas também ver o mundo passar ao meu lado. Mas quanto mais andava, mais coragem ganhava, mais longe eu ia.
- Eu sou o ciclista mais rápido da minha casa! gritava, pedalando. Na verdade era o único.
Um dia, resolvi ir até na Torre do Tombo. Coincidência ou talvez só destino foi o dia em que deu um trambolhão que deixou marcas no corpo e na alma. Descer a maior descida da cidade, a SOS. A rua parecia uma montanha de tão inclinada. Respirei fundo, e quase dava a volta para casa, mas a coragem me empurrava para a ousadia. Pés nos pedais e… VOOOOM! A bicicleta disparou como um foguete, ganhou velocidade que não entrava nos meus problemas de matemática.!
De início comecei a rir, mas logo o riso virou susto, pânico, medo, pavor e sei lá mais o quê.
- Como é que eu paro?! gritei, com os olhos arregalados e a esperança de que o vento saído dos meus gritos travassem a descida vertiginosa que eu estava a viver.
Não passou ninguém, ninguém ouvia os meus gritos. Eu gritava. Aqueles cem metros deram para eu ver que a minha vida tinha sido curta. Como é que eu paro isto, continuava nos meus gritos a plenos pulmões.
- Se eu pudesse vendia já esta bicicleta! como se isso fosse uma maneira de recuar no tempo e não ter iniciado a descida.
Passei os carris do comboio e imaginei dar um mergulho na baía saltando o passeio e os hexágonos e calhaus de protecção do mar. Mas eu ia bater no lancil e espalhardar-me ali.
- Que é que me deu na tola? pensei já sem forças para gritar e quase a desmaiar de medo
Tentei usar os pés no chão para travar, mas os sapatos só faziam parecer que eu acelerava. A bicicleta continuava a correr rápida que nem eu sentia mais o vento!
Quando chegou ao fim da descida… lá estava a marginal, virei à esquerda e acho só parei quando abri os olhos na cancela que vedada a entrada no porto.
Eu era pânico em todo o meu corpo.
- Porque é que não puseste o pé no pneu de trás para travar? disse-me o guarda na maior das calmas. Eu devia ser o mais branco que ele alguma vez tinha visto. Eu tremia quando balbuciei:
- Pôr o pé onde?
Ele levantou-se, veio ao pé de mim, agarrou o meu pé direito, dobrou-me o joelho, e o meu pé tocava na parte da frente do pneu de trás.
- Hã?! estupefacto consegui dizer
- Eu te vi. Te borraste de medo e não caíste porque deves ser filho de Deus. Deste a curva em zigue-zagues que nem sabes que sorte tens. sempre calmo a me dizer.
Agradeci, ou não. Sinceramente não sei. o pânico era tanto que voltei a casa sem me sentar na bicicleta nem pôr os pés nos pedais. Acho ela esteve uns meses parada até que a minha mãe a deu a já não sei quem.
Sem comentários:
Enviar um comentário