A inteligência artificial entrou devagarinho na vida, como quem não quer incomodar. Primeiro foi o tal de relógio que contava passos que eu dava por dia; depois, a app que avisa quando o coração bate mais rápido do que devia. Só falta mesmo ele desatar a conversar comigo como a querer fazer-me companhia quando eu quero estar sozinho....
Mas há dias em que eu sinto falta da conversa verdadeira. A máquina pode responder a tudo, mas de certeza que não me vai responder se eu fizer a pergunta mais importante: Já amaste alguém?
Eu sei que a voz é apenas um conjunto de algoritmos, frios e precisos. Falta-lhe o calor das histórias que só a inteligência natural, a humana pode construir com as lembranças, cheiros e afectos, as dores e as perdas.
Enquanto preparo um chá de caxinde, capim ou príncipe, que é tudo o mesmo chá, penso no quanto aprendi com o tempo: a distinguir o riso, aquele que vem sincero do sincero e do que vem do educado, o silêncio de quem escuta ou do silêncio de quem se cala. Nenhum algoritmo conhece esses segredos, tem essa sabedoria porque a sabedoria da vida, essa, não se programa.
E, no entanto, há algo bonito nesta convivência entre o velho e o novo. A máquina ensina-me a não me perder nos horários e eu ensino a máquina, ainda que ela não entenda, o que é ser gente.
Afinal, a inteligência artificial pode até prever o tempo, mas é a natural que sabe quando é hora de abrir ou fechar a janela.
Na verdade, continuarei, tal como até hoje, a usar a minha percentagem natural de inteligência artificial.
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