27 de novembro de 2025

O Grande banho da Marginal


Era um daqueles dias quentes em Moçâmedes, em que até as lagartixas, osgas e carochas procuram uma sombra. Eu, todo animado, decidi que nada melhor do que um mergulho na Marginal para refrescar a cabeça. Calcei as minhas chinelas, que mais tarde soube chamarem-se as havaianas mas naqueles tempos eram simplesmente chinelos de plástico, já meio gastas para não queimar os pés no asfalto quente que até parece derrete.

Quando cheguei, o mar brilhava bonito, mas as ondas estavam com uma energia que parecia ter bebido café forte! Cheio de coragem, pensei:
- Hoje eu mostro quem manda aqui! Tirei a camisa, larguei os chinelos, corri, preparei um salto tipo mergulho olímpico e... parei.  A onda parecia esperar mas zás, rebentou nas pedras e caiu como chuveiro sobre mim. Olhei o mar e pensei ele me tinha vencido. Eu não mando nada aqui..

- Só queria cumprimentar o mar - disse, tentando manter a dignidade enquanto um grupo de miúdos ria ali perto.

Não satisfeito, tentei de novo. Entrei devagarinho, calculando a maré, não escorregando nas pedras e afundei o meu corpo para fora da zona pedregosa. Respirei fundo mas assim num de repente fui atirado por outra onda desprogramada contra as pedras, hexágonos e assim ligeiramente esfolado olhei surpreendido com o boiar das minha chinelas que mais tarde eu ia saber eram havaianas irem mar fora. Elas se aguentaram no mar e eu atirado para as pedras. Elas não queriam ia à agua. Mundo contrariado.

Enquanto os miúdos, que se tinham aproximado, gritavam:
— Tio! As tuas sandálias são mais rápidas que a tua natação!

Ri com vontade de chorar e com a camisa, que sobrara porém enxarcada, caminhei para casa num andar tipo saltinhos para demorar menos tempo cada pé no chão.

Mas a verdade é que, apesar das quedas, das ondas teimosas e das sandálias fujonas… sai dali com um sorriso, andar novo e com a lição que mergulhar na marginal não era boa ideia, antes na praia que era ali tão perto. Porque banho na Marginal de Moçâmedes é assim mesmo: se não cair, não valeu!



Sanzalando

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