Era um daqueles dias quentes em Moçâmedes, em que até as lagartixas, osgas e carochas procuram uma sombra. Eu, todo animado, decidi que nada melhor do que um mergulho na Marginal para refrescar a cabeça. Calcei as minhas chinelas, que mais tarde soube chamarem-se as havaianas mas naqueles tempos eram simplesmente chinelos de plástico, já meio gastas para não queimar os pés no asfalto quente que até parece derrete.
- Só queria cumprimentar o mar - disse, tentando manter a dignidade enquanto um grupo de miúdos ria ali perto.
Não satisfeito, tentei de novo. Entrei devagarinho, calculando a maré, não escorregando nas pedras e afundei o meu corpo para fora da zona pedregosa. Respirei fundo mas assim num de repente fui atirado por outra onda desprogramada contra as pedras, hexágonos e assim ligeiramente esfolado olhei surpreendido com o boiar das minha chinelas que mais tarde eu ia saber eram havaianas irem mar fora. Elas se aguentaram no mar e eu atirado para as pedras. Elas não queriam ia à agua. Mundo contrariado.
Enquanto os miúdos, que se tinham aproximado, gritavam:
— Tio! As tuas sandálias são mais rápidas que a tua natação!
Ri com vontade de chorar e com a camisa, que sobrara porém enxarcada, caminhei para casa num andar tipo saltinhos para demorar menos tempo cada pé no chão.
Mas a verdade é que, apesar das quedas, das ondas teimosas e das sandálias fujonas… sai dali com um sorriso, andar novo e com a lição que mergulhar na marginal não era boa ideia, antes na praia que era ali tão perto. Porque banho na Marginal de Moçâmedes é assim mesmo: se não cair, não valeu!
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